XIII

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Voltar para casa depois dos acontecimentos foi como sair da Terra do Nunca, onde ele tinha certeza ser um lugar onde poderia agir de maneira despreocupada. Na vida real e em sua casa, Taehyung tinha que lidar com a estranha sensação de que estava vendo sua vida ser como um trem desgovernado.

Não. Não um trem desgovernado, e sim um trem com um maquinário ambicioso que não estava escutando os passageiros. Havia um passageiro mais importante, aquele que iria morar no lugar que o trem estava indo e só dependia do transporte para chegar até lá. Supostamente, esse lugar seria onde o passageiro viveria feliz. No entanto, o passageiro mudou de ideia e queria ir por uma rota diferente.

Ele só precisava impedir o maquinário de guiar o trem. O que era impossível, pois o maquinário não escutava ninguém na sua cabine.

O passageiro queria poder gritar aos pulmões para que pudesse ser ouvido, porém, ao invés disso, ele traçou um plano melhor. Era arriscado, era como pular do trem em alta velocidade...

Mas seu destino tinha uma cama amortecedora para quando pulasse dali.

— Filho?

Felizmente era a voz de seu pai quando passou pela sala de estar, caminhando até seu quarto de maneira cansada. Precisava tomar um banho para tirar o cheiro que provavelmente estava impregnado em suas roupas, pelo tanto de tempo que passou abraçado ao Jeongguk. Já sentia falta dele.

— Sim, pai? — Parou próximo ao Kim mais velho. Felizmente seu pai era beta, ele não sentiria o cheiro de Jeongguk.

— Você está bem?

Ali estava a pergunta que quase nunca recebia na sua vida, principalmente dos pais. Não lembrava de nenhum momento que sua mãe tivesse perguntado, ao mesmo tempo que seu pai era tão ausente que não conseguia distinguir qual era seu estado "bom". Por isso a pergunta o pegou de surpresa; mas pelo menos conseguiu ver que o beta estava genuinamente preocupado.

O homem tinha traços suaves, assim como Taehyung. Ele gostava de pensar que eram mais parecidos, embora tivesse muitos traços com a mãe também. No fim de tudo, não era importante para o ômega. Sua família seria a última coisa que pensaria.

— Sim, pai. Só um pouco cansado — respondeu, o que não era mentira. Estava bem. Jeongguk tinha se declarado, ele tinha se declarado. Eles queriam ficar juntos, estava mais do que bem. Além de querer ir correndo tomar um banho, também queria contar tudo a Yoongi o que tinha acontecido.

— Preparar o baile é cansativo, não? Eu suponho — Taehyung quis fazer uma careta. Então sua mãe realmente estava seguindo com a ideia do baile... — O que foi? — O beta perguntou ao notar o rosto descontente do filho.

— É que... — Por mais que sentisse que seu pai não iria julgá-lo, Taehyung ainda não tinha certeza do que dizer. Poderia ser pior. — Nada não, pai.

O Kim mais velho permaneceu onde estava, sentado com um livro e chá ao lado enquanto analisava o filho. Taehyung realmente agradeceu aos céus, pela milésima vez, o fato de ele ser um beta. Uma versão beta era algo que Taehyung achava bastante positivo; talvez sua vida iria ser muito mais fácil se fosse um beta também.

— Você não parece contente com o baile.

Suspirou, indo sentar-se na poltrona na frente do beta. Sua mente estava uma bagunça e pensava em tudo o que faria nos próximos dias, quase deixando-o ansioso. O único pensamento que o acalmava era Jeongguk — "nós vamos à praia", "vamos ficar juntos", "vou tornar você meu ômega, e serei o seu alfa". Inconscientemente pegava-se segurando seu medalhão de baleia, um presente que nunca ficou longe de si. Porém, naquele momento, ele estava sem o adereço.

Um pouco antes de ir embora, o alfa e ômega fizeram uma pequena promessa de que iriam se encontrar para ficarem juntos. Taehyung deu seu colar para Jeongguk, enquanto este lhe deu uma das conchinhas mais preciosas que levava para todos os lugares. Ela estava no bolso direito de Taehyung, que impediu-se de segurá-la porque seu pai estava ali e ele sabia muito bem que essas conchas só tinha nas praias que nunca esteve.

Por outro lado, embora estivesse um tanto quanto receoso com o pai, ele não conseguiu deixar de perguntar:

— Pai, você já se apaixonou?

Era uma pergunta que soaria idiota, considerando a circunstância de pai e filho. No entanto, ambos sabiam o que aquilo significava — o casamento de Vera e Woosung não era a coisa mais apaixonante do mundo; e o pai parecia saber que o filho também sabia disso. Não precisou de palavras para confirmar, ele optou por dizer outra coisa.

— Alguém está em seu coração e pensamentos? — perguntou suavemente, ao que Taehyung confirmou levemente envergonhado. Woosung sorriu quase triste, mas genuíno. — Você é um adulto e sabe onde está se metendo, filho. Faça o que tem que fazer.

O porto da baleia | tae.kookOnde histórias criam vida. Descubra agora