doze

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Então, Emma, vamos falar sobre o meu medo de escuro.
E, também, do dia no qual precisei de você.

Vamos começar pelo início.

Quando eu era criança morava com minha mãe, e o meu padrasto.
Minha mãe era legal, e cuidava muito de mim. O meu padrasto era um homem gentil, alegre, e gostava de mim.

Porém, em um dia foi diferente.
O dia que lembro-me perfeitamente.

Era um dia chuvoso, e frio.
Àqueles dias nos quais precisávamos nos aquecer com lareira, vestir um moletom, e tomar chocolate quente.

Na minha opinião, esse não foi um dia legal.

Então, quando deu por volta das duas da tarde, minha mãe me deu um beijo na testa, e avisou que iria sair.
Meu padrasto, por sua vez, algumas horas depois, me deu uma xícara de chocolate quente, e avisou que iria sair.

Eles saíram, e me deixaram sozinho em casa.

Para um garoto de nove anos, parecia legal ficar sozinho em casa.
Eu poderia fazer o que quiser, certo?

Porém, não fiz nada.
Me limitei em ligar a televisão, e assistir alguns desenhos.

Passaram-se horas, e eles não haviam retornado.

Quando deu por volta, das 9 da noite, comi cookies, e bebi leite quente, esperando pelo sono vir.
Um tempo depois, escovei os dentes, arrumei o travesseiro, juntamente com o cobertor, e me deitei na cama.

Na minha cabeça passavam várias coisas.
Entretanto, eu precisava dormir, porque quando fechávamos os olhos, íamos para outro mundo.

E, sinceramente, eu queria ir.

Durante um tempo, rolei na cama, buscando pelo sono.
E, infelizmente, ele não veio.

Ainda escutando à chuva forte lá fora, me levantei, caminhei até à sala, e reparei que eles ainda não haviam chegado.

Qual era o problema?

Peguei o controle da televisão, colocando em um filme qualquer.
Com isso, me deitei no sofá, cobrindo o meu corpo com o cobertor aconchegante.

Eu juro, juro que tentei fechar os olhos, e dormir.
E, de novo, não consegui.

De repente, tudo se apaga.
A televisão, às luzes, o porte da rua...

Naquele momento, eu tremi.

Toda energia estava apagada.

Respirando fundo, cobri o meu corpo, o meu rosto com o cobertor, e fechei os meus olhos fortemente.

Sabe, o escuro é tenebroso, pelo motivo de:
Não sabemos o que está ali, porquê não conseguimos ver.
Não há luz, ou algum brilho, só há escuridão.

O escuro é um breu, um apagão.

Então, foi bem parecido, Emma.
Parecido com àquele dia.
O dia em que iremos falar, agora.

Era mais um dia no qual, eu trabalhava, mandava mensagens para você, trabalhava mais, tomava o meu café, pensava em você, e trabalhava mais.
No final do dia, eu só pensava em dormir.
Então, por volta das 8 horas da noite havia acabado o meu turno, e então, segui até em casa.

Chegando em casa, tirei às roupas, e adentrei no chuveiro quente.
Minutos depois, vesti um moletom, peguei uma xícara de chocolate quente, liguei à televisão, e disquei o seu número.

E, de repente, ficou tudo escuro.
Não havia luz alguma.

Com minha respiração falha, torci para você atender o seu celular.

Emma, eu estava apavorado.

Minutos depois, você atendeu, com uma voz sonolenta.

- Josh?— Murmurou.

Engolindo em seco, ofegante, balbuciei:

- Não tem energia.

Você bufou do outro lado da linha.

- Já vai voltar, Carson.— Suspirou. - Vai dormir!

Emma, eu precisava de você.

- Não consigo.— Murmurei, envergonhado.

Escutei um suspiro tedioso.

- Por quê? — Indagou.

- Não gosto do escuro.— Suspirei, me acalmando.

Você se limitou em dar uma risada abafada, desacreditada.

- Por favor, Josh...— Suspirou. - Acredito no seu potencial.— Sua voz saiu em tom de ironia.

- Mas...— Tentei.

- Josh, querido, vai dormir. Estou cansada, e com dor de cabeça.— Escutei sua linha falhando. - Boa noite!

Dito isso, você desligou o aparelho.

Emma, todos nós usamos máscaras todos os dias, em todos os segundos.
Você tinha sempre às melhores.

Querida, você usava máscaras todo o tempo, porque você não gostava de se mostrar.
As máscaras escondem o nosso "eu" verdadeiro, e os nossos piores segredos.

Então, Emma, eu também usava uma máscara.
Uma máscara que me cegava em relação à você.

Eu tinha medo do escuro pela mais importante razão:
O escuro era um breu, e ele era infinito.

Esse foi mais um dos motivos pelos os quais me ferrei:
Me apaixonei pelo meu pior medo, e eu nem se quer, corri, ou me cobri com o cobertor.

Querida, você era o escuro, o breu, e o inexplicável infinito, que ninguém poderia ver além, porque era assustador.

The Pierce Of Heaven Onde histórias criam vida. Descubra agora