Prólogo

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O guerreiro assistiu tudo o que conhecia queimar, viu as chamas silenciosas lamberem as bases do que um dia havia sido a sua morada. Ele sabia que aquela era uma batalha perdida, soube no momento em que os números do exército sobrepujaram os guerreiros de sua tribo. No entanto, uma coisa era certa: ele não tinha medo. Todo o seu corpo se encontrava aceso com o ânimo da batalha, a expectativa de defender suas origens, ainda que estas agora não passassem de pó e cinzas. O Rei montado em sua fera negra cuja urro cruel ecoava pelas árvores ancestrais deu a ordem para avançar.

O embate se iniciava.

Sorrindo, ele apertou mais a lâmina curva em sua mão, lançando-se contra o batalhão em um impulso de sangue e ferocidade.

Sorrindo, ele sentiu o líquido espirrar no couro de sua armadura enquanto furava a defesa e se encontrava cara a cara com o algoz responsável por toda aquela matança. 

Sorrindo, ele lutou. Lutou e foi vencido. Ainda assim, não esmoreceu, porque sabia que havia tomado a decisão certa. Experimentou um puxão por aquele fio que os unia e constatou satisfeito que o outro estava a salvo. Deixou os olhos se fecharem e escorregou para os braços estendidos da morte dos quais outrora já havia escapado.

Ao longe, um uivo poderoso tomou os céus enquanto o fogo explodia ao seu redor. 

Com um último pensamento grogue, ele temeu. Com um último vislumbre, achou que aquilo era a coisa mais bela que já havia visto.

Então a terra estremeceu e nada mais pareceu importar. 

Aquele som denotava o fim de tudo que já havia conhecido.

Aquele som indicava o fim de uma era.

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