A verdade é um fio em chamas

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Não era a primeira vez que Bakugou tinha aquele sonho.

Ele lembrava como se fosse ontem o primeiro momento quando aquele pássaro em chamas havia aparecido para si aos seus dez anos em seus sonhos. Com um sopro de vento e uma lufada quente, ele surgia das cinzas de sua tribo destruída e o fitava com olhos rubros penetrantes. Bakugou o chamava de pássaro pois tinha longas asas se abrindo nas laterais, mas sua silhueta era sempre enorme demais para se absorver por completo. Em meio a terra desolada por fogo e sangue, o pássaro lhe falou:

- Bravo guerreiro, é seu destino evitar que isso aconteça.

Com o coração apertado e o grito que não conseguia expressar ecoando em seus ouvidos, Bakugou caiu de joelhos no solo queimado, as árvores ao seu redor não passando de meras cascas silenciosas, a floresta perdida em suas vozes sábias, sem mais conselhos, sem mais vida.

- Como? Apenas me diga como eu posso evitar que aconteça?

- Você precisa encontrar o artefato e despertar o último adormecido. Só ele poderá evitar esse futuro e só você pode encontrá-lo. Quando o fizer, proteja-o com a sua vida.

- Mas...

O cenário mudou. O chão desapareceu sob seus pés, dando lugar a uma tempestade de escuridão que o puxava por todos os lados. O vento rodopiava ao seu redor e todo o seu corpo se contraia de dor, seu coração batendo com tanta força que ele considerou se este estava prestes a explodir. Caindo na escuridão sem fim, ele sentiu a desesperança tomar conta de si, sugando cada grama de coragem e força que possuía.

- Eu não posso.... Não consigo impedir, não consigo vencer... - Doía admitir sua fraqueza, logo ele que era tão confiante em suas habilidades, tão certo em suas escolhas; no entanto, aquela era uma batalha grande demais e ele sabia que mesmo doando seu sangue e alma, ainda assim não seria o suficiente.

Os olhos rubros lhe encararam, pacíficos, mas duros em meio ao caos. Algo neles lhe dizia que eram velhos demais para aquele mundo, algo sua forma denotava uma tristeza profunda de muitas eras. Bakugou se sentiu pequeno e insignificante, apenas uma mera peça no todo imensurável que era o plano do Universo. Ele não sabia se queria fazer parte dele, e mesmo assim uma parte sua lhe dizia que não tinha escolha. Ele lutou para se libertar, lutou por todos de sua tribo e lutou por si mesmo. Se havia algo que não suportava eram covardes que desistiam ao menor sinal de perigo.

- Use isso por enquanto, um dia essas marcas vão salvar sua vida.

Então a grandiosa criatura estendeu uma de suas garras e as cravou em seus ombros, fogo percorrendo o local, queimando na pele marcas na forma de escamas. Katsuki gritou, a dor e o cheiro da própria carne incendiada lhe causando ânsias.

- Encontre-o - a voz sussurrou na escuridão que sempre acompanhava sua queda, ecoando pelo espaço vazio acima de seus gritos ásperos. - Encontre-o.

Naquele dia ele acordou assustado, a lembrança ainda fresca na memória da voz em chamas e a sensação insubstituível de que deveria encontrar algo. No meio da noite ele fugiu e quando retornou até mesmo sua matriarca boquiabriu-se ao ver as escamas marcadas em suas costas, porém, apenas um olhar em seus olhos foi o suficiente para que ela entendesse que aquilo não era uma brincadeira nem mesmo um aviso de rebeldia, e sim algo muito maior do que eles. Em sua tribo era assim que as coisas funcionavam: quando os deuses falavam, você parava para escutar.

Se Katsuki deveria buscar algo, ele treinaria para isso, batalharia até que seu corpo cedesse além da exaustão e então muito após. Se ele deveria salvar a todos e impedir uma grande catástrofe, ele resistiria e se tornaria muito mais duro e feroz do que qualquer um poderia esperar. Se ele estava destinado a encontrar aquilo que seria sua única esperança, partiria em sua busca e assim o faria.

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