O campo de papoulas

586 98 92
                                    

— Uau, você tem olhos lindos.

Não era bem a resposta que Katsuki esperava. Não quando segurava uma lâmina deveras afiada e estava a um passo de separar a cabeça do outro do corpo.

— Eu perguntei quem diabos é você.

— Oh, sim, lamento. — Ele tentou se aprumar, mas foi empurrado novamente contra o pedestal. Bakugou não cederia só porque a expressão dele o lembrava de um animal inocente encurralado. Um beicinho emburrado se formou naquele rosto estupidamente bem delineado. — Sou o Kirishima. Eijirou Kirishima. E agora que sabe disso poderia fazer o favor de me soltar?

— Não tão rápido, Kirishima. Tenho outras perguntas que precisam de respostas. Como chegou aqui? Onde está o dragão? E o que foi aquilo?

— Eu sempre estive aqui — respondeu com grande seriedade. — E me diga você o que foi aquilo, foi culpa sua afinal. — Bakugou recuou como se houvesse sido atingido.

— Não foi culpa minha!

— Não vejo mais ninguém aqui que achou genial profanar uma caverna sagrada e mexer em algum tipo de objeto que com certeza deve estar carregado de alguma maldição explosiva. — Ele revirou os olhos teatralmente, o vermelho tão feroz quanto a pedra no cajado. — Então sim, a culpa foi sua.

Tsc — Foi o máximo que conseguiu retrucar, as palavras lhe escapando como areia por entre os dedos. Pelos deuses, ele era Bakugou Katsuki, e não ficava sem palavras!

O estranho – Kirishima – prosseguiu, satisfeito pelo efeito provocado.

— E quanto ao dragão, bom, está olhando para ele nesse exato momento.

— Você? Dragão?

— Meio — o garoto corrigiu com um sorriso, expondo os dentes pontudos e muito brancos.

— Como alguém pode ser só meio dragão? — demandou.

— Sendo, oras!

Bakugou bufou, exasperado.

— Não tenho tempo para isso agora! Onde está o artefato?

— Quer dizer tirando a parte em que ele explodiu em mil pedacinhos? Você continua olhando para ele. Aliás, isso é mesmo necessário? Você me libertou, logo eu não irei te atacar.

A imagem do cajado explodindo, a forma reptiliana que havia visto sair dele e então esse garoto estranho afirmando ser meio dragão, os pontos começaram a se ligar em sua cabeça. Ele tinha olhos rubros e profundos, ardendo em chamas contidas e perigosas, tão parecidos com a pedra que encimava o cajado... Só então ele se deu conta que o artefato que estivera buscando com tanto afinco e esperança era aquele meio-dragão. O choque da realidade o fez retroceder, perplexo demais de que tudo havia acabado de tal modo.

— Vamos todos morrer — foi o que conseguiu resmungar para si mesmo, a sensação de derrota impregnando-se amargamente em cada parte do seu corpo. Pai, mãe, eu falhei, pensou arrasado.

— Perdão? — O garoto recuou, afastando a lâmina com a ponta dos dedos, o rosto franzido. Bakugou permitiu, abatido demais para se importar. Em menos de um segundo todos os seus planos de batalha e imagens da vitória haviam ruído por completo. — Isso é grosseiro, sabia? Seus pais não te ensinaram a ser educado com as pessoas que acabou de conhecer?

— Educação não ganha guerras — E porque o tom avermelhado e muito vívido era por demais irritante, ele acrescentou: —, cabelo de merda. E dragões mestiços definitivamente não o podem fazer. — Abandonou a posição de ataque, deixando Kirishima caído onde estava e pôs-se de pé, dando meia volta e marchando a passos duros de volta para a única entrada/saída disponível. — Mas que porra! Eu esperava que o artefato fosse a resposta, eu pensei que podia mudar tudo com ele. E agora, agora não há nada que eu possa fazer. — O punho atingiu a parede rochosa antes que o jovem dragão pudesse impedir.

TranscendentalOnde histórias criam vida. Descubra agora