CAPÍTULO 4

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4.




— O gato comeu sua língua? – O dono dos olhos intensos diz, e é preciso um sacudir de cabeça para que eu possa finalmente acreditar em que os meus olhos veem.

SÃO IDÊNTICOS!

E SÃO PRÍNCIPES!

Mas ainda assim tão diferentes!

O primeiro tem o olhar sereno e tranquilo, bondoso até. Seus trajes azul-escuros destacam seus olhos azuis. Ao contrário desse segundo, vestido todo de preto, cabelos levemente emaranhados, sua postura séria e sisuda diz que ele não é tão amigável quanto o irmão.

E eu não estou nem um pouco afim de descobrir se é ou não coisa da minha mente.

— Com sua licença, não gostaria de continuar a dançar com o senhor... – Tento me afastar dele, mas sinto ele segurar um pouco mais firme em minha cintura, trazendo-me para mais perto de si.

— Vai dançar comigo sim, até que eu a libere, senhorita. – Ele sopra seu hálito morno em rosto e me encara de cima, por ser um pouco – bem mais – alto que eu.

— Não pode me obrigar a fazer algo que não quero. – O de olhar intenso abre um pequeno e charmoso sorriso, que me faz querer bater com uma das panelas da cozinha nele, de tão bonito que é.

Uma verdadeira afronta a sociedade desprovida de toda essa beleza.

O que deu em mim?

Não costumo ser tão arredia ou agressiva assim com desconhecidos, mas esse homem...

Grrrrr.

— Não pareceu estar querendo fugir quando seus olhos encontraram os meus. Não é mesmo?

— O senhor é muito inconveniente, não acha? Prefiro o vosso irmão. – Declaro, vendo-o travar a mandíbula e me apertar um pouco mais em seus braços.

Mas o que...

— Ao que parece gostou do meu irmão. – Constata de imediato.

— Um legítimo cavalheiro, ao contrário de você. – Rebato, sem me atentar ao fato de ele ser um príncipe e estar dentro do seu castelo.

Por Deus! Eu posso ser morta!

Controle a língua, Mali! – Digo a mim mesma.

— As aparências enganam, minha cara. – Uma mecha solta-se do penteado e sopro para cima, tentando fazê-la sair dos meus olhos.

O príncipe de cabelos negros e olhos felinos, perigosamente azuis, para nossa dança, bem no meio do salão, pega a tal mecha e a coloca atrás da minha orelha, tocando por um centésimo de segundo minha nuca, seus dedos quentes roçando meu pescoço brevemente foram o suficiente para eu desviar o olhar e ouvir sua risada baixa e gostosa.

— Apreciando a vista? – Pergunta com o sorriso ainda grudado na cara de pau mais bonita de toda a história.

Meu bom Jesus, me ajude. Por favorzinho.

— O que...

— Não parece gostar tanto dele assim, senhorita. Acredito que precise rever seus conceitos sobre gostar. – Dizendo isso ele sai, dando as costas para mim, na troca de parceiras, dançando dessa vez com a mãe – a rainha Hera.

— A senhorita me dá a honra dessa dança? – Viro-me novamente para o dono da voz e encontro um homem alto de vestes reais.

Hoje poderia ser considerado meu dia de sorte, ou de azar, se olharem bem pelo meu ponto de vista.

Sem Ela [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora