Vinte e dois

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Anastácia

Ir até o calabouço foi difícil, Cacíano não queria permitir que eu fosse ver Alef, mas eu precisava.

Desci até a cela de Alef, eu carregava uma cesta com uma refeição para ele. Quando chego, o vejo no chão, com o rosto entre as pernas.

- Alef? - Ele me olha e fecha os olhos por um instante.

- Esse não é lugar para donzelas. - Diz. Ele levanta e se aproxima. - Seus olhos estão inchados.

- Trouxe isso a você. - Mudo de assunto e estendo a cesta para ele. - Eu sei que o que fez foi cruel, mas, não deve ficar com fome.

Ele olha para a cesta e a pega.

- Há algum tipo de veneno aqui? - Diz olhando atentamente para os frutos e pães.

- É claro que não. O que pensa que sou? - Respondo.

- Não duvido que meu pai tenha lhe mandado para fazer o serviço sujo. - Ele joga a cesta no chão. Meus olhos se enchem novamente.

- Você é tão insensível! Faço uma refeição com cuidado para você e é isso o que faz? - E, sem perceber, eu estava aos prantos. A expressão dele muda rapidamente.

Saio correndo dali, deixando Alef sozinho novamente.

Eu não desisti, vou continuar tentando.

No dia seguinte, preparei pão e colhi frutos para Alef. Pus em uma cesta e fui para o calabouço do palácio, de novo. Chegando lá, vejo que os pães e frutos do dia anterior, não estavam mais no chão e nem em lugar algum. Alef estava deitado, seguro a grade da cela e a observo mais um pouco. Tudo estava sujo e cheirava mal. Ninguém merecia aquilo.

Vejo ele abrir os olhos, e se assustar ao me ver. Ri por um breve momento.

- Você não desiste? - Diz e se aproxima.

- Não. - Mostro a cesta para ele, depois entrego. - Pães e frutos, novamente.

- Agradeça ao padeiro que fez os pães. Eles são maravilhosos. - Dei um sorriso. Ele come o pão, depois, deixa a cesta no chão.

- O casamento real será sábado. Estão todos ansiosos. - Digo feliz por minha irmã.

- Não quero saber de casamento real. Eu salvo a futura rainha e sou condenado. - Ele encosta na grade, estava bem próximo a mim.

- Anelise me contou os seus motivos de fazer o que fez.

- Ah, é? E por quais motivos eu traí minha família e sequestrei a donzela?

- Poder, coroa, respeito e Anelise. Seu irmão tinha tudo o que você não poderia ter. - Ele me encara furioso. Senti uma pontada de medo, mas, ergui o queixo e dei de ombros.

- Realmente. Era tudo o que eu queria ter. Menos Anelise. Gostei dela sim, mas, eu não a deixaria durar durante o governo de Aurora. Ela é honesta demais. - Me doía ouvir que ele gostava de minha irmã.

- Você... ainda sente algo por ela? - Pergunto.

- Não. Achei que sim, mas não. - Fiquei aliviada em ouvir aquilo.

Ele se aproxima de mim, muito. Bem mais do que qualquer homem teria se aproximado de mim. Me afasto.

- Tenho que ir. - Vejo ele dar um sorriso e vou embora.

Eu visitava Alef todos os dias. Nós conversávamos por uns instantes, e, todas às vezes em que ele tentava se aproximar de mim, eu hesitava e fugia. Apesar de eu amar Alef, sei que uma aproximação agora seria perigosa. Eu sei que ele não se arrepende pelo que fez.

A Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora