Capítulo 4

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Após responder André, Anna percebeu que estava relativamente cansada, devido à viagem e em parte também pelo medo do que seu antigo rolo poderia fazer. Então, antes que sua cabeça fosse consumida por pensamentos, deitou-se na cama e, em dois minutos já estava cochilando. Horas depois, quando já eram umas seis da tarde, acordou perdida, daquele jeito sem entender o que está acontecendo quando se acorda após uma longa soneca ao entardecer.

Levantou-se e comeu uns biscoitos que levou dentro da bolsa. Sempre levava lanchinhos durante suas viagens, que quase nunca comia durante o trajeto em si, já que aproveitava os snacks oferecidos pelas agências de avião, mas sabia que quando chegasse ao local de destino, estaria morrendo de fome e cansada demais para sair para comer em algum lugar, além de ser mais econômica tal estratégia.

Depois, resolveu tirar todas suas roupas da mala. Havia deixado a maioria de suas roupas de frio e botas na casa de sua mãe, ainda bem, já que seriam desnecessárias em sua nova e litorânea cidade. Começou dobrando alguns shorts, guardou suas calças, pendurou algumas blusas mais arrumadas e alguns vestidos. Guardou seus sapatos de salto, dois coturnos que era apaixonada e pôde notar que sandálias abertas, leves ou sem salto não faziam parte de sua antiga vida de jornalista de moda, o único e mais confortável era seu chinelo simples e rosinha. No fim, se deu conta de que quase todo seu guarda-roupa variava basicamente entre preto, branco, vinho e azul, sua cor preferida, com algumas outras e poucas peças coloridas. Isso se devia ao fato de Anna priorizar a compra de peças com cores coringas, o que a possibilitaria manter uma postura elegante mas que também eram versáteis, facilitando a combinação de looks e permitindo usar várias vezes a mesma peça sem que notassem.  Suas roupas mais caras eram presentes de estilistas e só tinha quatro jóias, um colar delicado de ouro que era de sua avó e Anna nunca tirava do pescoço, um brinco de cristal que ganhou de presente de aniversário de quinze anos de uma tia rica e um conjunto de colar e brinco de esmeralda que ganhou de um modelo que ficou encantado demais por ela, ao que Anna tentou recusar, mas não foi possível, então agradeceu de forma profissional.

Após arrumar seu novo guarda-roupa, guardou alguns biscoitos na cozinha, colocou seu notebook para carregar e guardou produtos de higiene pessoal básicos. Depois pensou em arrumar a casa, mas já estava tudo limpinho e no devido lugar, portanto amanhã, quando seus livros, alguns eletrodomésticos, utensílios de cozinha e outros pertences chegassem, ela terminaria de arrumar sua casa.

Pegou a única toalha que trouxera na mala e foi tomar banho. Enquanto se banhava, pensou em como estava feliz de morar em uma casa, seu sonho desde quando criança, e ainda ter seu próprio jardim com vista para o mar. Estava tão relaxada que, ao lavar os cabelos castanhos claros, parecia que todas suas preocupações estavam indo embora pelo ralo junto com a água. Enxugou-se, penteou os cabelos molhados e, por um momento, a ideia de dar uma volta pela cidade passou por sua mente, mas decidiu ficar em casa e colocou seu pijama nada adulto e super confortável, que consistia em um blusão de seu irmão com um short de bolinhas.

Amanhã ela se preocuparia com as mensagens de André e os alimentos que deveria comprar. Por hoje, seu primeiro dia em uma nova cidade, seu primeiro dia numa nova vida, ela iria ver um bom filme que estava ansiosa para assistir há tempos e iria se permitir chorar e rir por cenas fictícias, sem pensar demais em tudo que aconteceu tão rapidamente em sua vida. Focaria no contexto da comédia romântica que estava colocando na Netflix e no dia seguinte pensaria em tudo que deveria e poderia fazer em Belas Velas, as antigas preocupações, as obrigações e, por que não, as novas possibilidades.

Ao fim do filme, ela que não era de chorar por qualquer coisa, já havia chorado mais do que deveria, mas riu o dobro. Provavelmente eram as emoções entaladas dentro dela há anos provocando tudo isso. Estava confusa? Muito. Mas estava se sentido leve, de uma forma que não sabia que ficaria. Colocou um novo filme, dessa vez de ação, pois estava sem sono, e lá pelas duas da manhã, dormiu com o vento refrescante vindo da janela do quarto que esqueceu aberta.

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