Capítulo 10

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— Ei, você. Obrigada, viu. - Anna falou para o rapaz de olhos verdes, com um misto de gratidão e surpresa.

— Fiz o que qualquer um faria, moça. - Ele lhe deu uma piscadela e ela riu. — E como anda você?

— Tirando o que acabou de acontecer e apesar de estar há dois dias aqui, estou amando esse lugar!

— É, a situação não foi das melhores, mas estou feliz por te ver de novo, moça que não sei o nome. - Ele falou enquanto dava um gole em sua cerveja.

Anna sorriu de forma espontânea e simpatizou com o rapaz. Na primeira vez que se esbarraram pela Ilha, ele lhe ajudou a encontrar a imobiliária mas mesmo assim ela não havia ido muito com a cara do rapaz. Hoje, com a atitude dele de defendê-la e por essa conversa inicial, a primeira impressão do senhor abdômen definido estava mudando bastante, e para melhor.

— Bom, senhor convencido, eu sou a Anna.

— Prazer Anna, eu sou o Guilherme, mais conhecido como Gui ou Guigo. - Falou ao mesmo tempo em que fazia uma espécie de reverência.

Anna não conseguiu conter o riso e, entrando na onda do rapaz, segurou a barra de seu vestido e dobrou os joelhos, como uma resposta ao gesto de Guilherme.

— Gostei de você, Anna. Aceita uma dança?

— Bem, por que não? Vamos.

Ambos se direcionaram para mais perto do palco e começaram a dançar. Guilherme falava coisas engraçadas no ouvido de Anna e ela não conseguia parar de rir. Estava gostando da companhia animada do rapaz, que agora fazia alguns passos de dança que em nada seguiam o ritmo da música.

O homem moreno movimentava os braços e as pernas de forma rápida e desastrada e, enquanto Anna gargalhava, sem querer seus olhos passaram brevemente pelo local ao seu redor quando, de repente, detiveram-se em um par de olhos azuis.

Caíque, apesar de estar na companhia de uma loira muito bonita e que vivia demonstrando o quanto queria ficar com ele, de forma que este considerava um tanto quanto exposta e excessiva, mesmo com sua recusa de modo simpático, assim que vislumbrou um cabelo castanho brilhoso e percebeu que se tratava de Anna se divertindo com Guilherme, não conseguiu mais prestar atenção em nada que não fosse uma certa mulher de vestido preto que acabara de se mudar para a ilha. Ao ver a cena da moça rindo e se divertindo com Guigo, alguém que ele não falava há tempos por certos motivos, ele começou a sentir algo que não sabia explicar. Acreditava estar com medo de Anna, que era uma pessoa tão boa, envolver-se com Guilherme e este acabar a machucando de alguma forma. Caíque certamente estava passando a ter um tipo de carinho pela moça e, mesmo a conhecendo há pouco tempo, já a considerava alguém para ter como amiga e não poderia aceitar que ela terminasse com alguém que a magoasse, de jeito nenhum.

Em um certo momento, os olhares de Anna e Caíque se encontraram. A mulher, surpresa, parou de rir e não conseguiu parar de observá-lo. Seus olhos, com um misto de surpresa e questionamento, encaravam o rapaz loiro que retribua o olhar intrigado. Ambos estavam absortos demais um no outro, mesmo não estando perto e com outros pares. O momento, que foi interrompido rapidamente por seus respectivos parceiros de dança, e não passou de segundos, pareceu durar horas para Caíque e Anna.

— Caíque. Ei, Caíque. - O loiro foi tirado de seus devaneios enquanto Vanessa puxava sua cabeça para frente.

— Oi, desculpe, Vanessa. Eu estava só pensando, não estou muito a fim de dançar, sabe. - O homem respondeu ainda em um estado aéreo.

— Ah, fala sério, Caíque. Você nunca tá a fim de nada comigo. - A loira falou enquanto revirava os olhos e saía emburrada, rebolando. Essa não era a primeira vez que Vanessa ficava mal-humorada com a recusa de Caíque e, provavelmente, para a infelicidade do loiro, logo ela voltaria a ficar no pé dele, como sempre fazia.

Do outro lado do rooftop estavam Anna e Guilherme. Ele pareceu um pouco irritado com o momento da pequena falta de atenção de Anna nele e ela estava consideravelmente atônita diante do que tinha acabado de acontecer. Esta colocou na cabeça que tudo isso foi uma mera situação criada por sua cabeça e que a eletricidade do olhar azul de Caíque sobre ela era somente efeito e culpa da bebida. O encontro de olhar dos dois, pensou ela, foi algo casual e sem querer, e reforçou mentalmente para si mesma que não tinha qualquer significado. 'Por Deus, eu conheço Caíque a somente dois dias!' Após pensar isso por alguns segundos, balançou a cabeça, como se isso pudesse remover o ocorrido da mente e sorriu para Guilherme:

— Vamos até a mesa dos meus novos amigos!

— Ham, sabe o que é Anna... É que agora eu preciso ir, tenho compromisso cedo amanhã. - O moreno disse enquanto mexia no cabelo. — Mas me passe seu telefone, quero te ver de novo.

Anna entendeu a situação, passou seu número de celular para Guigo e agradeceu pela noite. O moreno se despediu e ela o perdeu de vista. Em seguida dirigiu-se para a mesa onde estavam os amigos e se deparou com Ale dançando com Bernardo e Caíque bebendo cerveja sozinho. Manu, Marcos e Samuel ainda estavam perto do palco dançando, apesar das músicas de casal já terem acabado e as músicas de pagode agitadas terem retornado.

— Ué, cade sua namorada? - Anna implicou e Caíque revirou os olhos.

— Não sou eu quem namora aqui não.

— Ale me contou sobre a Vanessa. Ela parece gostar bastante de você.

— Vai por mim, ela não gosta, Anna. - Ele pensou por um momento. — Tudo bem, pode até ser que sim. Mas não temos muito a ver, sabe? Compartilhamos pensamentos muito opostos sobre praticamente tudo.

— Dizem que os opostos se atraem... - A mulher de cabelos castanhos disse como quem não quer nada.

— Eu concordo com essa afirmação, mas acredito que na prática isso é um pouco diferente. Pessoas distintas demais, que têm pensamentos que considero importantes e básicos muito diferentes dos meus, acho que não dão muito certo para ser meu par romântico.

— Sabe, acho que descobri um novo hobby. To gostando de implicar com você. - Anna sorri e Caíque a acompanha. — Mas você tem razão. Conhecer pessoas diferentes e com posicionamentos distintos é essencial, até porque ninguém é igual. Mas quando nenhum pensamento bate com o do outro fica difícil mesmo.

A conversa continuou, fluindo de forma leve e ambos chegaram a esquecer que estavam no meio de um bar com pagode tocando ao fundo. A música tornou-se uma trilha sonora com um volume baixo, enquanto os dois falavam entre si, perdendo-se um no outro e absortos do que acontecia ao redor.

Essa era a primeira vez que tinham uma conversa mais séria sobre o que pensavam da vida. E certamente estavam gostando de conhecer o modo de pensar um do outro que, surpreendentemente, estava mostrando-se parecido. Ambos acreditavam que ter contato com as mais diversas opiniões era fundamental e divertido, mas quando nem sequer um pensamento se encaixa ou quando opiniões cruciais e visões sobre a vida, o mundo e o futuro são muito diferentes, torna-se um tanto complicado estabelecer um ligação tão forte e íntima quanto um relacionamento amoroso. Além de que achavam incrível o quanto duas pessoas poderiam ser diferentes, ter gostos e opiniões distintos, com histórias de vida totalmente opostas e, ao mesmo tempo, serem extremamente parecidas, com anseios e visões sobre a vida semelhantes. Esse era um dos assuntos que Caíque e Anna adoravam conversar, e os dois estavam gostando de descobrir sobre isso um do outro.

Quem sabe, mais assuntos não seriam também tão relevantes para que os dois conversassem? Aos poucos, eles descobririam isso. Por enquanto, a ousada e tímida Anna, como diria Clarice Lispector sobre si mesma, estava apreciando conhecer um lado até então desconhecido sobre Caíque. E ele, com seu jeito enigmático de início e sarcástico de sempre, também estava gostando de entender o que se passava na cabeça da nova moradora da ilha.

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Eii, gente!
E aí, gostaram do capítulo?

Beijinhuss, até o próximo! 💛

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