Capítulo 5

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Por volta das dez horas da manhã, com o sol batendo na janela desde cedo, Anna finalmente acordou. Assim que levantou da cama e terminou sua higiene matinal, vestiu-se com um de seus shorts e um cropped que tinha, pegou sua bolsa e saiu para comprar no mercadinho local. O dia estava ensolarado, então colocou seus óculos escuros, para disfarçar também a cara de quem havia acabado de acordar. A praia encontrava-se com algumas crianças brincando, alguns surfistas e um grupo de pessoas jogando vôlei na areia. Nesse momento, lembrou-se de como adorava jogar vôlei com os amigos em sua cidade natal, Calibra, mas hoje já não deveria nem conseguir dar um toque na bola.

Passou por uma mesma rua de pedras duas vezes, enquanto procurava o mercado, até que enfim viu, do outro lado da rua, uma placa preta escrito: Mercadinho do Seu Antônio. Atravessou a rua e se deu em uma entrada com porta preta de vidro, uma janela de vidro também preta e longa e parede de tijolinhos cor creme. Ao entrar, o lugar era ainda mais fofo, com cestas de madeira, parede de tijolos creme e alaranjados e estantes de produtos pretas e, apesar de ser incomparavelmente menor que os grandes supermercados que estava acostumada a ir, o charmoso mercadinho tinha todos os alimentos e utensílios de que precisava, mesmo que em menor quantidade e menos opções de marcas.

Pegou alguns alimentos e alguns poucos utensílios de cozinha, e perguntou ao senhor de cabelos brancos e óculos que se encontrava no caixa, onde ficavam as frutas.

— Ora, uma senhorita nova por aqui! Sou o Antônio e as frutas são vendidas na feirinha de todo sábado. - Então aquele velhinho fofo era o dono daquele mercado tão agradável.

— Ah, prazer Seu Antônio, sou a Anna e nova moradora daqui. Seu mercado é uma graça! Amanhã eu compro as frutas então, onde fica a feira?

— Obrigado! Reformei há pouco tempo, minha esposa adora decoração e eu, como sempre seguindo as invenções de moda dela, apoiei a ideia dela de reinventar o mercadinho. Mas realmente ficou lindo, né? - Seu Antônio olhou para seu negócio com um brilho nos olhos, dava para perceber que sentia orgulho do mercado e, principalmente, de sua esposa. — Ah, desculpe-me, me empolgo com isso! Quando contar para Verinha que uma moça da cidade elogiou o mercadinho, ela vai ficar toda boba! E também convencida de que sempre tem razão, o que é verdade, mas ela não precisa saber que eu admiti. Sabe, sou apaixonado por essa mulher desde que a conheci com dezoito anos! - Ele sorri bobo, parecendo relembrar de seus momentos com a esposa. — Mas sobre a feira, ela acontece no fim da parte oeste da praia, não tem como não achá-la!

— Espero um dia encontrar alguém assim como o senhor. Sua esposa deve ser bem especial! Obrigada Seu Antônio, até logo! - Anna ficou encantada pelo modo com que o senhorzinho falava de sua amada e também morrendo de vontade de conhecê-la, eles deveriam ser um casal e tanto.

Saiu rumo à praia, onde comprou uma água de coco e voltou para casa. Guardou as compras e foi checar o celular.

Anna, você precisa voltar pra mim. - Dizia a mensagem de André.

André, a gente já conversou sobre isso. Milhares de vezes. Você ainda vai achar alguém muito especial. - Anna respondeu.

Quer que eu morra? É isso que você quer?

Meu Deus, André! Eu não quero que você faça nenhuma besteira, por isso ainda não te bloqueei. Você precisa parar com isso! Ainda não foi no psicólogo que te indiquei? Estou falando sério.

Você é a mulher da minha vida. Eu amo você. Você precisa voltar.

Pela décima vez, desde o início eu disse que não queria namorar no momento, e você deu a ideia de ficarmos sem nos apegarmos. Você acabou se apegando e eu não, e eu tentava terminar, mas você ficou obsessivo! Mesmo quando eu falava que não queria mais, você dizia que ia se matar se a gente terminasse o que tínhamos. André, você me ameaçou inúmeras vezes, tinha ciúmes dos meus amigos, me perseguia, me xingava... Não sei como aguentei isso por tanto tempo, mas você me ameaçava né. Eu não sabia o que fazer. Quem ama de verdade, quer ver o outro feliz. Você precisa fazer um tratamento, de verdade. Estou a um passo de te bloquear, pois não aguento mais isso! Já achei que fosse a culpada, mas não. O problema não está comigo, você que precisa se resolver.

Enquanto digitava, começou a chorar. Anna não aguentava mais isso. Na verdade, não sabia como conseguiu aguentar por tanto tempo. Chegou a se sentir culpada por meses, até que entendeu que o problema estava com ele. Sempre foi sincera com André, desde o início, até mesmo porque gostava que os outros fossem sinceros com ela. Logo fez questão de dizer que não queria ter um relacionamento no momento e que seria melhor eles ficarem amigos, já que tinha receio de que ele pudesse se apegar. Mas André a pressionou e então ela tentou se forçar a gostar dele, mas assim que percebeu que nunca iria nutrir sentimentos por ele, logo disse para terminarem. Mas André começou a dizer que iria se matar e, com medo, Anna continuou. Ainda tentou terminar diversas vezes, falando sempre a verdade, mas André dizia que não importava que ela não gostava dele, ele só queria tê-la para ele. Quando saíam para festas, ele ficava com ciúmes vendo ela dançar e a xingava, tinha ciúmes de todos seus amigos e quando ela queria sair somente com as amigas, ele aparecia no lugar com raiva.

Lembrou-se do dia em que resolveu acabar com tudo. Chamou André para seu apartamento a fim de conversarem e disse tudo que sempre dizia para ele. Disse que ele merecia alguém que o amasse e que ela merecia alguém que ela amasse. Ele começou a chorar e disse que só seria feliz com ela. Ao que Anna respondeu que ele ainda iria encontrar o grande amor da vida dele, mas que esse alguém não era ela, além de que primeiro ele deveria ser feliz consigo mesmo. Anna o abraçou e disse que eles poderiam ser amigos, mas que não dava mais para continuarem daquele jeito. André a empurrou, agarrou seu braço e a xingou. Anna gritou para ele parar. Ele pediu desculpas e disse que iria se matar. Anna disse para ele ir embora e ele tentou beijá-la. Ela começou a chorar e conseguiu o levar até a porta. Ele, enfim, foi embora.

Quando Anna pensou que havia conseguido, finalmente, desvencilhar-se da pressão e das ameaças de André, ele continuou a atormentá-la. Mas tudo foi se tornando cada vez mais preocupante. Ele começou a persegui-la para onde quer que ela saísse, a aparecer em seu trabalho, a aparecer embaixo de seu prédio com cartas e a mandar mensagens e fazer ligações a xingando, dizendo que ela era a culpada por tudo, pedindo desculpas, depois pedindo pra voltarem e falando que iria se matar.

Ao se mudar de cidade, Anna achou que estaria livre disso, mas seu recente sonho de uma nova vida leve foi por água abaixo enquanto André não parava de enviar mensagens. Ela só queria acabar de vez com esse pesadelo, mas não sabia como.

No meio do turbilhão de pensamentos e memórias que se passavam na cabeça de Anna, seu celular começou a tocar e na tela mostrava que era da empresa que ela contratou para levar o resto de seus pertences.

— Anna? Bom dia, aqui é da transportadora Caledo e estamos parados no aeroporto de Carrilhos, não estão deixando o caminhão passar pela ponte para ir para Belas Velas.

— Ei, bom dia! Como assim? - Anna falou enquanto inspirava o ar para disfarçar a voz de choro.

— Estão alegando que o caminhão pode ser de alguma empresa clandestina que quer abrir por aí e primeiramente o prefeito deve ser contatado.

— Meu Deus, essa cidade tem cada coisa!

— Pois é, eu posso ficar aqui por até uma hora se você conseguir alguma licença.

— Bem, obrigada. Vou arrumar um jeito de ir até aí pegar minhas coisas!

Não é possível, ontem parecia que estava vivendo um sonho. Hoje acorda com mensagens de André e a ligação nada positiva da transportadora. Foi ao banheiro, olhou-se no espelho, passou uma água no rosto para amenizar a cara vermelha de choro e pegou sua calça do dia anterior. No bolso esquerdo estava o cartão da imobiliária Amaral, então discou o número do telefone ali impresso e rezou para que Caíque conhecesse o prefeito.

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E aí? O que estão achando?
Até os próximos capítulos, beijinhuss!
Luíza 💛

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