Capítulo 6

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— Bom dia, imobiliária Amaral. No que posso lhe ajudar? - Respondeu uma voz feminina que Anna não reconheceu.

— Ei, bom dia. O senhor Caíque está?

— Só um minuto, passarei a linha para ele. Quem gostaria de falar?

— Ah, diga que é a Anna, a nova moradora daqui.

Na primeira e única vez em que Anna esteve na imobiliária, não encontrou mais ninguém por lá a não ser Caíque. Mas então lembrou-se que foi no horário de almoço, então os funcionários deveriam estar em outro lugar.

— Bom dia! Você já queimou a luz? - Anna riu e ficou feliz por ele ter lembrado da última conversa que tiveram, já que pensou que ele nem lembraria seu nome, mesmo que eles tivessem se conhecido no dia anterior.

— Ah, antes fosse! Preciso de uma ajuda e não conheço praticamente ninguém daqui.

— Já que não tinha outra pessoa para ligar, teve que telefonar para mim... Entendo. - Disse um Caíque muito sarcástico e Anna já podia imaginar ele dando aquele seu típico sorriso de lado.

— Meu Deus! Você é muito dramático. - Disse uma Anna se segurando para não rir. — Mas você conhece o prefeito daqui?

— O prefeito? Bem, ele está em algum lugar desse país viajando. Mas o que aconteceu?

— Então, acontece que o caminhão da transportadora foi barrado de entrar na cidade, já que não tem a licença do prefeito. E o resto dos meus pertences está dentro desse caminhão e eu não faço ideia de como conseguir essa licença.

— Olha, a licença você não vai conseguir. Mas eu posso te ajudar.

— Sério? Como?

— To indo aí.

Como assim Caíque estava indo até sua casa? De que jeito isso poderia lhe ajudar?

Alguns minutos depois, escutou uma buzina na frente de sua casa. Quando abriu a porta, era Caíque no volante de uma picape alta, preta e grande.

— Vem! - Ele gritou.

Anna fechou a porta de casa e foi até o carro.

— O que você vai fazer?

— Não está claro? Vamos até o aeroporto pegar suas coisas, ora.

— Ah! Meu Deus! Você não está ocupado? Sério? Aí, não acredito! - Anna sentou ao lado de Caíque no banco de passageiros e, sem nem perceber o que fazia, deu uns pulinhos de alegria, como não fazia há tempos, enquanto colocava o cinto. Estava surpresa, de verdade. E nem percebeu que ele a olhava sorrindo.

— Você precisa de ajuda, então eu vou te ajudar. - Disse ele, vestido com uma camiseta de manga curta e preta de botão, com dois dos botões superiores abertos, mostrando sua pele bronzeada.

— Nossa, muito obrigada de verdade! Não sei nem como agradecer. - Disse uma Anna sem graça olhando nos olhos azuis do homem ao seu lado, não acreditava que alguém que ela conheceu há um dia poderia ser tão prestativo. — Acho que acabei de encontrar meu primeiro amigo em Belas Velas.

— É. - Caíque sorriu e ligou o rádio.

Por cerca de 50 minutos, enquanto escutavam músicas relaxantes ao estilo Jason Mraz, ambos mantiveram-se quietos, fazendo apenas alguns comentários sobre o dia e observações sobre a vista. Mas na maior parte desse tempo, Anna contemplava a mudança do cenário tropical, repleto de árvores, casas e comércios locais, na medida em que deixavam Belas Velas, para um céu azul enquanto atravessavam a ponte.

O silêncio foi cortado quando, quase no fim do trajeto, Caíque conseguiu reunir coragem o suficiente para fazer uma pergunta talvez um pouco invasiva para alguém que conheceu no dia anterior.

— Ei, Anna, am...

Anna estava perdida na vista da paisagem, um tanto quanto monótona, que até a deixou um pouco tonta e sequer escutou o homem sentado ao seu lado lhe chamando.

— Anna? Tudo bem?

A jovem mulher deu um pulo e, ao olhar para Caíque a observando, percebeu que ele estava falando com ela.

— Nossa, desculpa. - Deu um sorriso. — Acabei ficando distraída, o que houve?

— Sem problemas. Percebi. - Ele deu uma pequena risada. — Am, não era nada não... - Disse já recuando, o súbito momento de coragem havia passado. O homem estava curioso sobre o motivo da mudança repentina da mulher ao seu lado para a Ilha.

— Ora, mas você me chamou. Está tudo bem?

— Sim, é claro. Queria saber se você estava bem, digo, parecia tão distraída. Quer dizer, não que eu tenha percebido, mas é que já estamos chegando. - Caíque acabou se embolando, parecia um adolescente bobo e quase que deixa escapar que estava observando-a. Não que ele tenha ficado reparando em como as bochechas de Anna eram saltadas e rosadas, dando a ela um ar jovial, claro que não, afinal estava dirigindo, ele só olhava para a passageira ao lado, muito bonita por sinal, a fim de certificar de que ela estava bem, é claro.

A ida até o aeroporto de Carrilhos durou cerca de uma hora e alguns minutos. Apesar de ser sexta-feira, a travessia tinha poucos carros, aumentando o movimento na medida em que se aproximavam do aeroporto e, também, a divisa da cidade, um pouco mais moderna que Belas Velas.

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