Mansão

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A garota lembra-se da mansão novamente. Erguida com pilares italianos de mármore, cor de madeira negra, com uma fachada cuidadosamente talhada era um símbolo de força que se foi.
A água continuava a escorrer sem fim, como se fosse progenitor de chuva, interminável e inquietante. A menina via o sol pela manha pela mesma janela que via a lua, ela via o tempo através de um pedaço de vidro, tão translucido como a realidade. Ela relembro os momentos em que estava lá dentro e começou a dançar para uma musica da sua cabeça, que jurou ter ouvido dentro do casebre. As labaredas, que dominavam as paredes, também dançavam na altura. Em sua mente, enquanto rolavam as memórias como em sala de cinema, ela notou um corpo. Os olhos estavam abertos e a cara desfigurada, mas pelas curvas do corpo, femininas, deduziu ser a dona do diário da casa de banho que recolhera. Aquele cabelo grande, perto das escadas. Não passavam se não essa, quaisquer imagens que causassem pesadelos na garota.
Mas o que tudo isto quer dizer pensou a garota? Tudo aquilo não fazia sentido! Ela ainda não tinha respostas para o porquê do seu corpo ter-se movido involuntariamente naquela altura, o porquê do diário e as reais motivações da garota que se matou. A menina dos pensamentos em água também se questionou acerca do facto de nunca ter conhecido o seu pai, ou pelo menos não ter nenhuma lembrança dele. Foi perguntar à sua mãe o que lhe acontecera:
-Mãe…
-Olá filha, o que se passa? – inquire a mãe preocupada, lendo a expressão preocupada da filha.
-O que aconteceu ao meu pai?
-… O teu pai não foi o melhor a fazer o seu trabalho como marido e pai. Sempre trabalhava e nunca chegava a casa a horas de sequer dormir. Um dia, o teu pai decidiu não me amar mais mas amar outra pessoa, o que é completamente normal! Mas fiz com que o meu coração fosse forte o suficiente, e tu foste o meu iceberg!
-E onde ele está?
-Ele tornou-se rico e comprou uma casa grande para ser feliz com o seu novo amor! Ouvi dizer que teve uma filha!
Relutante, a garota pergunta:
-Sabes da mansão que ardeu no descampado perto do final da cidade?
-Não, o que aconteceu?
-Não sei bem mas ardeu e agora o local aparenta nunca ter sido habitado, a natureza tomou conta dele.
-Não sabia!
Enquanto abandonava a sala de estar, ouviu a mãe a romper-se em choro abundante, mas subiu para o seu quarto como sinal de respeito.
A garota por dentro sabia que havia alguma relação com o seu pai e a mansão que vira, mas meditou acerca do facto da sua mãe falar como se ele estivesse vivo, então desistiu da conexão, pelo menos por essa noite atarracada!
Nessa noite, sonhou em ir para um sitio cheio de nuvens e arco-iris, com jardins e cílios magníficos e em estar de mãos dadas com a pessoa que mais precisa de amor no momento: a sua mãe!

A garota dos pensamentos em águaOnde histórias criam vida. Descubra agora