Meditação

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A água é matéria. O liquido que escorria pelo ralo da sua banheira, da sua casa de banho, na sua casa e no seu país é matéria! É um facto empírico, não tem como negar! A garota dos pensamentos em água, alcunha que eu, o narrador lhe dei porque sou todo poderoso, é meio que contraditório pois os pensamentos são a mente e a mente não é matéria. É a metafisica da coisa, a distinção é obvia! Talvez seja uma analise mais superficial do universo, unilateral ao dito e descrito nos livros, o convencional, o normal!
A menina que adorava tomar banho sentou-se e experimentou beber a água até encher a sua boca. De seguida, cuspiu-a! Toda essa água, antes descrita como matéria agora se transformara em mente pois foi conscientemente posta na boca dela. Momentaneamente a água se tornou a menina e por isso era algo intocável! Mas logo repensou e chegou à conclusão que isso não estava certo.
A garota, após sair do banho, saiu de casa. Caminhou pela noite, debalde em busca de respostas sobre o seu pai. Perguntou a toda a gente nas redondezas, e conhecidos seus, se sabia algo do seu pai (que já suspeitava ser o dono da mansão e que morreu). Ninguém sabia nada. Então ela tentou estabelecer um contacto com o seu pai recorrendo à meditação. Ela sempre achou a meditação uma prática inútil e sem sentido, perda de tempo e ilusão. Mas cismou que, mesmo que não entre literalmente em contacto com seu pai, talvez o imagine. E assim correu em direção à mansão inexistente. Chegando ao local, sentou-se e começou o ritual! Imaginou um homem, uma boca, olhos, braços, orelhas, tudo! Mas o corpo não tinha uma alma, o inútil não se mexia. Era uma pedra! A matéria não é igual a mente. A alma se desvanece na sua essência.
Ela não chorou. Com uma cara de desinteresse e descompaixão, saiu da clareira e voltou para perto dos humanos de que tão pouco entendia! Passava pela casas deles e espreitava pelas janelas empoeiradas e quadradas as famílias felizes e contentes, a parlar sobre sabe se lá o quê! Ela não entendia, não conseguia entender na sua limitada cabeça, as manifestações humanas. Porquê falar? Se tu morreres primeiro, já é uma grande sorte, não vais ter de chorar. E chorar? Toda a gente morre, não vale a pena tentar voltar, que a água, que muito bem conhece, só molha o corpo e dá peso ao cabelo que o deixa cair para baixo, mas não às almas que perdidamente esticam seus braços enquanto rasgam suas gargantas de tantos sentimentos que a garota não tem. E não quer entender! Para que entender algo se o desinteresse é tão mais fácil e amável, mesmo não sendo uma mente que o possa transparecer.
Então a garota só viu uma maneira de sair desse pesadelo e reencontrar o seu pai e a menina do diário! Se encontrar com a morte.

A garota dos pensamentos em águaOnde histórias criam vida. Descubra agora