𝑻𝒓𝒂𝒕𝒂𝒅𝒐 𝒅𝒆 𝑷𝒂𝒛

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— É a primeira vez que a senhorita vai treinar? — O garoto pergunta andando pelos corredores do castelo em passos largos. Estava correndo um pouco pra conseguir ficar ao seu lado.

— Já treinei por pouco tempo a alguns meses atrás. — Digo acelerando ainda mais o passo. — Mas acho que não consegui aprender muita coisa...

O resto do percurso foi em silêncio. Protocolos, malditos protocolos, proibindo todos que não fossem da realeza de conversar comigo, a não ser que seja necessário. Deve ser por isso que não tenho amigos. Depois de um tempo andando pelos corredores, paramos em frente a grande biblioteca e por um momento fico me perguntando o que estávamos fazendo ali. Ele abre uma das grandes portas, fazendo um sinal para que eu pudesse entrar.

— As damas primeiro. — ele diz com um sorriso meigo nos lábios.

Não conseguia entender o porque de estarmos ali. Já comecei a ficar decepcionada novamente me lembrando do último professor que tive. Ele era péssimo.

— Você não é jovem demais pra dar aulas? — pergunto me sentando em uma das mesas enquanto ele estava pegando alguns livros ja preparados na outra ponta da mesa.

— É.. — ele da um sorriso enquanto coloca os livros em minha frente. — Tecnicamente, sim. Mas fui um dos melhores da minha turma, e disserem que a princesa não gostaria de um professor.. Como foi que eles disseram? "Velho e rabugento".

Não consigo segurar o riso, lembrando da minha birra na sala de controle quando praticamente expulsei o último professor por ele só me mandar pular corda, enquanto lia uma revista de artigos de festas reais.

— Realmente, foi uma exigência e tanto. Mas não esperei que realmente fossem levar a sério.

— Claro que levaram. Aliais, você é a princesa, não é? — o garoto diz sorrindo e se sentando em minha frente. Seu sorriso era lindo, tinha que admitir. Trazia uma pureza e sinceridade que nunca tinha visto em ninguém.

— Quem dera se isso bastasse pra realmente mandar em algo aqui. Você vai perceber, Senhor Seavey, que só levam em consideração, basicamente, o que meu irmão diz.

Ele me olha com os olhos curiosos, mas fica em silêncio. E lembro que todos que tem algum tipo de contato comigo, são orientados a seguir um protocolo. Não falar mais que o necessário. Não fazer muitas perguntas. Não olhar diretamente nos meus olhos, como forma de respeito a linha real. Mas Daniel era diferente, porque ele olhava nos meus olhos, e isso era incrível.

— Bom. — ele diz abrindo alguns livros em minha frente. — Vamos começar lendo alguns livros.

— Pensei que iriamos lutar, correr.. Algo do tipo. Não imaginei que o treinamento ia ser ler.

— Vamos fazer todas essas coisas também. Mas antes vem a parte teórica, aprender na teoria, entender como planejar estratégias, e quando formos pra parte física, você vai estar mais preparada psicologicamente.

Ele é bom de explicar. O jeito que ele fala é claro, mesmo que ele tenha certo sotaque. Fico tentando imaginar de onde ele é, enquanto o observo falando. Deveria prestar atenção no que ele diz, mas analisar cada parte de seu corpo é mais interessante no momento. Ele é alto, com o corpo magro, porem malhado. Consigo ver as veias do seu braço, e de certa forma meu corpo estremece. Tento manter esse pensamento longe, mas é um pouco difícil, dando conta que o garoto não para de me analisar com seus olhos azuis escarlate. Será que ele faz ideia do efeito que tem? Tento novamente afastar esse pensamento.

— ... pegar pela diagonal. Conseguiu entender? — O garoto diz movendo a cabeça em minha direção. Ok, pergunta. Haja naturalmente.

— Sim. Claro.

𝒕𝒉𝒆 𝒄𝒓𝒐𝒘𝒏 ✧ daniel seavey  Onde histórias criam vida. Descubra agora