𝑷𝒓𝒊𝒏𝒄𝒆𝒔𝒂?

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   Corro pelos corredores do enorme castelo, me atrapalhando um pouco no vestido. As vezes eu odeio usar essas coisas, me atrapalham na movimentação, mas era exatamente essa a proposta: me fazer andar como uma dama.

   Vou para o escritório de meu pai, onde ele passa a maior parte do tempo, seja lendo, fazendo estratégias ou reuniões. Porém estava vazia. Então vou em direção ao seu quarto, e quando escuto a movimentação, paro em frente a porta, escutando com atenção.

— Você realmente acredita que isso pode dar certo, pai? — Meu irmão pergunta com certo cuidado.

— Que opção eu tenho? O povo quer mudanças, Corbyn. Querem ver diferença, e estão fazendo manifestações, falando que esse foi um dos piores reinados, além de falarem que não se importamos com os soldados mortos em batalha.

— E você acha que Goldenfall vai aceitar um tratado de paz tão fácil assim? Nunca vi um Rei para gostar tanto de guerras.

— Eles precisam desse tratado. Precisam de um acordo.

— Acordo...? — Corbyn pergunta, confuso.

— O que importa, é que o povo quer mudanças, e vão ter. Se não fizermos nada, os rebeldes vão continuar fazendo essas manifestações ridículas, com esses ataques.

— E com essa paz toda, você vai parar de convocar soldados? — Ele ja sabe a resposta, e eu também. Conhecemos nosso pai o bastante para saber.

— Não. — Ele responde respirando fundo.

Claro que não. Um dos pontos mais terríveis do reinado do meu pai, é a idade que jovens são recrutados para o exército do reino. 16 anos, é a idade mínima.

   Não sei como é a guerra, meu pai, além de não me deixar participar em nada nos assuntos do reino, nunca me levaria para um lugar assim. Como Daniel disse, não é interessante para a nobreza ir para esses lugares. Mas eu discordo. É importante quem comanda um país, saber pelo o que seu povo passa.

   A única coisa que eu sei, é que jovens, assim como eu, até mais novos, morrem na guerra. Como sei disso? Bem, os principais ataques terroristas, feito pelo que chamamos de rebeldes, são em favor dessa causa: não mandar crianças tão jovens pra guerra, porque de certa forma, todos sabemos seus destinos. Serem tiradas dos pais para irem em direção a morte.

— Infelizmente, Goldenfall não é o único país que estamos em guerra. — meu pai diz, e chego mais perto da porta para conseguir ouvir com mais clareza. — Aumentaríamos a idade mínima da convocação para 17 anos, mas não, não pararíamos de convocar soldados.

— E porque, tão do nada, Goldenfall se interessou em um acordo? Depois de 20 anos de guerra?

— Estão tendo ataques rebeldes em seu país, com os mesmos fundamentos e ideais dos de nosso reino. Querem mostrar mudança para o povo, para ver se os ataques diminuem. Além que o príncipe, seu herdeiro, precisa de uma esposa.

— E o que nós temos haver se o príncipe não é bom o suficiente pra arrumar alguem para se casar? — Era explicito o descaso de Corbyn com o futuro rei do país ao lado.

— Esse vai ser nosso tratado. — Meu pai diz. A sala fica mais em silêncio total, Corbyn ja entendeu o recado, mas eu não.

— Para selar nosso acordo de paz, e fazer uma aliança com o reino de Goldenfall, Zach Herron, futuro herdeiro de Goldenfall, vai se casar com Ashley. Nossos reinos vão se unir.

   Sinto como se meu coração tivesse parado. Como se todo o ar dos meus pulmões tivessem se esvaziado.

   Uma das únicas coisas que eu podia escolher, era com quem eu iria me casar, contando que fosse da nobreza. Eu poderia casar por amor, e era uma das únicas coisas que me faziam sentir bem, feliz por não ser a herdeira do trono.

   Mas agora.. eu vou ser trocada em forma de uma aliança?

[...]

   Saio correndo amaldiçoando quem fez aquele vestido. Estava tão desorientada, tão perdida, que de 5 passos que eu dava, tropeçava. Tirando que minha vista estava totalmente embaçada por conta das lágrimas que escorriam sem parar pelo meu rosto. 

   O único lugar que me veio em mente, pra tentar fugir da realidade, era o enorme jardim do castelo. Quando era criança, achei um lugar, dentro do labirinto de arbustos, entre a fonte central, virando algumas curvas.

   Tinha feito como se fosse meu lugar, sempre levava alguns dos meus livros favoritos, e era o único espaço que ninguém (tirando alguns criados, mas eles não falariam nada) sabia onde ficava. Onde eu podia pensar, ser eu mesma, mesmo que por poucas horas.

   Entro com tudo no labirinto, sabia a direção de cor, indo ao meu pequeno esconderijo. Conseguia sentir as lagrimas quentes ainda sobre o meu rosto, enquanto passo a mão pelo longo vestido o sentindo com falhas. Percebo que no momento da raiva, acabei rasgando algumas rendas.

    Quando chego no lugar, entro com tudo sobre a pequena cortina de plantas, que escondia o lugar. Mas quando entro, percebo que o lugar não está vazio, como o habitual. Assim que entro, dou de cara com o alto garoto de olhos azuis, lendo um dos meus livros.

— Princesa? — Ele me diz com o olhar espantado.

𝒕𝒉𝒆 𝒄𝒓𝒐𝒘𝒏 ✧ daniel seavey  Onde histórias criam vida. Descubra agora