𝑴𝒆 𝒔𝒊𝒏𝒕𝒐 𝒉𝒐𝒏𝒓𝒂𝒅𝒐.

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— O que você está fazendo aqui? — digo surpresa por ver o menino ali. Nem meu irmão, ou meus primos sabiam da existência desse lugar. Como um novato saberia?

Ele se levanta com a expressão calma, mas agitada ao mesmo tempo. Ele estava corado, com vergonha.

— Me desculpe, por favor... — Ele olha bem nos fundos dos meus olhos. Mas minha visão de seu rosto estava embaçada, de tanto que estava chorando.

— Como você achou esse lugar? — Digo com a voz quase falhando. — Não precisa ter medo. Não vou te expulsar ou algo do tipo, contanto que você não seja verdadeiro, ou seja realmente necessário.

— Eu... — Ele diz gaguejando.

— Por favor, me fala alguma coisa, porque eu realmente te achei um bom professor e me decepcionaria muito descobrir que você é um louco que invade lugares. Então só seja sincero. Como você achou esse lugar?

— Olha não me leve a mal, mas aqui não era bem o lugar que eu queria estar. O castelo, eu digo. Eu deixei minha família toda pra trás, em meio da guerra, e Leia é uma das cidades mais próxima aos conflitos — Seus olhos estavam reflexivos.

"Eu estava me sentindo um pouco sufocado no meu novo quarto, e resolvi sair pra andar e respirar um pouco de ar fresco. Acabei andando e... Achando aqui. Eu juro que não ia ficar, não sou do tipo intrometido. Mas eu vi esse livro.. Bem, é o meu favorito. Nunca tinha visto essa versão, e não resisti dar uma olhada."

Limpo minhas bochechas com as mãos. Acho que foi ate bom encontrar o garoto aqui, nunca conversei com muitas pessoas que não fossem da nobreza ou da realeza. Poderia me distrair.

— É realmente muito bom, não é? — digo dando um sorriso tímido. — É um dos meus livros favoritos. Essa é uma das melhores versões, por isso guardo aqui.

Sento em um canto do pequeno esconderijo. Olho para o garoto, que está com o olhar confuso, e então dou algumas tapinhas do meu lado, indicando que era para o garoto se sentar.

— Não acho que seria adequado...

— Não seja tolo. Não vou te atacar ou algo do tipo. Só estou te chamando pra sentar, pra falar sobre um livro.

O garoto ainda parecia desconfiado, mas mesmo assim se senta. Se foi por vontade própria, eu não sei.

— Sinto muito, por você ter deixado sua família. Não foi essa minha intenção, quando pedi um professor.

— Não se preocupe, de verdade. Se eu estou aqui, de certa forma estou ajudando eles também. O salário é bom.

Dou uma risada. Porque, por um instante, eu achei que ele não era pago pra vir pro castelo? Quem, em sã consciência, viria para essa prisão sem ser recompensado?

— Bom, eu imagino. — novamente passo a mão no rosto. Tenho a sensação que a minha maquiagem está derretida sobre minhas bochechas.

— Se não for me intrometer muito... Mas esta tudo bem com a senhorita? — o garoto pergunta em um tom neutro.

Eu sei que parece bobeira. Mas de verdade, desde que minha mãe morreu, foram poucas as pessoas que se importavam o suficiente pra perguntar se eu estava bem.

Corbyn era um ótimo irmão, não o leve a mal. Mas a pressão era toda em cima dele, reuniões e viagens importantes. Jack e Syd eram os melhores primos do mundo, mas eles tinham seu jeito próprio de se importar.

Então eu acabo falando. Conto tudo, detalhe por detalhe, de como estava me sentindo, o que tinha ouvido atrás da porta, e como me sentia usada pelo meu próprio pai. Como eu odiava ser princesa, e o quão injusto eu achava tudo isso.

— E sim, eu acho certo acabar com a guerra. Eu odeio saber que tantas crianças vão para guerra, e morrem, e é tudo nossa culpa. Eu realmente odeio, e se eu pudesse mudaria isso. Mas ao mesmo tempo, eu me sinto vendida, usada... Vou me casar com alguém que eu não quero. Meu próprio pai, vai me casar com uma pessoa que eu não amo, contra a minha vontade.

O garoto ficou em silêncio, escutando tudo com atenção, e seus olhos eram caridosos. Como se ele realmente entendesse pelo que eu passo. Mesmo não entendendo.

Comecei a sentir as lágrimas novamente no meu rosto, e sinto um toque quente em minha mão. Me assusto um pouco, quando olho a mão do garoto na minha, mas no final, a aperto.

Não foram muitas as vezes que recebi um gesto de afeto de alguém, e era algo confortante, que não poderia negar nesse momento.

— Eu sinto muito. — Foi a vez dele de falar agora. — Imagino que não seja fácil toda essa pressão.

— Não, não é. — Falo, e acabo dando uma pequena risada. Talvez para não chorar mais.

— Sei que é estranho... E talvez a senhorita não queira, mas vamos passar muito tempo juntos nos treinamentos. Então se você precisar conversar, desabafar, saiba que estou disposto a ser seu amigo. Além do mais.. Treinar com o tamanho peso, e sem conversar com ninguém, não vai ser bom para o seu desenvolvimento nas aulas.

Amigo. Acho que nunca recebi um convite desse em toda minha vida.

— Se vamos ser amigos acho melhor você parar de me chamar de "Senhorita" ou "Princesa". Me chame de Ashley agora. — sorrio para o garoto.

— Como quiser senh... Ashley. — Ele da um grande sorriso, que faz meu coração desmanchar.

Me levanto me sentindo um pouco melhor. Não sabia que desabafar era uma sensação tão incrível.

— Nos encontramos do treino amanhã, Daniel? — Era estranho e confortante pronunciar o primeiro nome do garoto.

— Com certeza, Ashley.

Me virei para sair, mas então lembrei de uma coisa.

— Ah... E aliais, te dou minha permissão pra vir aqui, quando se sentir mal. E ler meus livros. Assim você não precisa invadir o meu confortável esconderijo as escondidas.

Ele sorri. Seu sorriso era incrível. Não me cansava de olhar pra ele.

— Me sinto honrado com tal presente. Obrigado.

Sorrio e saio, andando mais devagar pelo jardim, pensando se tinha feito besteira ou não. Confiar meus segredos a um garoto que conhecia a menos de horas... Será que foi um erro?

Espero que não.

𝒕𝒉𝒆 𝒄𝒓𝒐𝒘𝒏 ✧ daniel seavey  Onde histórias criam vida. Descubra agora