𝑽𝒆𝒏𝒅𝒊𝒏𝒅𝒂

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   Sinto uma mão leve no meu braço, dando um pequeno balanço. Acordo e me sinto como se estivesse dentro do mar, balançando de uma forma suave e tranquila.

   Quando abro os olhos me deparo com grandes olhos azuis me encarando, e não consigo evitar sorrir. Aqueles olhos eram tão lindos.

   Calma. Eu estava dormindo, e Daniel estava no meu quarto? isso nunca seria permitido. A não ser que...

— Estamos ferrados. — digo levantando e lembrando da noite passada.

— Talvez. — ele diz. — Mas acho que consegui despertar a tempo. Não sei exatamente que horas são agora, mas esta amanhecendo. Com sorte você vai conseguir sair sem que ninguém perceba.

   Meu coração palpitava. Se fossemos pegos, nessa situação, nem sei o que poderia acontecer.

— Você quer ir primeiro? — pergunto.

— Lógico que não. Você vai primeiro, é mais seguro.

— E que horas você vai sair? Não podemos correr o risco de alguem te ver saindo logo depois de mim.

— Eu dou meu jeito. Mas saia depressa, com sorte você não vai encontrar ninguém no caminho.

— Tudo bem.

   Me levanto e olho para a cortina de folhas, e percebo que está amanhecendo. Olha para Daniel que está ja em pé ao meu lado.

— Obrigada por ontem. — digo um pouco envergonhada. Senti minhas bochechas esquentarem.

   Ele sorri pra mim com aqueles dentes tão lindos e meigos, e não consigo segurar o impulso, e dou um beijo no garoto.

— Tudo bem, tudo bem.. — ele diz rindo enquanto meus lábios ainda estão nos seus. — Eu gostaria muito de continuar isso aqui, mas você precisa ir. A não ser que você queira que nossos encontros sejam cancelados...

— De jeito nenhum. — falo. — Já vou. Até daqui a pouco, professor.

   E saio pelo labirinto.

[...]

   Passo correndo pelos corredores, e percebo o quão meu vestido estava curto e amarrotado. Dou risada sozinha com a lembrança do que aconteceu ontem a noite, me sentindo com uma leve sensação de aventura. Isso era bom. Eu gostava.

   Chego próximo ao meu quarto e me deparo com a porta do meu quarto meia aberta.

   Xingo em todas as línguas que me vieram em mente, e torço para que sem querer, eu tenha deixado a porta meio aberta antes de sair ontem a noite. Mesmo que eu me lembre com muita clareza de ter a fechado.

   Chego com passos leves, e entro pela porta. O que era pra ser, será. Me deparo com Mare olhando de um lado para o outro com os olhos assustados, me procurando.

— Mare? — digo, e a senhora se assusta. — Desculpa... Não era minha intenção.

— Majestade...? — ela diz olhando o jeito que estava vestida, e provavelmente meu cabelo super bagunçado com uma cara confusa.

— Mare, pelo amor de Deus, não comentem nada disso com ninguém... — falo me sentando da cama e pegando em sua mão, enquanto ela sentava ao meu lado com um olhar confuso.

   Conto tudo para ela. Ok, talvez nem tudo, alguns detalhes seriam constrangedores demais, mas pelo menos metade da história.

   Ela me olha com um olhar carinhoso, com um leve sorriso nos lábios, como de uma pessoa se lembrando dos prazes da juventude.

— Sem problemas, Princesa. — ela diz fazendo carinho em minhas mãos. — Você é muito especial pra mim, e eu te prometo, da minha boca não sai nada. E Daniel é um bom garoto.

— Você conhece Daniel? — digo surpresa.

— Somos da mesma província. — ela sorri. — A última vez que o vi, era um bebê. Ele é filho de uma grande amiga minha, e foi muito bom ver o bom homem que ele se tornou. 

— Ele realmente é uma boa pessoa.

— Com certeza. Agora, vou te ajudar a se trocar para o café. Seu pai disse que tem um aviso especial para a senhorita hoje.

[...]

   Chego no café apreensiva. Ja sabia o que seria falado, e isso era o bastante para manter meu estômago revirado.

   Quando cheguei, todos estavam a mesa.

— Me desculpem pelo atraso. — digo. — Dormi um pouco demais hoje.

   Syd me olha desconfiada. Ou seja, ela não sabia de nada. Isso era bom. Não queria compartilhar meu segredo com ninguém, nem mesmo com ela.

   Corbyn estava apreensivo quando sentei em seu lado, e percebo que está batendo o pé debaixo da mesa. Quando sento, ele, de uma maneira estranha, sorri para mim, e pega na minha mão.

— Dormiu bem, Ash? — ele diz com um sorriso no rosto.

— Que bicho te mordeu? — digo com um sorriso forçado nos lábios. Sabia porque ele estava me tratando assim. Ele sentia, de certa forma, minha dor com com tudo isso.

— Tenho um aviso importante pra dar a todos vocês. — Meu pai diz se levantando de sua grande cadeira.

"Como vocês sabem, estamos entrando em era de paz com Goldenfall. Eles vão vir em um baile, em nosso palácio, daqui duas semanas, e todos os nobres do reino comparecerão, então espero que a família real os receba da maneira certa. Como meu irmão ja deve estar desconfiando, a paz foi estabelecida com um acordo. É assim que as coisas funcionam. Além de ter paz entre os nossos reinos, vamos fazer uma aliança. E essa aliança vai ser selada com um casamento. O príncipe de Goldenfall, Zach Herron, irá, em breve, ser nomeado como rei. Seu pai estava a procura de um casamento bom para o seu filho, uma princesa, para ser encarregada para ser a nova rainha de Goldenfall. E esse foi nosso acordo. Para selar nossa aliança, Ashley irá se casar com o príncipe Zach. A vinda deles no castelo, não sera somente para celebrar nossa união depois de tantos anos, mas também, uma oportunidade para o príncipe conhecer Ashley, e então, assinarmos o acordo."

   Meu pai olha, pela primeira vez, em minha direção. Mesmo ja sabendo de tudo isso, sinto minha barriga se revirar.

   Sinto as lágrimas quentes descendo de forma tranquila pelo meu rosto.

   Sinto a atenção de todos na sala, em minha direção, vendo minha reação.

   Eu não me importo se fui treinada para mascarar meus sentimentos, para não demostrar o que sinto em ocasiões desse tipo. O certo seria sorrir, e aceitar meu destino.

   Mas é com orgulho que choro de maneira calma, e deixo que todos vejam as lágrimas descendo pelo meu rosto.

   Para todos saberem, que de qualquer maneira eu vou ter que fazer aquilo, mas não por vontade própria. Eu estava sendo vendida. E todos ali sabiam, e estavam de acordo. 

— Tudo bem. — digo me levantando. — Vai ser um prazer receber a familia real de Goldenfall no palácio. Agora se me dão licença, preciso ir para o treinamento.

[...]

   Chego a arena de treinamento com sangue nos olhos. Queria poder quebrar alguem com minhas próprias mãos, e esvaziar toda a minha raiva.

— Ok. Acho que você não esta para muitos amigos hoje. — Daniel diz me encarando.

— Eu só quero lutar, chutar, esmurrar... — digo colocando a mão no rosto. — Bater em alguma coisa!

— Contando que não seja em mim, ta tudo bem. Não to afim de apanhar hoje. — ele diz, conseguindo me fazer rir. — Vitória! — Ele fala enquanto sorri e faz sinal de comemoração.

— Idiota. — digo dando um murrinho em seu braço. — Então, por onde vamos começar hoje?

   Antes que Daniel respondesse, Corbyn entra na área de treinamentos.

— Será que poderia treinar com vocês hoje? — ele diz com um sorriso malicioso nos lábios. 

𝒕𝒉𝒆 𝒄𝒓𝒐𝒘𝒏 ✧ daniel seavey  Onde histórias criam vida. Descubra agora