Cap 16

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Zeus narrando

"Mais um dia de luta na Maré", essa frase de Bruna, ecoou na minha logo cedo e até agr estava martelando na minha cabeça. Não costumo ouvir opiniões de ninguém quando o assunto é manter a ordem aqui no complexo. Mas durante essa semana, vim pensando em algumas coisas que Bruna tem me falado. Como a pirralha mesmo disse " eu tou só fazendo dinheiro pra mim". Realmente meus investimentos em drogas, assaltos e armas, tem me dado retorno e eu tô investindo isso só pra mim e meus moleques. Não tou fazendo o dinheiro girar na favela. Tenho que fazer alguma coisa mesmo. Mas só não sei o que ainda. Será que vou ter que pedir conselho pra pirralha? Mas ela já tá puta comigo.
      Bolei um beck e peguei me telefone para ligar para ela, mas lembro que ela foi ver nossa mãe hoje. Resolvi deixa para depois. Me chamam no radinho, prontamente:

   - Fala pivete.- era um vapor.
   - Chefia, tem uma mina querendo falar com tu.- não fazia ideia de quem seria, ele continuo- é a amiga de Gean, pode subir?- não acreditei, o que diabos ela queria aqui?
   - Manda ela meter o pé.- falei seco, mas as palavras de Bruna ecoaram na minha cabeça novamente. E pensei rapidamente.- Diz  pra essa porra ficar . Se ela fizer alguma gracinha mete o pipoco!- gritei, eu mesmo iria buscar essa porra.
Terminei meu beck, dei uma lavada no rosto e sai da boca. Cantei pneu até o pé do morro. No caminho pensei realmente no que eu estava prestes a fazer. Mas se eu quisesse mesmo fazer algo para melhorar a comunidade e fazer o dinheiro girar aqui dentro. Essa ong era o melhor investimento que podia ser feito. E tava decidido. Mas não ia ser fácil com a porra dessa mulher na área. Cheguei no pé do morro em menos de 20min. Pensei que talvez ela tivesse ido embora, pois quando parei a moto nem a vi perto dos vapor, já desci puto da moto.
     - Cadê a maluca porra?- gritei com os muleques. E eles rapidamente apontaram para o outro lado da rua.
Mas o que diabos era aquilo? Para a minha surpresa, lá estava aquele amontoado de cabelo pulando para cima e para baixo, com os pés descalços, camisa amarrada na cintura e com o sorriso mais escancarado do mundo. Ela parecia tão feliz quanto às crianças que a cercavam. Ela pulava corda com umas 6 crianças aqui da comunidade, enquanto ela pulava a gurizada gritavam "vai tia, vai tia" em coro. A imagem era linda sim. Mas eu tinha que interromper, essa porra não tava aqui para brincar.
     - Então é assim que tu vai construir minha ONG?- perguntei sério e em tom elevado
      - Sua ong não, da comunidade.- ela retrucou, enquanto prendia o cabelo.
      - Se tá dentro da minha comunidade é meu. Tudo isso aqui é meu.- falei grosso e todos que estavam ali me olharam torto. Mas não dei moral.
      - Então, é assim que tu cuidas, do que és teu?- ela disse, enquanto se despedia das crianças. - E respondendo a sua pergunta, não é assim que vou construir a ong, não brinco em serviço, estava apenas conhecendo às crianças, afinal é por elas e seus pais que estou aqui. Ela pegou suas sandálias e veio até mim, todas as mães daquelas crianças se despediram dela. Parece que gostaram dela.
     Ela passou por mim sem nem dizer um ai. Ela continuou andando. Mas onde ela pensa que vai?
    - Onde tu vai? Sobe aqui.-
falei Em tom normal e ela me encarou por segundos, mas não disse nada, voltou e subiu na moto. Cantei pneu até a boca, não falamos nada a durante o percurso. Notei o medo dela  em suas mãos trêmulas  em meu ombro, ri disso, e isso só me fez correr mais, subi o morro em tempo recorde. Chegamos. Pensei que ouviria uns xingamentos. Mas só ouvi o seu silêncio. Mandei ela entrar e falei para os muleques que não queria ser interrompido. Pelos olhares, percebi logo seus pensamentos e ri disso. Entrei logo em seguida e ela já estava sentada em uma cadeira distante da minha mesa. E eu fiz questão de chamar ela para sentar na cadeira em frente à minha mesa. Ela veio ainda calada, então comecei tentando não explodir a cabeça dela por ter estragado o meu baile. Grego já tinha me explicado a situação então não iria tocar no assunto.
    - Então, qual o b.o?- perguntei
    - b.o? Não tem b.o. - ela disse- olha só, Gean me convidou para vir ajudá-lo em um projeto para uma criação de uma ong, e eu prometi que iria ajudar. Mas comecei com o pé esquerdo. Aconteceu aquele maldito acidente, e não me arrependo do que fiz, apenas me defendi, quantos mulheres passam por essa situação e não tem a mesma sorte que eu? Você deve saber a resposta. Eu quero ajudar, sabe? Esse trabalho vai ser muito importante para mim. Hoje, os poucos minutos que eu passei com aquelas crianças foi muito bom, conhecer um pouco delas e suas mães ao saber que estaria trabalhando para construção da ong ficaram mais felizes ainda e todos falaram que não vêem a hora da ong ficar pronta. Eu só quero ajudar. É isso.- ela falou de uma forma tão calma, como se explicasse para uma criança o seus motivos para fazer algo. Eu não queria saber seus motivos afinal estaria pagando, então ela teria que fazer do meu jeito.
    - Valentina teu nome né?- ela afirmou com a cabeça.- Tu não é a primeira a pegar o projeto, Gean me trouxe 4 pessoas aqui e todas com o mesmo discurso de que querem mudar o mundo, mas depois de passarem menos de uma semana conhecendo o pessoal e eles metem o pé. Quem me garante que tu não vai fazer o mesmo?
    - Eu mesma garanto, eu não estou afinal? No primeiro dia que pisei aqui ouvi todos os tipos de piadas machistas que se pode imaginar, fui assediada, xingada e quase levei um tiro. Mas não estou aqui pedindo para ficar?- ela falou em normal. Ela me pegou de surpresa com sua resposta. Arquiei a sobrancelha e a encarei.
    - Esse foi o primeiro dia, tu será mesmo capaz de aguentar por semanas até mesmo meses?- perguntei.
   - Se você não deixar eu tentar não saberei. E como você mesmo já disse eu não sou a primeira a vir para trabalhar, mas tamben não quero ser mais uma que desistiu. Quero ser a que ficou e fez.- respondeu olhando em meus olhos.
   - Espero que tu seja tão boa no que tu faz quanto tu é com as palavras, ligado? - respondi em tom sério.
     - Posso lhe assegurar que sou ótimo no que faço.- ela disse
     - Tem que ser mesmo, afinal é para isso que tu vai ser paga. E pra mim trabalham os melhores!- joguei essas palavras e ela fez careta
     - Não vim trabalhar NA ONG pelo dinheiro, arranjei um emprego para me sustentar, vou trabalhar por que quero ajudar.- ela quase grita
     - Tu de caô? Se quer fazer caridade vai pra outra freguesia morô?- falei já levantando- Ou tu te acha boa demais para receber meu  dinheiro?
    - Não é isso, fiz meus planos antes mesmo de vir para cá. Conseguiria um emprego para me sustentar, Gean não falou pra mim que alguém me pagaria, então se você pensa em fazer, guarde para quando a obra acabar, você usar para comprar materiais para a ong.- ela falou. Mas quem ela pensa que é para me dar ordens? Tá locona só pode
    - Olha, tu vai receber teu dinheiro, o que for preciso para comprar depois, eu compro. Dinheiro pra isso não vai faltar. Eu não quero é nego sair dizendo por depois que fez caridade na minha comunidade, morô?- gritei, e ela negou com a cabeça- É isso ou vou ter que contratar outra pessoa, não gostou então vaza.- mostrei a porta para ela e ela no mesmo instante me olhou com o olhos cerrados.
    - Você é sempre arrogante assim?-  ela perguntou e eu não acreditei
    - Tu me tirando? Tu vai ficar trabalhar pra mim ou não?- perguntei já sem paciência
    - Eu vou trabalhar para a comunidade sim. Para você não. Quando sair de casa hoje estava disposta a fazer qualquer acordo. Eu vim ao Rio para isso.- respondeu- agora me fala, você é mesmo sempre arrogante, ou eu que tenho má sorte e te pego nos seus piores dias?- ela tá locona mesmo, não sabe com quem ela tá falando.
    - Tu tendo é sorte, está me pegando de bom humor, não costumo botar em minha garupa patricinhas em minha garupa e muito menos deixar vivo que bagunça meu baile. Então pode acreditar estou sendo um doce contigo.- falei seco e ela percebeu que não era brincadeira, mas logo em seguida lançou um sorriso de deboche.
    - Deus me free te pegar de mau humor.- ela disse em deboche. Mas e quanto às obras?
    - O que tem?- perguntei
    - Quando começa? tem os materiais? Tem equipe? Quem vai trabalhar cmg, o local. Tudo, quero saber de tudo.- ela não parou mais de falar.
    - Essas parada é com o grego ligado? E que mané equipe?- disse
    - Pedreiros, pintores, gesseiros, marceneiros, ou você acha que eu farei tudo sozinha? Sou boa, mas sou uma meu bem.- ela piscou e sorriu, ela é bem engraçadinha
    - Não abusa da minha doçura Valentina.- disse sério- Vou falar com o pessoal e ver quem mexe com esses paradas e mandar falar contigo. O material, tu vai fazer a lista e comprar com Grego ou Rafa. Ver se tu compra materiais aqui pelo complexo, tem alguns depósitos de materiais de construção bacanas, quero fazer ó dinheiro girar aqui dentro.- falei
   - Entendi, e o local, tenho que ver para fazer o projeto e com base nisso fazer a lista de materiais.- ela disse. 
   - Vou te levar pra conhecer ele agora.- falei já levantando e pegando a chave da moto.- Vamos?!




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  "Vocês não sabem o prazer que é está de volta"
Então galerous resolvi voltar para o nosso livro, eu estava ocupado demais com a faculdade. Mas que o "coronga vírus" na área e nos deixou em quarentena. Resolvi voltar para terminar o livro.

Agora ele vai tá em novo formato, quero tentar fazer três capítulos seguidos de cada.

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⏰ Última atualização: May 27, 2020 ⏰

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