22:30 PM

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O tempo está passando, mas sinto que talvez ele tenha parado, com o único intuito de nos manter presos a essa situação

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O tempo está passando, mas sinto que talvez ele tenha parado, com o único intuito de nos manter presos a essa situação. Não sei até que horas essa festa vai, mas posso especular que é provável que vá até de manhã. As festas das amigas de Thalia sempre acabam indo até o amanhecer.

Ainda estou sentada no mesmo lugar. Faz algum tempo que Hector saiu, e começo a sentir meu coração acelerando muito rápido e a fadiga me atingindo decorrentes da expectativas de que ele venha logo e nos tire desse banheiro. Já observei meus pés várias vezes e, por estar em alerta o tempo inteiro, por que o tédio já me cerca, acabo percebendo que a guitarra de William está posicionada perto da pia. Ele anda de um lado para o outro várias vezes. Alguma coisa em seu rosto me denota preocupação, e não parece ser com relação a situação em que nos encontramos. Gostaria de saber o que se passa na sua mente, mas não vou pergunta. Não, não vou. Nao quero ser invasiva. Eu não o conheço o suficiente para lhe perguntar o que está acontecendo.

- Será que ele ainda vai demorar muito? - tomo coragem para perguntar, por que vê-lo andar de um lado para o outro não é algo que me transmite calma.

Ele para. Me olha. Parece pensar, tirando o cabelo do rosto. Acompanho seu movimento. É impossível não observá-lo deslizando as mãos pelas mechas longas. O que poderíamos ter sido? O questionamento surge rápido e veloz, sem que eu possa pará-lo. Me sinto uma tonta. Sério? O que poderíamos ter sido? Nada. Esquece isso. Se foca no teu objetivo que é sair daqui. Eu digo para mim mesma, disposta a me dar um tapa na cara para que eu não pense coisas estúpidas demais e acabe me assemelhando a uma garotinha boba.

- Eu não acho que tenha dado tempo o suficiente. Ele precisa encontrar a Suzane antes lembra? Daí conversar com ela, ver no que dá e então voltar para ajudar a gente. - responde, sentando-se à minha frente.

Só então noto que nunca antes estivemos tão próximos um do outro. Isso faz com que eu sinta algo queimando no meu estômago. Tento controlar os meus sentidos, mas vê-lo tão próximo a mim torna isso difícil. Droga! Por favor, Angelina, você já é adulta. Não haja como uma adolescente apaixonada. Mas como dizer isso quando o coração erra uma batida a cada vez que ele me lança esses olhos castanhos?

Controle-se! Peço.

—  Acha que ele vai conseguir?

Estamos nos encarando, e nunca antes eu quis tanto me enfiar em um buraco, por que olhá-lo é uma tarefa muito árdua quando seus olhos possuem a capacidade de me deixar completamente perdida e desorientada. O que está acontecendo comigo? Meu coração dança cada vez mais intenso.

—  Eu não sei, mas espero que sim. — diz ele — Acho que ele está muito determinado. Talvez o nervosismo o atrapalhe, mas eu espero que não. Até porque, acho que ele merece uma resposta.

—  Também estou torcendo por ele. — anuncio.

Continuamos nos encarando. Nossos olhos falam mais do que qualquer palavra escapando de nossa boca é capaz. Eu tento decifrar os seus, mas nunca acho que tenha certeza do que vejo. Mas os meus, estes denotam bem os meus sentimentos. Eles pedem uma resposta. Um simples "não" ou "sim" já seria o suficiente. É o que diz a Angelina mais nova, sentada enquanto nos observa e tampa a boca da Angelina mais velha e ranzinza que está pronta para agir.

Eu agradeço a pequena Angelina, embora eu esteja confusa, olhá-lo é como um vício.

—  Acha que ele vai voltar? — inquiro.

—  Acho que sim. Ele nos prometeu, lembra? — fala William.

—  Mas ele está bêbado, lembra? É meio difícil acreditar nas palavras de alguém que não está sóbrio o suficiente para pensar direito — aponto.

William concorda com um aceno de cabeça. Quero desviar o olhar, por que os seus olhos ainda estão sobre mim e isso me deixa envergonhada. Sinto que sou uma tonta.

—  Isso é verdade. Mas espero que ele volte. — diz ele. — Embora, agora, eu não esteja mais com tanta pressa.

Sua confissão leva uma quentura avassaladora até o meu peito. O que ele quer dizer com não estou com pressa? Ao menos, não mais? Quero dizer que isso não mexe comigo, mas mexe. Me sinto como uma garotinha no colegial, cheia de hormônios e desejos, esperando para ter as suas primeiras experiências.

A Angelina mais nova está saltitante, segurando firmemente a mais velha com o intuito de fazê-la se conter. Posso quase ouvi-la falando "Não estrague tudo, garota. Não seja tão amarga", enquanto a mais velha rebate "Você não sabe o que está dizendo, é só uma criancinha cheia de sonhos", deixando a mais nova irritada. A Angelina mais nova lhe dá língua, zombando da mais velha e ranzinza.

Enquanto isso, William e eu continuamos nos encarando. Eu sinto que posso confessar-lhe tudo o que ele quiser, e começo a cogitar que falar logo tudo de uma só vez não seja tão difícil quanto eu imagino. Talvez trabalhoso e incerto. Mas difícil? Não, não pode ser tanto assim.

Então a realidade volta como alguém jogando um balde de água fria sobre mim. Ele namora, lembra? Além disso, você precisa seguir em frente.

A Angelina mais velha parece ter ganhado, e agora a Angelina mais nova está cuspindo fumaça enquanto a outra sorri satisfeita.

Ela conseguiu o que queria, enfim. Me trouxe para a realidade. Ainda assim, não consigo parar de pensar em sua fala, e no que ela quer dizer. Provavelmente não seja nada, a Angelina mais velha sussurra. Vai ver ele só não está mais tão esperançoso de sair logo daqui e já se acostumou, de qualquer forma, eu ainda quero sair logo desse lugar, por que o calor só aumenta e a minha impaciência também.

Depois de algum tempo, em que o silêncio reina, William volta a falar:

—  Eu...

Mas então ele é interrompido por um barulho de passos e risinhos vindos do corredor. Primeiramente, não nos movemos. Apenas nos atentamos ao som.

Uma garota está sorrindo, enquanto ela fala, com a voz manhosa, coisas completamente desconexas. Aguço os ouvidos, tentando ouvi-lá melhor.

—  O que a gente está fazendo? — A garota diz, rindo - Acha que alguém vai vir até aqui?

Agora é a voz de um cara a qual ouvimos.

Não, acho que não. Não tem ninguém aqui.

Então vamos logo, antes que alguém venha! — sibila ela.

Olho para William. Ele também parece estar atento.

Mais sorrisos.

O que diabos está acontecendo?


Meu BluesOnde histórias criam vida. Descubra agora