Meu Blues

23:14 PM

23:14 PM

Quando o grupo se distancia o suficiente, William me solta. Eu olho em sua direção, furiosa. Que diabos esse cara acha que está fazendo? Por acaso ele está maluco?

— Qual é o seu problema? — rude, resmungo, com os braços cruzados e a face endurecida. Mas ele não me responde, apenas mantém-se sem expressão. Não há mais nenhum sorriso estampando os seus lábios e a seriedade em seu rosto está me deixando ainda mais enfurecida - Você é louco? Aquele grupo podia ter nos ajudado! Agora talvez tenhamos que ficar presos aqui até de manhã - continuo, mais ele ainda não está dizendo nada. Quero socar-lhe o rosto, por que q sua falta de resposta está me deixando cada vez mais chateada. O que me irrita mais é o fato de ele estar fitando-me estranhamente. Eu quero que ele fale e explique o por que esse imbecil tampou a minha boca — Não vai falar nada? Vai ficar parado aí me olhando? Inferno!

Contudo, quando estou abrindo a boca para continuar a despejar minha raiva repentina, sou surpreendida quando o seu corpo se aproxima perigosamente do meu e quando, inesperadamente, suas mãos alcançam o meu quadril e o envolve, puxando-me para perto de si. Ele me beija tão rápido que é impossível que eu tenha qualquer reação, e o que sinto pode ser comparado a explosão que deu fim a segunda guerra mundial. A eletricidade atravessa o meu corpo em frações de segundos, e eu sinto o meu ventre sensível no instante em que seus lábios encostam nos meus. E é exatamente o que imaginava.

Seus lábios tem o gosto da promessa que um casal fizera diante o céu iluminado pela lua e pelas estrelas, escondidos em algum canto reservado. Tem o gosto de saudade, de chuva boa numa tarde de domingo que prometia o sol quente demais, e que acabou trazendo uma chuva deliciosa e gostosa.

É só um selinho, talvez um pouco mais que isso, trazendo a expectativa de algo mais intenso depois. Talvez a chuva calma se transforme em tempestade.

Vejo a Angelina mais nova enlouquecer de alegria, falando "Eu estava certa, e você errada!" cantarolando ao ouvido da Angelina mais madura enquanto a outra tem a boca aberta em um "O" perfeito, desacreditada. Embora, logo depois, ela dê um sorriso tímido que não deixa transparecer tanto assim a sua felicidade, mas só por que ela não quer recuar.

Ele afasta os nossos lábios, mas eu ainda sinto a sua respiração e as suas mãos ainda me rondam, queimando a minha pele intensamente. É só o vislumbre de algo mais intenso, todavia, algo que esperei por tanto tempo. Parece que entramos em alguma espécie de mundo paralelo e talvez o tempo tenha parado.

Posso ver aquela garota disposta a entregar seu coração, embora ainda relutante.

Eu passo as mãos pelo seu cabelo, algo que sempre quis fazer, enquanto apenas tentamos digerir o que acabou de acontecer.

— Eu não posso. — ele sussurra.

E eu entendo o que ele quer dizer. Lídia. Por alguns instantes esqueci dela, e confesso que agora estou começando a me sentir mal por isso. Porra! Ele é namorado dela e ela namorada dele, e eu não quero entrar no meio dessa relação, por que isso é errado e por que eu nunca seria esse tipo de pessoa.

— Eu sei. — sibilo de volta, enquanto ele se afasta, levando consigo tudo o que me queimava a pele, encostando o seu corpo contra a parede do outro lado do banheiro e levantando a cabeça para a altura do teto, aparentando estar perdido.

Alguns, o que me parecem ser minutos se passam, enquanto ele ainda permanece em seu mundo particular. Eu apenas mantenho-me imóvel, ainda dormente perante ao que acabou de acontecer.

— Não era para eu ter feito isso. — ele sussurra e depois olha para mim. Permanecemos nos encarando por alguns instantes, até que eu decido quebrar o silêncio, sendo estranhamente muito corajosa, todavia, ele se pronuncia antes que eu, interrompendo a minha fala — Mas eu queria fazer. — confessa, e a sua confissão faz o meu corpo voltar a esquentar gradativamente.