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23:00 PM

Estou sentada novamente encostada na porta. William, mais uma vez, sentou-se defronte à mim. Quero muito saber que horas são, e se ainda falta muito para amanhecer. A música do lado de fora parece, inexplicavelmente, ainda mais alta.

Ninguém mais passou por aqui desde que o casal saiu às pressas, e Hector não voltou ainda, como eu já imaginava. Em meu íntimo, quero saber o que acabou acontecendo entre ele e Suzane. Será que ele se declarou mesmo? Se a resposta for sim, quanta coragem! E em relação aquele casal, o que será que acabou acontecendo quando eles se distanciaram demais e não conseguimos mais ouvi-los? A curiosidade inflama em meu peito.

Sinto-me como alguém que está assistindo a um filme em seu ápice total. Estar presa dentro desse banheiro parece-me como viver em uma realidade paralela à que se encontra lá fora, onde jovens adultos dançam, bebem, fumam e esperam chamar a atenção de alguém ou ao menos beijar alguém. Se sentir desejado.

Estou balançando as pernas compulsivamente, enquanto espero ouvir alguém passando por aqui, bastante ansiosa com a possibilidade. Todavia, não é apenas a ansiedade que faz com que eu esteja com as pernas tão agitadas. A inquietação vem também decorrente a minha bexiga que está apertada. Bastante apertada. Aguço a audição para tentar captar algo, mas tudo o que ouço é o barulho surdo da música muito alta lá fora e o dos meus próprios pensamentos.

—  Você está bem? — William indaga.

Assusto-me um pouco, por que a minha mente estava bem longe daqui. Concentro o meu olhar sobre ele. Seu cabelo cai para frente, e seus pés, por estarmos em um ambiente tão pequeno, e por ele estar sentado à minha frente, quase encostam em minhas pernas.

—  Estou. — respondo-lhe — É que já faz muito tempo que o Hector saiu daqui e ainda não voltou...

—  Não acho que ele vá voltar. — William aponta. Depois, cala-se. Vejo-o levar os olhos até a altura do teto manchado, com uma expressão extremamente absorta — Sabe o que eu acho?

—  O quê? — pergunto, sem dar-me conta que, embora eu não consiga visualizar, pois ele está de frente para mim, meus olhos buscam a sua tatuagem. Por que diabos quero tanto vê-la? Não sei. Não faço a mínima ideia. Mas há uma expectativa incomum aqui dentro, que me pede isso.

— Que o nosso amigo nos largou aqui sem pensar duas vezes quando se declarou para Suzane, teve uma boa resposta e agora estão se agarrando em algum lugar dessa casa neste exato momento. — volta a olhar-me. Há um sorriso divertido desenhando os seus lábios. — Na verdade, não o julgo que não tenha vindo nos resgatar. Talvez eu fizesse o mesmo.

Eu não posso negar, gosto desse sorriso.

—  Ou quem sabe ele se declarou de forma tosca devido à bebida, levou um grande fora e esqueceu da gente aqui dentro por que está neste exato momento chorando em algum lugar desta casa. — refuto sua ideia.

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