23:40 PM

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23:40 PM

- Droga! - William sibila quando nos afastamos.

- O quê? - frazo o cenho.

Há algo de errado? Eu me pergunto. Até mesmo as minhas outras duas versões o encaram em dúvida é expectativa.

- Não é nada que seja ruim. - ele explica bem rápido quando nota o olhar indeciso que lanço em sua direção.

Estamos ainda na mesma posição;seus braços ao meu redor causando-me a sensação de fogo intenso e seus lábios ainda reencostam nos meus. Ele não faz nenhum movimento que denote que pensa em se afastar. Na verdade, tira uma das mãos de meu quadril apenas para acariciar o meu cabelo. Seu toque me trás ainda mais eletricidade, se é que isso é mesmo possível.

- Então o que é? - incito.

- É que eu só penso em te beijar. - ele confessa, o que me faz sorrir. - Mas eu preciso primeiro resolver tudo com a Lídia. Por um momento esqueci dela.

Eu também, completo em pensamento. Por outro momento.

- Eu entendo! - afirmo, porque é verdade.

Será que isso é uma espécie de traição? Não. Não é. Eles não estão mais juntos. São apenas bons amigos. Todavia, entendo perfeitamente o que ele quer dizer. É preciso fechar um ciclo para que possa começar outro.

Silêncio.

Quando eu já me encontro distraída com meus próprios pensamentos e meu subcociente viaja longe, William alcança as minhas mãos outra vez.

- Mas isso... Isso aqui foi incrível! - William diz demoradamente, a palavra "incrível" saindo em uma entoação mais intensa de seus lábios. - Eu fico feliz que entenda que eu preciso falar com a Lídia primeiro sobre nós.

- É claro que eu entendo. - disparo. - Sei o quão ela foi e ainda é importante para ti.

- Isso. - ele sorri. - Ela sempre vai ser especial para mim, porque além de namorada, em primeiro lugar a Lídia foi uma das minhas melhores amigas. Eu a amo muito.

Dói um pouco. Eu a amo. Sim, dói. Mas eu sei que ele não está se referindo a amá-la como antes costumava. É só que ela é importante demais para ele. É como a mim a minha melhor amiga; eu a amo. A relação deles foi especial demais para ser simplesmente encaixotada e esquecida em algum cômodo onde os nossos pertences costumam ser empilhados. Aqueles aos quais a gente não quer se desfazer, pois, na maioria das vezes, nós remete a algo muito importante. A uma lembrança de um dia feliz com nossos amigos, por exemplo, ou de um dia de muita diversão.

Ela é especial para ele, e tudo bem. É tão especial assim como é para mim. É, mesmo que isso me deixe ligeiramente incomodada,eu entendo a relação deles.

- Vocês tiveram uma relação muito especial. Eu sei que ela vai ser sempre importante para ti e vai sempre ocupar um espaço considerável aí dentro. - eu toco ligeiramente em seu peitoril, mais precisamente onde o seu coração está localizado.

Ele sorri e segura a minha mão naquele ponto em específico. Quero beijá-lo novamente e sentir a sua explosão equiparada a de várias bombas atômicas dentro de mim sempre que isso acontece. Sempre que seus lábios macios encontram os meus. Mas sei que não posso. Sei disso.

- Isso é verdade. - ele diz e então os seus olhos fixam-se tão intensamente sobre mim que torna a tarefa de respirar algo quase impossível. É preciso que eu faça um enorme esforço para que eu consiga realizá-la com precisão. - Mas é você quem está ocupado o espaço central. Me desculpa por não ter insistido em você naquela festa.

- Não há motivos para se desculpar, William. - asseguro.

E sobre eu estar no espaço central do seu coração? Sua declaração me pega desprevenida. Quero corresponde-lo da mesma forma, mas os meus lábios estão formigando. O nervosismo me envolve tão forte que tudo o que consigo fazer é encará-lo assustada. Isso nunca aconteceu comigo e a intensidade do momento faz eu querer vomitar.

"O que está esperando? Responde ele!" as duas Angelina dizem em uníssono, euforicas.

- Você... Voce sabe que está sendo importante para mim também não é? - disparo, com a língua enrolada.

William ri.

- Você não é muito boa em expressar teus sentimentos, não é?

Dou de ombros.

- Nenhum pouco.

Me sinto um tanto deslocada e chateada comigo mesma.Voce sabe que sente o mesmo que ele, custa muito dizer isso a ele? Mas eu não posso negar que isso me deixa nervosa demais. Depois de tantas decepções que passei, é difícil simplesmente deixar alguém entrar. Não é como se fosse culpa minha. Quando se é quebrado tantas e tantas vezes juntar os caquinhos vai se tornando uma tarefa cada vez mais dificultosa.

E se eu dizer o que sinto por ele? E depois? Tentar adivinhar o que vai se suceder depois é um vício terrível que eu tenho. Isso faz a minha ansiedade aumentar cada vez mais, como um balão de gás hélio que alguém está enchendo e que está quase explodindo. Por que eu preciso sempre ter essa urgência toda? Que merda!

- Ei, está tudo bem! - William afirma e, pegando-me de surpresa, me abraça.

O quão isso é bom? É difícil falar. Eu não sou alguém que se sente muito bem entre os braços das pessoas. Contudo, nesses braços, entre os seus braços, senti-me estranhamente confortável. Por que você é tão confortável? Quero perguntar o que somos agora. Mas não acho que seja o momento certo. Por enquanto, mantenho-me focada apenas no momento em que vivemos.

Eu tento espiar a sua tatuagem novamente, mas é meio difícil desde ângulo. Deixo essa urgência de lado também.

- Abraçá-la não é errado, não é? - ele questiona com as sobrancelhas grossas e arqueadas quando nos afastamos.

Eu sorrio.

- Acho que não.

- Que bom! - ele parece realmente aliviado. - Porque eu gostei disso. Gostei muito.

O que vai acontecer depois dessa noite? Depois que sairmos daqui? Eu não sei e não quero pensar nisso. Por favor, mente, para com isso!

- William.

- O que?

O que vai acontecer agora? É o que quero perguntar. Mas, ao invés disso, os meus olhos viajam até a sua guitarra repousa da no chão do banheiro.

- Toca para mim.

- O quê? - ele questiona.

- Toca para mim. - digo outra vez, espacadamente, apontando com a cabeça para a guitarra.

Ele então parece entender o que eu quero dizer e sorri, aproximando-se da mesma. Eu o observo atenta.

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Meu BluesOnde histórias criam vida. Descubra agora