10º Capítulo

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Sempre que me perguntam se eu acredito em destino,se acredito em alguma força maior no universo que torna as coisas realidade eu tenho sempre muitos problemas em responder pois eu sou uma pessoa da ciência,tudo acontece por alguma razão mesmo que nós não saibamos qual é essa razão,por outro lado não sei se é por causa de todos os contos de fada que já assisti,mas sinto um reconforto em acreditar em destino em acreditar que estamos destinados a certas coisas.Este momento que eu vivo parece mesmo destino,por causa de um vírus fiquei em quarentena e enquanto isto descubro que preciso de um transplante e a pessoa que é compatível comigo é o rapaz com quem eu compartilho o quarto,o rapaz que conheço há treze anos o rapaz que tem confundido a minha cabeça.Se isto não é destino,então não sei o que é .

Por falar nele eu tenho que fazer alguma coisa,contar a alguém o que se esta a passar na minha cabeça ou ainda dou em doida,gostava de poder estar com alguém e falar-lhe o que se tem passado dentro da minha mente mas a única pessoa com quem eu posso falar aqui dentro é o Duarte e mesmo eu sabendo que posso falar de muita coisa com ele não posso falar disto eu não posso falar com ele sobre o facto dos nossos quase beijos,o facto de nos termos aproximado tanto na nossa estadia no hospital estarem a fazer com que eu comece a pensar nele de outra maneira eu não lhe posso dizer isso.

Depois do nosso quase beijo ontem a minha cabeça ficou um torbulhão,pela segunda vez em questão de uma semana mais ou menos nós estivemos a milímetros de nos beijarmos.Eu sei que a confusão nos meus sentimentos deve estar ligada aquilo que ele vai fazer por mim e ao tempo que temos passado juntos,eu percebo que a proximidade que nós ganhamos aqui,que a dependência um no outro que agora temos é justificada,nós estamos a passar por um mau momento internados num hospital tendo só um ao outro,acho que deve ser normal começarmos a depender um pouco um do outro e talvez ate sentimentos que não são reais aparecerem.

A verdade é que ele foi o primeiro rapaz que eu gostei realmente,antes dele era muito nova e gostar de um rapaz era pensar que ele era giro e fixe,mas quando eu gostei dele foi diferente sim claro ele é lindo mas não era só isso eu conhecia-o a bastante tempo já sabia como era a sua personalidade,que tipo de pessoa ele era e nesse ano nós começamos a falar mais e eu comecei a ter sentimentos por ele não correspondidos é claro, a única pessoa que sabia era a minha melhor amiga,Bruna. E agora estando aqui presa começo a sentir esses sentimentos novamente.Ele é um dos rapazes mais lindos que já alguma vez conheci tem um coração enorme,faz tudo para ajudar os seus amigos,é incrível com crianças,talvez por as vezes se comportar como uma,é alegre e consegue por toda a gente com um sorriso na cara,mas quando é preciso ser serio ele também o consegue ser.

Ele é uma boa pessoa com uma ótima personalidade e aquilo que ele esta a fazer por mim é tão altruísta,ele esta a sacrificar-se para me salvar e talvez isso misturado com os dois momentos que tivemos e com a pessoa que ele é me esteja a baralhar.Acho que devo ter lido romances e contos de fada a mais,a verdade é que sempre sonhei uma historia incrível como os romances um príncipe encantado,o Darcy da minha Elizabhet,o Romeu da minha Julieta,e neste momento começo a pensar que poderia ser ele,o Duarte podia ser o meu fado,meu destino.Devo estar a ficar maluca para pensar que nós os dois poderíamos ter um futuro fora destas quatro paredes.

São três da manha e eu estou sentada num cadeirão a ler e a pensar em tudo o que esta a acontecer na minha vida nunca pensei que o meu 2021 se fosse resumir a uma quarentena e um transplante mas acho que vai mesmo se resumir a isso,tenho medo,medo do transplante correr mal,medo que o meu corpo rejeite o fígado,medo da minha vida nunca mais ser normal,medo de não poder fazer o que fazia antigamente,eu tenho muito medo mesmo.Sinto uns braços a tocar nos meus e por um breve momento eu dou um salto.

-Assustaste-me,não estava a espera que acordasses.-Eu digo enquanto ele vem para a minha frente

-Eu acordei e reparei que estavas aqui o que se passa?-Ele pergunta aproximando-se de mim

-Não conseguia dormir é muito para pensar sabes,estou preocupada.-Eu digo e o seu olhar muda e consigo notar preocupação

-Levanta-te!-Ele ordena e eu olho para ele com uma cara estranha,porque raio é que ele quer que eu me levante

-Anda lá levanta-te, por favor.-Ele repete e eu faço e este senta se onde eu me encontrava antes,ele fez me levantar para se sentar ele,esta aqui outro cadeirão ao lado

-Senta te agora.-Ele diz e aponta para o seu colo eu olho para ele e balanço a cabeça a dizer que não ele lança me um olhar mortífero e eu aproximo-me para fazer o que ele pediu quando sinto o seu braço a puxar me para o seu colo .

-Eu fui uma menina bem comportada este ano,eu quero uma casa de bonecas e uma barbie para o natal por favor.-Eu digo e ambos rimos,a forma como estávamos fez me lembrar as crianças sentadas no colo do pai natal a fazer os seus pedidos de brinquedos.

-Engraçadinha,agora diz me o que se passa?-Ele diz tocando com o seu indicador no meu nariz

-Tenho medo que algo corra mal tenho medo de rejeitar o fígado,medo de não poder voltar a fazer os desportos que fazia,eu comecei a nadar aos três anos e desde ai nunca parei,eu não quero ter que parar agora,na verdade aquilo que eu precisava neste momento era nadar,faz me relaxar ter calma e eu estou a precisar disso.Eu não sei o que me vai acontecer e se corre mal tu vais perder parte do teu fígado para nada e eu posso perder a vida.-Eu digo e lágrimas começam a escorrer dos meus olhos o Duarte apressa-se a limpa-las com a sua mão.

-Não te quero ver assim,eu detesto ver te chorar,pois não sei o que fazer para te animar.Vai correr tudo bem,eu vou dar te parte do meu fígado tu vais ficar boa e após um tempo de recuperação vais voltar a nadar e a luta,vais ter que ir devagar e fazer todo o que os médicos recomendam mas eu não te vou deixar passar por isso sozinha,vou estar sempre contigo e nós vamos ultrapassar isto juntos e eu prometo que quando poderes nadar eu vou nadar contigo.Não tenhas medo vai ficar tudo bem eu sei que sim.-Ele diz e eu abraço-o,eu não sei o que este rapaz me faz mas estar ali abraçada a ele eu senti aquilo que sinto quando entro numa piscina fria que me faz arrepiar,estar ali abraçada a ele eu sinto a calma e o descanso que sinto debaixo de agua.Então eu deixei me estar abraçada aquele rapaz que me trás tanta tranquilidade.

Quarenta dias  Quarenta noitesOnde histórias criam vida. Descubra agora