Já havia passado a última visita do meu horário de plantão e olhado todos os exames que haviam chegado nas últimas horas, o que deu para atualizar o prontuário de bastante gente. Agora só faltava fazer uma última coisa para poder ir para casa.
Sigo pelos corredores do hospital vendo cenas que já haviam se tornado rotina nos últimos dois anos. Eram soldados feridos por todos os cantos, já que quase não havia mais macas para colocar tanta gente que chegava durante semana.
Toda quarta-feira chegavam homens e mais homens sem braços, pernas, ou completamente mutilados por balas, bazucas e toda espécie de bomba e arma que um ser humano possa imaginar que exista.
A maioria acabava indo para casa sem um dos membros e completamente perturbados mentalmente. Como médica graduada, não tinha autorização para ir para os campos de batalha, a linha de front, como chamávamos. Nosso trabalho é permanecer nos hospitais da capital para fazer as cirurgias mais graves. Quem acaba com a obrigação de dar os primeiros socorros em batalha são outros soldados que recebiam um curto treinamento de 16 semanas.* Não era de se espantar que a maioria dos homens que chegavam aqui pareciam que tinham sido operados por açougueiros. Mas como dizia o governo, não podiam arriscar a vida de médicos reais no front. A gente sabe segurar um bisturi com muita precisão, mas não uma arma. Seríamos os primeiros a ser mortos.
Sigo pelos corredores até chegar a sala de repouso dos pacientes que passaram semanas no CTI (Centro de Tratamento Intensivo). Homens que chegaram quase sem esperanças de vida mas que agora estavam prontos para retornarem para suas casa. Pelo menos até serem convocados novamente.
Pelas janelas de vidro, percebo que Louis já me avistou e abre um largo sorriso. Não posso evitar começar a rir. Um misto de felicidade e um certo ódio (mas nada sério) por ter perdido a aposta tomam conta de mim. Abro a porta e escuto sua voz ecoar pela sala:
- Doutora Heather! A mulher que salvou minha vida, senhores! Olhem como ela é gostosa! – Todos os homens da sala começam a aplaudir e assobiar enquanto caminho com um sorriso largo até a cama de Louis.
- Tá bom, chega de gritos seus nesse hospital, cabo Tomlinson! Como se sente? – digo enquanto coloco o termômetro embaixo do braço de Louis pela última vez.
- Melhor impossível! Principalmente agora que vou receber meu prêmio da aposta – o sorriso de Louis parece de uma criança de 05 anos que acaba de receber uma caixa cheia de doces.
- Louis, eu estou falando sério. Se sente bem? Posso dar alta pra você hoje?
- Sim, senhora!
Olho de esguelha para Louis e anoto as últimas informações no prontuário daquele paciente que aprendi a gostar e que fez da minha vida um verdadeiro inferno de alegria e agonia nas ultimas semanas.
- Flashback ON -
Louis chegou com as duas pernas comprometidas. Uma com fratura exposta e outra baleada. Como havia demorado cerca de 04 dias para chegar até aqui, estava praticamente morto devido as infecções e com caso grave de assepsia* do ambiente. Jurávamos que teríamos que amputar as duas pernas mas consegui salvar ambas em diversas cirurgias exaustivas. Mas é claro que para ele conseguir entrar nas cirurgias sem riscos maiores, a infecção precisava ir embora.
Louis era um soldado muito elogiado por todos os colegas que vieram com ele e as histórias que me contaram dele me fizeram o admirar de jeito enorme. Havia se sacrificado por seus amigos em combate e não parava de me cantar mesmo semi morto numa cama de hospital. Era charmoso, não podia negar. Mas logo nos tornamos grandes amigos.
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Love In France
FanfictionHeather é convocada para trabalhar como médica durante a Segunda Guerra Mundial e é enviada para o interior da França com o objetivo de salvar o máximo de vidas possíveis. No meio de tantas bombas e vidas destroçadas, surge o amor entre ela e o sold...