Capítulo 3 - O Porto

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    Ela bateu a porta de madeira com força ao abrir, teria se desculpado em uma situação normal, mas não tinha tempo para isso, correu até a fraca centelha de luz amarelada em um dos cantos do local, se jogou no chão à frente do fogo e ficou parada ali encolhida com os braços envolvendo o corpo úmido que tremia sem parar, os dentes batiam uns nos outros dentro de sua boca sem que ela pudesse controlar, sentia as gotas geladas descerem de seus cabelos e das roupas pelo corpo.

– Ei pequena – disse a voz forte e enérgica – acho que assim não é o jeito certo de se esquentar.

    Ela não disse nada, ficou apenas ali deitada de lado no chão tremendo. Após alguns segundos ela sentiu as grandes mãos à levantarem do chão sem nenhum esforço e a colocarem sentada numa poltrona ao lado do fogo, ela continuou da mesma forma, encolhida, abraçando o próprio torso e tremendo. Após alguns segundos as mãos voltaram dessa vez trazendo um fino cobertor que foi enrolado em torno dela.

– Isso aqui vai te aquecer – disse a voz do dono das mãos.

    Ela não se mexeu, não falou nada, nem piscou, ficou apenas ali enrolada no cobertor sentada.

    Carne entrou pela porta aberta, parou no limiar da entrada e se chacoalhou lançando uma boa quantidade de água para todos os lados salpicando as paredes com pequenos pingos. O cachorro entrou dando uma olhada entorno no bar, ou na taverna como a placa do lado de fora dizia, era um local simples feito de uma madeira grossa e escura que não deixava o ar frio do inverno entrar e mantinha o frescor nos dias quentes de verão, o lugar não era muito grande nem espaçoso, o balcão era longo e feito de uma madeira mais clara e mais lisa, cerca de cinco banquinhos estavam em torno dele, de iluminação apenas um lampião em cima do balcão e a lareira que ficava junto a parede direita com suas duas grandes poltronas próximas, uma delas ocupada por Noah enrolada no cobertor.

– Oi Carne – disse o homem atrás do balcão, era um homem com cerca de 40 para 50 anos de idade, era grande medindo 1,85, seus cabelos ruivos estavam arrumados em um trança grossa, longa e única jogada por cima do ombro, no rosto simpático ostentava um espesso bigode ruivo e um nariz arredondado, quase caricato, ele era grande não só em estatura, mas também em corpulência, ele não tinha músculos bem definidos, mas não chegava também a ser gordo, era um homem com bastante dos dois.

– Oi Old Harris – disse a voz de Carne dentro da cabeça de Harris.

– Pegaram uma chuva daquelas, hein?

– Nem queira saber – o cachorro se aproximou da lareira, girou um pouco no mesmo lugar e deitou ali – não esperávamos estar tão frio essa noite!

– É, as estações estão mudando, só vai esfriar daqui para frente. E é bom que vocês dois se cuidem, o barco de vocês não tem nenhuma cobertura nem nada.

– Noah falou que vai ficar aqui durante alguns dias enquanto o tempo não melhora.

– Isso foi antes ou depois dela pegar hipotermia e ficar desse jeito – perguntou apontando com cabeça para a garota estática.

– Alguns minutos antes – respondeu a voz rindo – ela não costuma falar nesse estado.

    O homem deu uma risada calorosa junto da voz de Carne em sua mente.

– Ei, quer uns biscoitos – perguntou o homem.

– Como poderia recusar?

    O homem pegou um prato com quatro biscoitos e levou até o cachorro, deixando calmamente o prato no chão ao lado do local onde o cão repousava. O cachorro se deliciou com as guloseimas deixando de restos apenas pequenas migalhas nos pelos entorno de sua boca e no prato. Ele olhou uma última vez para Noah, dessa vez ela estava de olhos fechados e com a cabeça caída para o lado, a respiração também estava calma, ela estava dormindo. O cachorro parou e ouviu o som do local, o som da madeira atrás de si queimando e de vez em quando crepitando, o som dos pingos de água batendo no teto do local num ritmo que lembrava as batucadas de Noah de vez em quando na madeira do barco, ou seja, não tinha ritmo. Ele deitou a cabeça no tapete grosso feito de pele e assim como a dona, dormiu.

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