Era tão gostoso ficar grudada com Jenny na cama antes de dormir que Noah queria que ambas ficassem daquela forma para sempre, era quentinho, confortável, era bom sentir a respiração ritmada da mulher e os carinhos calmos que ela fazia na cabeça dela apenas reforçava a sensação de conforto e segurança, como se daquele jeito nada pudesse jamais afligir nenhuma das duas. Noah abriu os olhos e conseguiu ver parte do quarto com a luz fraca que vinha da janela, no pé da cama estava carne dormindo enrolado e calmo, em sono profundo para um cachorro, os pés descalços de Noah só alcançavam os joelhos de Jenny, era o que ela achava, ao esticar uma das pernas viu seu pé passar um pouco joelho da mulher, ela deu um sorrisinho, estava crescendo, olhando de novo pela janela ela conseguiu ver parcialmente o céu estrelado, e conseguia ouvir um grilo cantando.
– Você tá bem minha patinha – perguntou Jenny com voz calma quase cochichando.
– Tô – respondeu a menina meio surpresa pela pergunta.
– Tem certeza – insistiu ainda num tom amigável e carinhoso.
– Acho que sim – a menina talvez sabia o que Jenny pretendia.
– Porque acha?
– É que – uma pequena pausa foi feita, Noah não queria falar sobre aquilo, queria apenas esquecer e continuar sem se lembrar, mas o jeito calmo e quase como um ronrono que Jenny perguntava a fazia responder, mesmo que não soubesse as respostas – não sei...
– Algo a ver com você ser mulherzinha agora?
– Não – na verdade Noah achava que sim, mas não diretamente, mas não sabia como falar sobre.
– Tá lembrando de casa – Jenny disse meio devagar já sabendo que aquilo poderia ser delicado, foram três anos desde que falaram sobre.
– Sim – disse Noah querendo agora desfazer seu desejo de aquele momento durar para sempre.
– Calma minha patinha – Jenny moveu a mão e pegou a de Noah, entrelaçando os dedos uma na outra – vai ficar tudo bem.
Aquilo confortou de novo Noah, não como se sentia no início, mas certa coragem havia voltado ao corpo mesmo pensando em sua casa, sua antiga casa.
– Você nunca me contou toda a história – disse Jenny cochichando – sempre parava na parte dos blocos de madeira.
Noah deu uma risadinha e Jenny também.
– Eu estou aqui Noah, vai ficar tudo bem – Noah, não minha patinha, Jenny estava séria naquele momento – vai ser bom falar sobre isso. Acredita em mim...
Um silêncio caiu pelo lugar, apenas o grilo era ouvido fazendo sua sinfonia da noite sem pausas.
– Eu conto dos blocos de madeira – perguntou Noah.
– Não – a mulher deu uma risadinha – conte desde o início, vai que eu esqueci de uma parte.
– Tá bom – Noah puxou ar para os pulmões antes de começar.
***
Estava garoando naquele dia, uma garoa fina e calma, quase não era perceptível, havia sol também, de vez em quando os raios amarelados junto da água faziam pequenos arco-íris, o tamborilar dos pingos no telhado da casa simples só seriam ouvidos se prestassem bastante atenção, a água escorrendo no vidro das janelas era apenas pequenos filetes e o som do vento do lado de fora era quase inexistente embora se olhasse para as árvores iria ver as folhas se mexerem calmamente em uma direção, leste. E dentro da casa o silêncio era inexistente, os gritos e gemidos de esforço da mulher no parto eram dados em pequenas pausas, para a mulher e o marido aquele tempo foi quase interminável, ela ali empurrando o bebê e ele esperando enquanto não podia fazer nada para amenizar a dor dela, mas no fim tudo valeu a pena quando o choro da pequena menininha tomou lugar dos sons de esforço da mãe.
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Noah...
AdventureNoah é uma garota que vive no Charco, um lugar onde dezenas de rios atravessam as florestas e cortam caminhos, acompanhada de seu cachorro, Carne, de sua sede de aventura e outros amigos e conhecidos ela viverá muitas histórias.