Noah pegou a caneca de madeira e bebeu um gole bem grande do chá quente, o sabor adocicado se espalhou por toda a sua boca e ela desfrutou do prazer antes dele sumir e ela ter que tomar mais um gole da bebida para saciar sua vontade de mais.
– Como assim infinito – perguntou Pax se inclinando um pouco mais na bancada curioso.
– Li em alguns lugares que o universo – disse Old Harris apontando com o dedo tudo em volta – é infinito, jamais tem um fim.
– Como que uma coisa não tem fim – questionou Pax.
– É um conceito antigo – disse a voz de Carne na mente de todos – de acordo com o que Harris me explicou. É uma ideia muito antiga e pelos estudiosos de antes é a mais difundida e creditada como mais possível.
– Exato, aprendeu bem – disse Harris – eles acreditam que o nosso mundo não é nada além de uma grão de areia no meio do universo, e que nós somos menos que isso ainda.
– Menor que aqueles mosquitinhos infernais – perguntou Noah dando uma pausa na bebida.
– Bem menor Noah – respondeu o homem velho.
– Que ideia estranha de se acreditar – comentou Pax bebendo um gole de seu chá.
– Os antigos não achavam isso – disse Carne – achavam que valia mais a pena colocar a sua existência abaixo da existência das outras coisas.
– Eles não gostavam de si mesmos – conclui Noah.
– Verdade – concordou Pax – quem é que não se importa com ele mesmo que acha que é apenas menor que um grão de areia?
– Talvez eles viam alguma beleza nisso – disse Harris.
– Qual – perguntou Pax.
– Aí eu não sei mais – falou Harris se ajeitando em seu banco.
– Quero mais – pediu Noah levantando o copo vazio.
– Você já tomou uns três copos, por enquanto chega Noah – disse Harris pegando o recipiente sem nada.
– Ain – manhou a menina jogando o rosto no meio dos dois braços na bancada – fiquei triste.
– Sabe o que poderia tirar essa tristeza – Harris sorriu se aproximando da menina e sussurrou o final – uma história.
Noah levantou a cabeça antes mesmo de Harris terminar a última palavra, os olhos dela estavam atentos e curiosos, pronta para ouvir qualquer uma das histórias a serem contadas pelo homem.
– Muito bem – disse Harris antes de começar a narrativa.
"Certa vez, um jovem aventureiro estava a dias tentando atravessar um caminho com correntezas fortes, tão fortes que estava sendo um trabalho árduo tentar sequer mover a sua embarcação para algum lado desejado, a água sendo empurrava para lados aleatórios fazendo o voltar para as margens da floresta. Mas o homem não se viu por derrotado, afinal ele era conhecido como um dos melhores navegadores do Charco, passando por caminhos do rio que muitos julgaram impossíveis, e ele era habilidoso, mas muito arrogante, e naquele dia, contra aquela correnteza, o que falou mais alto foi sua arrogância, não suas habilidades. Ele acampou a margem do local, e em momento algum parou de pensar em como poderia atravessar aquelas correntezas, durante sua breve janta composta de um pouco de carne assada na fogueira, ele pensou que talvez ir pelas margens dessa parte do rio poderia lhe ajudar a descobrir um ponto onde pudesse passar, ou pelo menos descobrir de onde as correntezas vinham, naquela noite ele dormiu pensando naquilo, ouvindo o som da água. No dia seguinte foi o que fez, pegou algumas de suas coisas no barco as colocando em sua mochila, e com os equipamentos que cabiam nela ele seguiu pelas margens daquela parte do rio, foram dias de caminhada, sempre parava só quando a noite estivesse em um breu total e acordava quando os primeiros raios de sol saiam, volte e meia olhava para o rio com as fortes correntezas, e no seu pensamento arrogante pensava "Eu irei lhe derrotar, custe o que custar", ele repetia isso umas 3 vezes por dia, todo dia. Com o tempo suas botas desgastaram e ele teve de andar com os pés nus na floresta, algum tempo depois sua mochila furou e ele perdeu algumas coisas, só percebeu o rasgo longe demais para encontrar suas coisas perdidas, ele pegou uma..."
– Pera – disse Noah – como ele não viu suas coisas caindo?
– Talvez fosse um furo pequeno – respondeu Harris.
– Mesmo assim, tem que ser muito molóide para não ver.
– Você já perdeu várias coisas sem perceber – disse Carne.
– Não começa – disse a garota – não tem na...
– Ele não viu o furo e pronto – interrompeu Harris – deixe me continuar...
"Ele pegou uma febre certa noite e ficou dois dias parado no mesmo lugar, sua comida foi roubado por guaxinins enquanto alucinava, quando se recuperou ele voltou sua caminhada, sempre repetindo, "Eu irei lhe derrotar, custe o que custar", ele machucou o pé descalço num dos dias e foi mancando com dor pelos próximos, mas não se abateu. Ele andou durante tanto tempo que parou de contar, e parou de perceber o rio, mas quando o viu se assustou, as margens estavam muitas vezes mais distantes que na região que ele iniciou o trajeto, talvez mais de 100 metros de distância uma da outra e eram penhascos com 4 metros de altura da terra até o rio, a correnteza estava mais forte ainda, furiosa, e ele cansado olhou para aquilo e pensou "Custe o que custar" e seguiu sua viagem de novo. Mas naquela noite, enquanto comia um esquilo caçado naquela tarde, algo aconteceu, uma luz, pequena, do tamanho de uma mão humana, desceu dos céus, inicialmente ele achou estranho mas não prestou atenção, mas com o tempo percebeu que a luz fazia círculos entorno dele, e conforme o tempo esses círculos ficavam mais próximos, ele então assustado após ter a luz encostado em sua mão levantou-se com medo, a luz dançou e dançou durante alguns minutos a sua frente, até sair voando para longe, mas parando, ele, por alguma razão que não entendeu, seguiu a luz. Durante algum tempo ele foi pelo mesmo caminho que a misteriosa luz, até ver ela subindo aos céus novamente e desaparecendo, sem ela, ele não conseguia enxergar nada na noite, apenas a escuridão preta. Ele cambaleou para o lado e bateu em algo duro, apalpou a coisa, era fria e dura, era pedra, ele continuou apalpando e percebeu que se tratava de um paredão de pedra, algo colossal que subia muito acima de sua cabeça e muito além dos cumprimentos de seus braços, ele se escorou nela e sentou no chão, ficou um tempo ali, e pensou, "Você me derrotou, eu admito". Um segundo depois de seu pensamento o mundo pareceu voltar a ficar de dia, tudo se clareou e ele pôde ver o grande paredão que se estendia muito mais alto que qualquer coisa que ele já viu, mas quando ele olhou para frente viu algo, algo lindo, algo voando acima de sua cabeça, ele colocou os braços a frente do rosto para proteger os olhos da luz que emanava do objeto, uma luz pulsante tão forte quanto o sol que parecia ter todas as cores que existiam, e ouvia um som, o som mais bonito que ele já ouviu na vida. Quando o homem voltou para sua vila estava apenas com a roupa do corpo e um colar, um colar simples com uma corda em uma pedra comum."
– Tá – disse Noah – e dai, oque era a coisa voando?
– Não sabemos – disse Harris – é só uma história.
– Uma história sem fim – comentou Pax – gostei, algo bem fantástico.
– Mas não faz sentido, não tem fim – disse Noah chamando a atenção do menino.
– Nem toda a história precisa ter um fim Noah – argumentou o garoto.
– Claro que precisa você vai contar uma história pela metade?
– Noah – chamou Harris – se eu lhe dar mais um copo de chá você deixa de discutir?
– Sim – disse a garota sem nem pensar.
Harris riu e se virou para encher o copo da menina, Carne olhou para o homem e por dentro sorria, ele era um bom homem, sempre recebia todos bem e nunca queria saber de problemas de fora, apenas queria cuidar do seu bar e talvez deixar um sorriso em quem passasse por ali. Harris trouxe um prato com carne e deixou ao lado do cão, o cachorro olhou para o homem, o sorriso simpático e as marcas da idade, mas, no pescoço dele havia algo que Carne nunca havia percebido antes, uma colar feito de corda simples numa pedra comum.
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Noah...
AdventureNoah é uma garota que vive no Charco, um lugar onde dezenas de rios atravessam as florestas e cortam caminhos, acompanhada de seu cachorro, Carne, de sua sede de aventura e outros amigos e conhecidos ela viverá muitas histórias.