To be "gold" (13/12/18)

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               Havia, em uma pacata cidade cujo nome não é relevante, um grupo singelo de amigos que sempre andavam juntos. Eles moravam na mesma vizinhança, frequentavam os mesmos ambientes, possuíam praticamente a mesma rotina, enfim, eram praticamente inseparáveis. No entanto, existia um entre eles que, por falta de expressão melhor, chamava a atenção por onde passava.
               Esse garoto conseguia fazer tudo, mas é tudo mesmo, qualquer coisa que seu cérebro mortal conseguir imaginar ele realizava com maestria impecável. Ele sabia dançar como um profissional, cantava como se tivesse nascido para isso, desenhava e pintava como um artista, tocava todos os instrumentos mais "famosos"...Receio que vocês devem estar pensando: "Tá, tudo isso está ligado de alguma forma a "arte", não é grande coisa assim!. Mas, meus queridos, eu ainda não terminei, ele também era exímio em esportes, em geral, desde o futebol, basquete e vôlei até xadrez (E antes que alguém diga que xadrez não é um esporte, ele é sim, vai conferir no Google). E antes de continuar, sabia que ele também era poliglota?! Ok, ok, vou parar por aqui se não essa história será apenas sobre suas capacidades e esse não é meu objetivo, mas só concluindo o raciocínio, o menino conseguia realizar com esmero tudo que tentava, ele era, literalmente, "perfeito", o menininho "de ouro".
               Mas os anos se passaram, os amigos cresceram e, contra todas as expectativas, permaneceram unidos e felizes. Certo, tenho que admitir, talvez não tão felizes assim, um deles havia perdido um pouco da alegria da infância, esse já estava crescido, podia entender agora as famosas "entrelinhas" das mensagens ao seu redor, lembram-se do nosso menininho dourado? Pois é, ele se tornou esse jovem, já não mais ingênuo e impressionável por um título que viria a ser sua maior maldição.
               Mais anos se passaram e os nossos jovens que se tornaram adultos responsáveis, agora ocupados com os trabalhos e as suas próprias famílias, já não possuíam tanto tempo para ficarem perambulando igual a quando eram crianças, mas, ainda assim, tentavam marcar encontros frequentes, seja para comer uma pizza, ir ao cinema, ir à praia...Não importava o local, o que realmente importava era o fato de poderem estar juntos mais uma vez. Eh...Talvez não tão juntos assim, lembram-se do nosso jovem de ouro? Ele já não está mais tão dourado assim, já não mais tão perfeito, agora ele reside em uma clínica de recuperação para pessoas com comportamentos suicidas.
               Chegamos então no ponto chave da minha história, sabe o que você faz quando chama alguém de perfeito? Sabe o que acontece com pessoas que são colocadas em pedestais inalcançáveis? Você, de uma maneira simples de se dizer, praticamente assina seu atestado de óbito, talvez não físico, mas mental. Você condena a pessoa a viver uma vida rodeada de tantas expectativas que ela para de viver por si mesma e passa a sobreviver pelos outros, até que um dia nem isso faça mais. Atender as expectativas externas é um fardo pesado demais para qualquer um, ninguém é feito de ouro e ninguém está imune a corrosão, tentar alcançar esse título é se resignar a ser oxidado pelo tempo...Sem brilho, sem valor...Cuja única utilidade é ser jogado fora, pois ninguém quer descobrir que seu ouro não passa de uma mera bijuteria.

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