No topo de um planalto, existia um pequeno e simples vilarejo no qual a paz reinava, cada pessoa que vivia lá era feliz, alegre, simpática... Enfim, era um lugar agradável para se viver, não existia roubo e nem qualquer tipo de violência, era um lugar que beirava a perfeição.
Todas as pessoas que ouviam falar dessa vila queriam morar nela, ou pelo menos visitá-la, mas como não querer? No entanto, dizem que chegar lá é impossível, a cidade é considerada inalcançável por muitos, pois em um lado existe uma floresta repleta de animais perigosos e plantas venenosas e, no outro, um abismo sem fim.
Essas populações nunca se viram, a do vilarejo e do resto do mundo, então, logo essa história passou a ser considerada uma lenda como diversas outras...No entanto, esse pequeno conto não é sobre como essa vila foi esquecida, mas sim como ela passou a ser reconhecida...
Ao contrário do resto da população, o povo que morava naquela pequena cidade conseguia ver coisas que não sabiam explicar o que eram, tudo que conseguiam eram meras sombras, vultos...Devido a isso, surgiu um mito naquele local, mito que dizia que aquilo que viam representava tudo de ruim que eles com tanto trabalho conseguiram superar, todas desgraças imagináveis habitava junto aquelas sombras, então, conscientemente, todos evitavam pensar naqueles "seres", ninguém ousava nem pensar em sair da vida perfeita que tinham a ilha pois tinham medo, e acredite, tudo aquilo que não conseguimos explicar torna-se bem mais assustador...
Mas, ainda assim, contrariando todas as expectativas, em cada final de ano, sem exceção, um jovem do vilarejo começava a pensar, a imaginar como seria alcançar o outro lado, a questionar como era o desconhecido...Por causa disso, em cada fina de ano, o vilarejo perdia um jovem para o abismo.
Não era segredo para ninguém que os mais velhos morriam de medo desse acontecimento anual, tanto que apelidaram de a doença da juventude ou, como popularmente era chamada, maldição da curiosidade, que promovia a quem fosse infectado a vontade de experimentar coisas novas, de conhecer lugares diferentes, ela corrompia a mente dos jovens e os faziam ficar rebeldes.
Diversas foram as medidas tomadas pelos adultos para evitar esse acontecimento, conversas, proibições, obstáculos, chegaram a criar uma classe de trabalhadores para perpetuamente lançarem neblinas sobre o abismo, de modo que fosse impossível enxergar o outro lado (infelizmente,não funcionou como os anciões planejaram, dificultou sim a visualização do outro lado por eles, mas não impediu a completamente, ao contrário do que ocorreu com a outra população, se antes eles viam algo, agora só uma espeça neblina, como se não existisse nada além do penhasco), de tudo eles fizeram a fim de impedir que mais um jovem deixasse o vilarejo.
Como tudo que já haviam tentado fazer falhou, os mais velhos resolveram fazer uma última tentativa, no dia de ano novo daquele local a cidade inteira se reuniu a beira do abismo, só aguardando o jovem doente da vez aparecer...Assim que ele chegou nem olhou para a população, ele possuia um objetivo e ia completá-lo, ia finalmente retirar a angústia que sentia no peito toda vez que via aquelas sombras mas não sabia explicar o que eram...Contudo no momento em que se preparava para pular uma mulher o chamou e perguntou:
"Para quê vai fazer isso meu filho? Você não gosta da sua vida aqui? Para quê se aventurar para o desconhecido? Por que correr o risco de perder tudo o que tem para, no final, nem saber se irá ganhar algo? Por que meu filho, por quê?"
"Sim, eu gosto dela,é muito gratificante por sinal...Mas, sabe de uma coisa? Ela não é vida, nos acostumamos com o comodismo do conhecido, nos habituamos a sempre ter as mesmas respostas que esquecemos o significado de uma pergunta, lidamos todos os dias com as mesmas situações que não saberíamos reagir a uma simples mudança de rotina...E você ainda pergunta pra quê...Mas eu vou te responder, enquanto isso perdurar, enquanto todos vocês não abrirem os olhos para o que realmente importa,sempre existirá um jovem "doente" para se sacrificar pela verdade, sempre existirá um "amaldiçoado" para desestabilizar a sua tão amada rotina...E, se o que tiver do outro lado não valer a pena esse sacrifício, garanto-te, a satisfação de gerar, nem que seja ínfima, uma pontada de dúvida na mente de todos vocês sobre o motivo de fazermos isso, já será mais que suficiente. E, além de tudo isso, eu prefiro a chance ilusória de aprender a viver do que ficar aqui mais um minuto e nunca descobrir o porquê de estarmos aqui."
Respondeu o jovem ainda de costas, ao terminar ele se virou para a mãe, sorriu e pulou.
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A única coisa que ninguém sabia explicar no mundo "normal" era por que a lenda da cidade perfeita havia deixado de ser propagada...Claro, e os jovens que sempre se mudavam para lá no primeiro dia do ano, afirmando enfaticamente a quem pudesse ouvir que cidades como a da história não poderiam existir, até porque elas eram conhecidas por serem perfeitas e quando se trata de seres humanos, essa expressão é impossível de existir.