Capítulo 02

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Semanas já se passaram desde o início do isolamento e, para a surpresa de todos, a maioria dos alunos têm seguido as regras a risca. Os poucos alunos que resistem as ordens dos militares recebem castigos que vão de limpar os banheiros ao final do dia, até ficar sem a próxima refeição.

Quem já se acostumou com as punições dos militares foi Thiago, que só na última semana recebeu quatro punições. Os amigos do garoto o alertava sobre os riscos de se opor aos maiorais, porém Thiago insistia que não se podia confiar em militares e já planejava um jeito de fugir do colégio o mais rápido possível.

Outro que de vez em quando recebe punições é Lucas, mesmo seu pai o rondando para mantê-lo nos eixos. Lucas não levava os exercícios que os militares passavam a sério, mesmo eles alegando que futuramente poderia ser necessário ter um bom porte físico.

— Isso daqui está se tornando um quartel! — Lucas comenta com um colega.

— Você tem sorte do seu pai estar aqui, certeza que tem vários privilégios. — O garoto insinua.

— Que nada! Ele vive pegando no meu pé! — Lucas conta. — Se eu pudesse iria embora hoje mesmo.

— Para eles nos prenderem aqui, certeza que lá fora está muito pior. — Enquanto o garoto falava, Lucas observava uma garota de cabelos escuros passar.

Essa garota é Alice, Lucas conheceu Alice quando os dois cursavam o 6º ano, porém eles não se falavam e a garota não se recorda dele. Ao contrário de Alice, Lucas se lembra muito bem dela, tanto que nutre um resquício de sentimentos por ela.

Alice, apressada, não teve tempo para perceber que alguém a encarava, passando direto para o corredor onde o banheiro se encontrava.

Assim que saiu do banheiro, Alice avistou a diretora adentrar uma sala junto ao general, os dois pareciam estar ansiosos e irritados, o que despertou a curiosidade da garota, a fazendo espiar por trás da porta.

—... Não era confiável! — O general esbravejava algo que Alice não conseguiu entender.

— Mantenha a calma, tenho certeza que os caminhões chegarão semana que vem e assim que eles chegarem poderemos iniciar os testes... — Alice ouviu atentamente o que a diretora falava, porém teve que seguir seu caminho ao ver dois militares virando o corredor.

A garota se apressou em ir contar para sua amiga, mas Clara não aparentava estar tão curiosa e assustada quanto Alice.

— Tenho certeza que vão ser testes comuns Alice, você deve estar assistindo vídeos de teorias da conspiração demais! — Alice bufou ao ver que a amiga não concordava com ela.

— Clara, eu percebi a preocupação escancarada no rosto deles! — Alice insistiu. — Alguma coisa de muito ruim vai acontecer e eu não quero estar aqui quando for a hora!

Clara revirou os olhos ao ver o drama que a amiga estava armando. Alice era muito desconfiada e isso ficou rondando os pensamentos da garota o dia inteiro até que, quando já não aguentava mais, a garota resolveu seguir o general para ver se descobria mais alguma coisa.

A tarde de Alice foi dedicada a agir como uma adolescente normal, enquanto seguia cada passo do general. Aquele parecia ser o dia de sorte da garota, pois alguns minutos depois a garota conseguiu ouvir um pedaço de conversa do general com outro militar.

—... Bem sabe até quando os mantimentos durarão. Uma hora iremos ter que tomar medidas drásticas! — O general comenta, dessa vez um pouco mais baixo.

— Fique calmo senhor, tudo vai dar certo! — Alice decidiu que não iria se arriscar e sentiu que era a hora de parar de seguir o general, deixando a conversa dos dois de lado e voltando para a sua sala. Dessa vez Alice decidiu que não iria contar para ninguém o que ouviu e apenas se integrou na conversa que rolava com suas amigas.

A semana se passou e, sem perceber, Alice e Thiago planejavam fugas semelhantes, onde até o dia era o mesmo. A garota estudou todas as entradas e saídas do colégio e percebeu que seria impossível sair daquele lugar sendo um aluno comum, concluindo que precisaria encontrar outra maneira de fugir. Thiago, que já conhecia uma forma de sair do colégio sem ser visto, apenas se atentou em guardar alguns dos biscoitos que eram servidos no café da manhã.

— Quando tudo isso acabar, nós podemos nos encontrar e beber um pouco... — Thiago sugeriu ao amigo enquanto arrumava sua mochila.

— Isso se você sair dessa vivo! — Diego alerta. — Esses caras já estão de saco cheio de você, tenho certeza que se eles te pegarem te matam.

— O que não vai fazer muita diferença, já que pra eles assassinar alguém é normal... — Thiago ironiza. — Mas eles não vão me pegar, vai dar tudo certo!

Na madrugada de domingo, enquanto todos dormiam e a vigilância era reduzida, os dois garotos pegaram suas respectivas mochilas e se dirigiram silenciosamente até a quadra da escola. Alice não sabia, mas uma outra pessoa a seguia, tentando adivinhar o que a garota fazia acordada tão tarde.

Alguns minutos antes, quando Alice iniciava sua fuga, Lucas, que estava sem sono, a avistou passar pela porta da sua sala e ficou assustado. O garoto pensou que estivesse vendo coisas e foi até a porta da sala verificar, vendo que realmente tinha alguém transitando pela escola na madrugada e que não era um militar. Lucas seguiu Alice se esforçando para enxergar no breu que o colégio estava e parou quando viu que a garota se aproximava do muro da escola.

— Ei garota, o que você está fazendo? — Lucas perguntou assustando Alice, que ainda não havia percebido que alguém a seguia.

— Droga... — A garota murmurou se virando. — Não é da sua conta!

— Está pensando em fugir? — Lucas insistiu.

— Sim e você não tem nada a ver com isso! — Alice respondeu ríspida. — Volta para a sua cabana e finge que não me viu!

— Quem está aí? — Uma outra voz se envolveu jo escuro da quadra, mas dessa vez ela vinha do lado oposto fazendo Alice se virar novamente.

— Eu deveria ter ouvido a Clara! — Alice lamenta, enquanto isso Thiago, que estava em cima do muro retira uma lanterna da mochila e a ascende, revelando Lucas e Alice.

— Alice? — Lucas pergunta confuso. — Você ia fugir?

— Você me conhece? — Alice indaga ainda mais confusa que Lucas. — Isso não importa agora, você também está fugindo? — A garota pergunta a Thiago.

— Sim, se vocês puderem não falar nada, eu vou ser muito grato! — Thiago responde notando uma nova aproximação, mas dessa vez lanternas iluminam o que pareciam ser os militares que estavam fazendo a ronda noturna. — Eu não quero assustar vocês, mas tem dois militares vindo na nossa direção!

— Droga, nós vamos ser pegos! — Lucas afirma nervoso.

— Vira essa boca pra lá garoto! — Alice fala andando na direção do muro. — Posso ir com você?

— Claro, sobe aí! — Thiago responde ajudando Alice a subir no muro. — E você, vai vir com a gente ou prefere lavar privadas o resto da semana?

Lucas estava encrencado, se ele ficasse jo colégio provavelmente seu pai o mataria, mas se fosse com eles tinham grandes chances de tudo dar errado, já que fazia muito tempo desde seu último contato com o mundo exterior.

— Eu... — O garoto resolveu agir por impulso pela primeira vez. — Vou com vocês!

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