Capítulo 03

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Thiago e Alice ajudaram Lucas a subir no muro e os três se jogaram para o lado de fora, enquanto ouviam os militares esbravejarem do outro lado. Lucas não estava aliviado como os outros dois, na verdade ele tinha acabado de perceber a loucura que havia cometido. Mesmo com medo, o garoto seguiu Alice e Thiago pelas ruas escuras que cercavam os arredores do colégio.

Como ainda era madrugada, não havia uma pessoa sequer nas ruas, o que os obrigou a decidirem para onde iriam.

— Vocês moram aqui por perto? — Alice perguntou.

— Não, eu moro a alguns quarteirões daqui. — Thiago respondeu e os dois encararam Lucas.

— Eu até moro, mas meu pai é militar, então não é uma boa ideia irmos para a minha casa! — Lucas conta.

— Então vamos ter que ir para a minha casa... — Alice afirma enquanto eles adentram um beco escuro. — Só não é bom fazermos muito barulho por que...

Alice se interrompe quando os três chegam ao fim do beco, se deparando com a rua principal. Um mês isolados foi o suficiente para que tudo mudasse drasticamente. A cena era inacreditável, muitas casas e comércios estavam completamente deteriorados, algumas pessoas corriam com embalagens de comida em mãos e dezenas de pessoas estavam sendo levadas por policiais.

Os garotos ficaram imóveis ao ver como se encontrava o lado de fora do colégio. O que antes era uma pequena e pacífica cidade, agora era quase uma guerra entre civis e militares.

— Ei vocês! — Os garotos saíram do transe quando ouviram alguém gritar em sua direção. — O que estão fazendo fora de casa? Querem ser presos?

Um militar corria na direção deles com uma arma em mãos, o que assustou os garotos, os fazendo correr desorientados para o lado oposto. Os três adentraram um outro beco, dessa vez mais largo e com várias casas também deterioradas. Thiago os guiou para dentro de um dos entulhos e fez sinal para que eles fizessem silêncio, ouvindo passos apressados vindos do lado de fora.

— Acho que ele passou direto. — Thiago supôs assustado.

— O que eles estavam escondendo da gente? — Alice perguntou retóricamente.

– O que eles estavam escondendo eu não sei, mas eu sei que estamos muito encrencados! — Lucas afirma passando a mão pelos cabelos.

— Se acalma, precisamos dar um jeito de sair daqui e ir para a casa dela! — Thiago afirma apontando para Alice. — Esperem um pouco, eu vou dar uma olhada lá fora.

Corajoso, Thiago se pôs para o lado de fora da casa e passou a verificar se o policial havia ido embora. Tendo sua confirmação, o garoto voltou para onde se encontravam Lucas e Alice.

— Ele já foi, podemos ir agora! — Thiago informa. — Você conhece algum outro caminho para a sua casa?

— Claro, mas vai demorar um pouco mais... — Os dois garotos afirmam e Alice passa a conduzi-los pelas ruas estreitas e escuras, onde os policiais não se preocupavam em revistar.

Os três andaram por muito tempo, tomando cuidado para que ninguém os vissem. Alice seguiu um caminho pelo qual sua mãe a proibia de andar alegando que não era seguro, dessa vez esse era o único possível.

A garota se aliviou quando, já amanhecendo, avistou a casa azul na qual morava, fazendo Thiago e Lucas darem graças. Alice ficou preocupada ao ver que o portão da sua casa estava aberto, já que sua mãe sempre se atentava em tranca-lo à noite.

Assim que Alice adentrou a casa viu o pôr que do portão estar aberto, não havia mais ninguém em casa. Segundo a carta que a garota encontrou em cima da mesa de centro, sua mãe e seu padastro viajaram para a casa de parentes em outro estado pois as coisas estavam se apertando e o caos estava se instalando na cidade.

Alice não era de chorar, mas assim que terminou de ler a carta foi obrigada a limpar uma lágrima que escorria pelo seu rosto antes que os garotos pudessem reparar. Por sorte a casa ainda estava inteira e todos os móveis estavam intactos, provavelmente sua mãe apenas deixou o portão aberto para caso ela voltasse. Os três se acomodaram na sala e, sem perceber, acabaram apagando espalhados pelo chão.

Thiago foi o primeiro a acordar na tarde do dia seguinte, o garoto se levantou e foi até a cozinha para ver se havia alguma coisa para eles comerem. Para a surpresa de Thiago, ainda haviam algumas coisas que poderiam ser aproveitadas e ele se pôs a fazer o almoço.

Assim que terminou, o garoto acordou os outros dois que dormiam feito pedra. Lucas e Alice ficaram surpresos ao ver o almoço que Thiago tinha preparado. Os três se empanturraram e depois foram tentar obter alguma notícia do que estava acontecendo. Para o azar dos três, a energia da casa havia sido cortada a pouco tempo, o que os obrigou a procurar algum aparelho celular pela casa.

Alice revistou o seu quarto por inteiro até achar seu smartphone, que estava escondido numa das gavetas do seu guarda-roupas. Os três se reuniram na sala e uma tensão se instaurou ao tentarem ligar o aparelho. Depois de muitas tentativas, o aparelho finalmente ligou, revelando sua porcentagem quase nula de bateria.

— Precisamos ser rápidos! — Lucas comentou. — Você tem plano de Internet?

— Tenho sim, espero que ainda funcione... — A garota respondeu apreensiva.

Ao ligarem a rede móvel do smartphone a garota foi bombardeada de mensagens dos seus parentes, o que impossibilitou o uso do celular por alguns minutos. A última mensagem data de uma semana atrás, o que fez Alice ter esperança deles ainda usarem os mesmos números telefônicos.

Assim que conseguiram acessar o navegador, eles trataram de pesquisar os últimos acontecimentos, se assustando ao ver o tamanho do problema. O vírus havia se espalhado e matado um número absurdo de pessoas, o isolamento os impossibilitou de trabalhar e quando o dinheiro acabou a população se revoltou, saqueando os comércios e entrando em conflito com os militares. Os transportes públicos haviam parado de funcionar, além de que qualquer pessoa que fosse vista fora de casa poderia ser imediatamente presa.

Alice insistiu em checar suas redes sociais e isso os fez descobrir uma espécie de abrigo numa cidade não tão longe, onde as pessoas que conseguiam escapar das cidades iam para se proteger e não serem presas. Os três concordaram em irem até o local no dia seguinte, já que lá eles estariam mais seguros. Alice cogitou mandar uma mensagem para sua mãe, porém o aparelho desligou antes dela concluir a digitação, o que a deixou frustrada pelo resto do dia.

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