Capítulo XXVII

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Escutem a música durante a leitura. 👳🕌👸


- Me ajude a fechar a abaya, por favor? - Safira perguntou observando o olhar de Said através do espelho.

- Claro - ele respondeu prontamente indo na direção da princesa.

Os dedos do sheik tocaram as costas desnudas de Safira causando o já bastante conhecido arrepiar no corpo dela. Seus olhos se encontraram e um tímido sorriso surgiu nos lábios da princesa sentindo os botões serem fechados cuidadosamente pelo marido.

Said vestia calça e camisa de fibra de tons claros e o turbante fora deixado de lado expondo os cabelos negros e volumosos do sheik. A barba continuava aparente emoldurando as feições bronzeadas pelo sol.

A princesa por sua vez resplandecia
como se luz fosse emada dela, a abaya de cor branca enfeitada com mimosos fios de prata iluminava o quarto. E também os olhos de Said.

Os cabelos estavam soltos e os cachos ainda mais formosos, as melenas douradas caíam pelos ombros e costas de Safira e na cabeça uma coroa feita de flores brancas enfeitava a princesa.

Algumas semanas haviam se passado desde a chegada na Índia e aos poucos o casal ia se habituando à nova cultura e a vida a dois. Alguns dias eram considerados únicos e especiais  e aquele era um.

Toda a Índia estava em festa, durante a semana pelas janelas do castelo a movimentação na vila podia ser observada. Fantasias dos deuses a venda nas lojinhas, sacos e mais sacos de pó das mais variadas cores chegavam aos montes e as madeiras para a fogueira eram tantas que não se podia contar.

A primavera havia chegado e com ela um lindo festival de cores.

O holi era com toda certeza uns dos mais bonitos festivais daquele povo e a princesa ao saber daquela festança decidiu que não perderia por nada neste mundo. A regra era certa, roupas claras e nada de jóias. Naquele dia e apenas naquele dia todos esqueciam de seus preconceitos. Não haviam castas separando dalites e brahmanis, muçulmanos e indianos, ricos e pobres, brancos e negros.  Todos podiam ser iguais.

A princesa puxou Said correndo pela escadaria, causando um ofuror dos criados no castelo pela falta de modos. É claro que Safira não se importava e conforme o tempo passava e a intimidade entre ela e o sheik aumentava sentia que por fim poderia ser ela mesma, desde a quebra de regras  a total falta de papas na língua.

Em seu íntimo o sheik poderia dizer que adorava aquele jeito da jovem, e apesar de todos os ensinamentos que recebeu durante sua vida e os inúmeros conselhos que recebera dos homens mais velhos sobre como deveria tratar sua esposa e os castigos que deveria aplicar caso ela fosse desobediente, Said não se sentia no direito de reprimi-la por ser espontânea. E no fundo sabia que jamais faria tal coisa, mesmo que fosse contra os bons costumes árabes.

*
A manhã estava linda, o céu azul totalmente isento de nuvens pintava aquele dia tão especial. Um par de metros separava o castelo da vila indiana o que permitiu que os dois passeassem pelo lugar repleto de pessoas de etnias e culturas diferentes. Flores coloridas enfeitavam as ruas, plantadas nas laterais das lojas e nos canteiros das ruelas de areia alaranjada traziam o doce aroma das flores ao ar livre. Os respingos de tinta já podiam ser vistos pintando o chão e as paredes de muitas casinhas da vila.

Um homem fantasiado de deus Krishna chamava atenção de todos que passavam em frente a tenda verde montada no centro do pátio do festival. A coloração azul-claro na pele, a flauta doce, o sari em tons vermelhos, a coroa dourada e as diversas jóias que o homem vestia homenageavam o deus.

Se aproximem! - Ele dizia animado.

Ao lado do homem havia uma mulher também fantasiada vestindo um sari rosa vibrante, muitas jóias e com o rosto pigmentado em mil cores. A jovem se apresentava aos expectadores como  Radha, a amada de Krishna que foi a causa da existência de tantas cores no festival. Numa maneira linda e pura de excluir os estigmas causados pela diferença de cor entre eles, a mãe de Krishna o incentivou a colorir a face de Radha pra que ele não se sentisse mal por conta de sua pele azul.

Safira | Joias do Deserto | 1 (CONCLUÍDO / EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora