- Eu sinto muito, princesa... - Disse com os olhos tristes.
Ouvir aquelas palavras do médico fez Safira derramar mais lágrimas por sua face inchada de prantos. Tudo em sua mente estava branco, como se não houvesse um passado, como se seu presente fosse uma planície transparente e sem fim e o seu futuro? Esse não estava ali também.
Doía.
Doía muito mais do que ela podia pensar, muito mais do que ela podia explicar. Doía como nunca doeria outra vez. Doía porque de todas as perdas a de um filho era a pior delas. De todas as perdas aquela era a mais injusta.
Said estava ao seu lado na cama, segurando suas mãos com força enquanto o doutor a examinava e induzia o parto do feto morto em seu ventre.
- Sheik Said.. - Soraia o chamava do canto do quarto - Eu posso ficar ao lado dela... não deveria ver isso.
- Eu ficarei - Foi tudo o que ele respondeu olhando para Safira que tinha os olhos marejados mais uma vez.
Logo um longo segundo de dor veio, um filete de sangue de tom escuro voltava a escorrer por sua intimidade e então minutos depois fez o que o médico chamou de força, para que o bebê viesse para fora.
O lençol branco posto sob as pernas da princesa impedia que ela e o sheik vissem a cena, embora Safira pudesse imaginar e sentir tudo o que ocorria ali. Segurava a mão de Said com tanta força que o sangue já não pintava a ponta de seus dedos. Repirava pausadamente, se esforçando pra continuar acordada até que o médico terminasse o procedimento.
- Eu sinto muito mais uma vez... - repetiu com pesar - Abortos espontâneos acontecem... você passou por muitas emoções princesa.. as quedas podem ter ocasionado isso... mas...
- Mas o que doutor? - Said perguntou atento
- O sangue dela estava muito escuro, e a febre alta indicava alguma reação do corpo da princesa - Informou contido
- O que quer dizer? - Said estava cada vez mais aflito - Eu não entendo de coisas médicas... por favor seja claro.
- Precisarei fazer alguns exames, colhi amostras do sangue da princesa. Não posso afirmar nada, senhor. - Disse ajeitando os óculos redondos e o jaleco branco que usava - Mas como eu disse... o corpo fala e ao que tudo indica ela foi envenenada.
- Envenenada? - Dessa vez a voz de Soraia foi ouvida - Mas como...? Apenas eu sirvo a comida dela.. Eu.. eu jamais faria isso com a minha menina - Disse com os olhos em desespero.
- Eu sei que não foi você, Sô.. - Safira comentou embora sua voz saísse falha e não conseguisse processar as informações de forma correta em sua mente.
- A princesa tem algum inimigo? Alguém que a queira mal? - O médico perguntou.
- Não... eu não... - Negou como se a ideia de ter inimigos fosse absurda e totalmente improvável em sua vida.
- O que comeu hoje? - Ele perguntou anotando todas as informações no seu bloco de notas.
- Bem... pão pita e suco de pela manhã... o almoço bem... vomitei todo por causa dos enjoos e eu dormi durante a tarde.. - Falava tentando se lembrar se havia esquecido de algo. - Acho que apenas isso.
- Mais nada? - Perguntou arqueando a sobrancelha - Sei que é um momento delicado, mas precisa se lembrar de qualquer coisa que possa me ajudar.
- Eu não.. - Se esforçou mais uma vez - Apenas.. Mahira.. - Disse o nome da odalisca em um sussuro.
- O que disse? Mahira? Quem é essa pessoa? - O médico perguntou atento
- Querida... não se preocupe ela não vai lhe incomodar - Said disse tentando acalma-la.
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Safira | Joias do Deserto | 1 (CONCLUÍDO / EM REVISÃO)
Tarihi KurguNa série Jóias do Deserto viajaremos as arábias em busca de pedras preciosas. Neste primeiro livro conheceremos a história de Safira Amirah, princesa herdeira do reino de Omã. A jovem moça, dona de belos olhos azuis iguais a pedra a qual leva o nome...