chapter 1- Frank Iero

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Bufando, entrei no banheiro, nunca deveria ter concordado em vir, eu sabia.

-Eu sou mesmo burro! Que péssima ideia! Falei mais para mim do que para qualquer  um que estivesse por perto, eu estava irritado demais para olhar pras pessoas que estavam no cômodo. Imediatamente me dirigi até a pia não muito higiênica do local.

-Acostume-se, aqui é sempre caótico. Um rapaz não muito longe de onde eu estava afirmou, levemente embriagado, mas nada com que eu devesse me preocupar.

-Nunca deveria ter aceitado vir pra cá. Respondi, ainda entretido em limpar minha camiseta surrada de Misfits, que agora exalava cheiro forte de álcool, e provavelmente adquiria mais uma mancha para a coleção.

-Não deveria confiar em quem te sugeriu este lugar, não é um bom destino. A voz agora estava bem próxima de mim, mas eu ainda não tinha me atrevido a subir meu olhar para o rosto do homem, cujo estava se aproximando cada vez mais em passos lentos que eu podia escutar.

-na próxima é nelhor eu ser esperto e ficar em casa...

Senti a nicotina e a fumaça adentrarem minhas narinas. Quando finalmente decidi subir meu olhar até o rosto do homem, que tragava seu cigarro numa lentidão incomum, provavelmente pelo efeito do álcool, e logo jogava a bituca fora. Olhava para algum ponto disperso do local, até perceber que eu lhe encarava, com olhos arregalados e lábios entre-abertos. Os fios negros bagunçados lhe davam um aspecto ainda mais despojado e bonito.

Não sei por quanto tempo fiquei encarando aquela obra de arte ambulante, mas foi o bastante para absorver cada detalhe de sua feição imperfeitamente delicada e bela. Até que ele retribuiu o olhar, e percorreu toda a minha face com suas orbes verdes, e descer pelo resto da extensão do meu corpo, fazendo o mesmo que eu.

Me dando de cara com todo aquele volume, que era grande o bastante para estar evidente ali. E parei estático, com o olhar congelado naquele ponto mais específico. Mas isso não é importante.

Até ele pigarrear e chamar a minha atenção para seu rosto novamente, e abrir um sorriso de canto, malicioso, que me fez corar bruscamente. Não estava acostumado com aquele tipo de flerte, principalmente com desconhecidos.

-Prazer, Gerard. Ele falou, em alto e bom tom enquanto olhava diretamente em meus olhos.

-Hm... Frank... Iero. Respondi, desviando meu olhar para meu converse rabiscado.

-aceita um cigarro "Frank Iero"? Disse me despertando de meu transe, estendendo um daqueles pequenos cilindros brancos na minha direção. -Claro, por que não? Fodido eu já 'tô. Respondi, dando de ombros e pegando o cigarro dentre seus dedos finos e me encostando na parede mais próxima.

O maior se posicionou ao meu lado, em seguida pegou o isqueiro ascendendo o seu e o meu cigarro, o tragando a mesma intensidade e lentidão incomum de antes, atraindo meu olhar para aqueles lábios finos e atrativos.

Mas percebi que o encarava por muito tempo, então resolvi tragar o cigarro que tinha em mãos e esperar que ele puxasse algum assunto qualquer.

-o que um cara como você faz aqui?

-o que quis dizer com isso? 

-sabe, você é diferente dos homens que normalmente frequentam esse lugar. Normalmente eles são um pouco anormais. Anormais? Ah, ele queria dizer alcoólatras. -você é anormal? Ou talvez ele só quisesse dizer incomum, diferente. -que tal você descobrir, hm?

Antes que eu respondesse qualquer coisa, escutamos uma música iniciar do lado de fora do banheiro, ainda que baixa identificável. "Every Breath You Take" tocava no local. A primeira música calma que eu escutava tocar desde que cheguei, e pela expressão de Gerard, provavelmente a primeira música calma que tocava em meses naquele recinto.

Ele rapidamente se posicionou em frente a mim, fazendo uma reverencia e estendendo uma de suas mãos e seu olhar em minha direção -dança comigo, Princesa?- Como eu poderia recusar?

-Claro, meu caro cavalheiro. Respondi, fazendo a mesma reverência que via as princesas fazendo em filmes clássicos da Disney.

E logo estávamos dançando lentamente, em meio aquele espaço vazio, ao som da música baixa, que logo se tornou mais audível, ao que passamos a trocar olhares e tudo ganhou mais intensidade. Certamente, aquela lembrança teria um lugar reservado em nossas memórias como algo repentino porém significativo.

-"Oh can't you see? You belong to me..." O maior começou a cantarolar baixo, próximo aos meus ouvidos, quando passei a cantar junto a ele. -"How my poor heart aches, with every step you take..." Em coro, formavamos uma musica melodiosa e calma.

Os olhares se cruzando enquanto viajávamos ao som daquela musica, cujo ritmo se encaixava perfeitamente com o momento. Eu não sei o que foi que me fez sentir aquilo, não sabia o que era, mas eu gostava.

Gostava dos tremores e arrepios evidentes de ambas as partes quando nossos peitos ficavam mais colados. Éramos dois corpos, dois homens já tão imersos na música, nos olhares e nos toques simples um do outro que tudo pareceu durar uma eternidade. Que parecia que nos conhecíamos a tempos.

Corpos em polvorosa e respirações se fundindo.

Naquele momento eu agradecia a mim mesmo por ter aceitado aquela aventura. Caso o contrário não teria o conhecido, não teria vivenciado aquela experiência, que certamente não era uma situação em que me encontrava constantemente, não mesmo.

Até que aquele precioso momento de transe e imersão  de olhares foi cortado.

Assim que a música acabou, Bert, um de meus colegas enérgicos, adentrou o local. Procurando por mim, e logo me puxando pelo pulso para fora do espaço médio em que deixei Gerard, me olhando com curiosidade. Não havia nem sequer tido o tempo de pegar seu telefone ou algo do tipo.

-Droga... o que foi Bert?

-Pensei que não fosse do tipo que ficava com caras nos bares. Ele falou, esboçando um sorriso vitorioso sobre mim.

-E não sou, não ficamos. -Pelo menos eu não menti. Mas se eu tivesse mais alguns minutos ali, minha afirmação não teria sido a mais sincera.

-vocês estavam praticamente se comendo com os olhos. E aliás, temos que ir, Jepha teve um daqueles surtos de irritação a toa e se não formos logo ele vai acabar matando um cara no meio da pista.

Bert me empurrou até a saída do bar, em seguida até o seu carro, no qual Jepha estava bufando de braços cruzados no banco de trás do veículo.

-Obrigada por arruinar minha noite Jeph. Falei ironicamente assim que adentrei o carro velho, recebendo só um bufar como resposta.

Eu estava num momento bom, e fiquei até um pouco abalado por pensar que provavelmente nunca veria aquele rosto novamente.

Que em alguns dias esqueceria de qualquer detalhe daquela noite.

Menos da música, das danças e daquela troca de olhares tão significativa.

Eu sentia que nos veríamos de novo. Eu e Gerard, o cara que eu conheci no banheiro de um bar a praticamente uma hora atrás.

Every Breath- FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora