Capítulo 4

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Anastasia jamais experimentara uma sensação tão deliciosa como champanha borbuIhante deslizando pela garganta. Mas sentir as bolhas molharem o nariz e escorrer pelo queixo era um assunto bem diferente!

Ao ouvir o conde declarar que sabia do verdadeiro motivo do noivado deles, Anastasia engasgara e lançara borrifos de vinho pela boca. Com os olhos lacrimejantes, ela lutou para recuperar o fôlego, entre acessos violentos de tosse.

Anastasia procurou não derrubar a taça até que dedos fortes tomaram a peça de cristal de sua mão. Dali a pouco, ela sentiu lorde Grey batendo-lhe gentilmente nas costas.

— Tudo bem, Anastasia? — ele indagou. — Precisa de alguma coisa?

Se estivesse em condições de responder, ela diria a milorde que não era de bom-tom fazer perguntas a alguém que mal podia respirar de tanto tossir. Apesar disso, a preocupação evidente serviu para acalmá-la, e a respiração começou a normalizar-se.

— Pobre criança! — O conde apavorou-se. — Espero que não tenha pensado que eu me referi a algo sinistro como motivo do seu noivado. Só quis dizer que estava

ciente do propósito de ambos em agradar-me e posso assegurar-lhes que foram muito bem-sucedidos.

Anastasia sentiu-se tola em dose dupla. Deveria ter imaginado que o conde não se referia às previsões do médico. Por outro lado, sua reação inoportuna poderia despertar suspeitas no velho lorde.

No entanto Anastasia tinha experiência em disfarçar Os próprios erros.

— Milorde, isso nada teve a ver com o que o senhor disse. É que nunca tomei champanha antes. As borbulhas fizeram cócegas na minha garganta.

— Primeira vez que sentiu o gosto do champanha? — O conde fitou o neto e sacudiu a cabeça. — E Bulwick gaba-se de ser um cavalheiro!

Lorde Grey demorou-se um pouco mais na última pancadinha nas costas, o que poderia significar um gesto camarada de quem aprovara seu raciocínio rápido.

Porém a reação de Anastasia àquele toque inocente foi tumultuosa. Uma energia profunda e voraz invadiu-a, perambulando por todo seu corpo. E seus pensamentos fervilharam de curiosidade sobre os ritos misteriosos dos amantes.

Felizmente, tais fantasias ousadas não transpareciam em seu rosto, ela disse a si mesma.

— Beba devagar, em pequenos goles, se não está acostumada — o conde avisou-a, solícito, antes de prosseguir com o próprio drinque.

Lorde Grey afastou-se um pouco para completarlhe a dose. Quando ele voltou para entregar-lhe a taça, Anastasia fez um movimento deliberado para roçar-lhe os dedos.

Seria possível que milorde também sentia algo semelhante à estranha força que a excitara?, Anastasia perguntou-se

quando lorde Grey ergueu o olhar, em um instante de expectativa.

— Talvez eu devesse ficar envergonhado por meter-me em suas vidas. — A voz do conde interrompeu aquele momento fugaz de intimidade, fitando Anastasia e o neto com satisfação. — Mas não estou nem um pouco. Se querem saber, essa noção moderna de casamento por amor é uma tolice. Eu diria que se deve deixar um jovem escolher sua amante, mas que ele deve ser guiado pelos mais velhos na eleição de uma esposa.

— Não precisa passar sermões, vovô, eu concordo inteiramente — Lorde Grey fez o comentário em tom casual, encostado no consolo da lareira.

Anastasia concluiu que fora imaginação sua supor que houvera um instante de percepção entre milorde e ela. E com esperança de sepultar a preocupação fútil a respeito de milorde, ela saboreou um gole de champanha e depois outro.

Lord Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora