Capítulo 6

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Christian Grey ergueu um braço para proteger a vista doente da forte luz solar. Com a outra mão, afastou a cortina pesada que vedava a janela da carruagem e espiou para fora. Viu a torre familiar da igreja de St. Owen, em Grafton Renforth, suspirou com satisfação e largou o tecido. Logo estaria em casa, e um dos benefícios daquele dia terrivelmente ensolarado seria uma noite clara, perfeita para seus propósitos.

Ele bocejou.

Nas últimas horas, aventurara-se pelo mundo à luz do dia e descansara à noite. Era uma atividade que lhe parecia anormal, depois de três anos como um notívago.

Sempre dormia de maneira intermitente no período noturno, quando uma quietude fantasmagórica assentava-se sobre Helmhurst. Os sons diurnos abafados — criados indo e vindo, vozes distantes — acalentavam-no em um sono tranqüilo e sem sonhos. Depois de Waterloo, ele imaginara que jamais conseguiria dormir.

Nos próximos meses, teria de esconder-se nas fímbrias ensombreadas do dia, para ficar a maior parte do tempo possível com seu avô. Atingido pelo remorso, Christian lamentou as centenas de horas perdidas durante aqueles três anos. Enquanto ficara dormindo no quarto escurecido, Anastasia Steele aproveitara a companhia de seu avô.

Christian gostaria de ressentir-se por Anastasia estar usurpando seu lugar, mas seu senso de honra insistia em que não seria correto. A srta. Steele apenas tomara posse do que ele abdicara. A jovem estaria no direito de reclamar pela intrusão "dele" nas tardes costumeiras de visita ao conde.

Refletia que Anastasia deveria acostumar-se à nova ordem natural das coisas, quando o coche diminuiu a velocidade e fez uma curva. Todos eles teriam de fazê-lo.

Alguns momentos depois, o veículo parou em frente à entrada de Helmhurst. Christian puxou para baixo a aba do chapéu, abriu a porta da carruagem, desceu e, a passos largos, entrou no santuário de seu lar.

Entregou o chapéu e o manto a um lacaio de prontidão.

— Onde está meu avô?

— Acredito que na biblioteca, milorde.

Christian iniciou o caminho em direção à galeria leste e parou.

— A srta. Steele ainda se encontra com ele?

— Creio que sim, milorde.

Por que perguntara? Não seria a presença da jovem que haveria de impedi-lo de encontrar-se com seu avô. Estar prevenido sobre o que o esperava talvez fosse uma compulsão remanescente da vida militar.

Naquele horário de fim de tarde, o nível de luz estava bastante suportável na galeria. Christian aguardava ansiosamente a aproximação do solstício de verão, depois do qual as horas do dia começavam a diminuir, permitindo-lhe maior liberdade.

— Veja só, Anastasia, o nosso filho pródigo voltou — o avô comentou ao vê-lo entrar na biblioteca. — Exatamente como eu lhe disse. Espero que a viagem tenha sido Proveitosa, meu filho.

O avô não se permitiu mais nenhum comentário, nem para saber onde o neto estivera. Em três anos, o conde nunca lhe perguntara para onde Christian ia durante a noite.

— Não foi uma viagem de recreio. — Christian foi até uma mesa alta que ficava ao lado do consolo da lareira. Em cima dela, duas garrafas de cristal lapidado e um arranjo com copos brilhantes. — Tive uma conclusão satisfatória dos meus negócios. A "viagem foi tranqüila tanto na ida quanto na volta. O que mais alguém poderia desejar?

Christian serviu-se de uma dose generosa de conhaque. Com sorte, o drinque iria melhorar sua dor de cabeça.

— O senhor me acompanha, vovô? E a srta. Steele?

Lord Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora