A Despedida da Oitava Classe

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As despedidas têm cheiro. E não é cheiro bom tipo chá – de – Caxinde, ou da terra molhada depois da chuva, ou dos cacimbos molhados. Não.
Despedidas tem cheiro de amizade cinzenta. Nem sei bem o que é isso, nem quero mesmo saber. Não gosto de despedidas.

No último dia de prova da Oitava Classe, teve essa sensação: a incerteza sobre quem íamos encontrar no ano seguinte, mesmo tendo todos boas notas,
havia no ar uma sensação de despedida. Depois da prova final, fizemos um almoçozinho. A escola estava vazia. Fomos no terraço da escola. Era bem já
no final da tarde. O sol já estava a fazer poesia na nossa cara.

Estávamos com o professor “Tchombe”, o do Química. O clima estava bom. Todos riam. Eu também. Embalei – me nas gargalhadas para olhar bem
para cada um deles, para todos meus colegas da Oitava Classe, e quase todos tinham sido meus colegas desde a segunda, outros desde a quarta classe. Bons tempos.

Uns traziam lanche, outros não. O Jessé que acompanhava suas
brincadeiras com o Júlio. A Irene com sua gentileza e seus grandes olhos bem bonitos. A Catarina com seu jeito maduro. O João a roubar a comida. O Ramos a roubar os sorrisos. O Estevão, o Joaquim, Cristina, Delfina, e
muitos outros que acompanhavam aquele eterno momento. E eu, eu roubando memórias para as eternizar.
Era uma tarde quase bonita, numa cor amarela e castanha que o sol estava a por naquele lugar.

Mas a medida que o tempo passava, percebíamos que algo já estava a acabar. Percebemos isso quando cada um começou a
falar coisas que nos emocionam muito.
Nas despedidas acontece isso: a
ternura toca a alegria, a alegria traz uma saudade quase triste, a saudade semeia lágrimas, e nós meros jovens, nunca sabemos arrumar essas coisas dentro do coração.

Quando descemos, o sol já tinha ido embora. O céu queria começar a ficar escuro.
Estranhamente, a gente não sabia, mas foi o último dia, a última vez que estivemos todos juntos, porque no ano seguinte acabamos todos por ir em escolas diferentes. No fim, após despedidas, cada um foi, seguindo o seu caminho, levando tudo o que tinha do outro, no coração.

Enquanto andava, parei para olhar para trás. Não sei bem o porquê, mas eu era a pessoa que sempre olhava para trás após as despedidas. Talvez eu gostasse de sofrer um pouco mais. Assim foi a despedida da Oitava classe.

Assim é cada despedida da nossa vida: Com cheiro de amizade Cinzenta.

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