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-Agora que você falou a palavra de efeito, pode desenvolver a história.

-Não vai sair correndo? Me xingar? -Olhei assustada para ele. Não esperava que ele reagisse tão calmo a informação. Não depois da pessoas que me considerava filha, me expulsar de sua casa com palavras horrorosas.

-Não, meu amor. Não importa quem eles sejam, claramente você não tem nada a ver com isso. Ninguém com um coração tão bom assim conseguiria ser uma criminosa.

-Mas não importa, Gael, você não percebe? Eu nunca os denunciei. 

-Como poderia, Rafaela? Você é menor de idade e não tem família, iria acabar em um orfanato, provavelmente sem o seu irmão. 

-Sempre quis entregá-los, mas eu nunca consegui. Eu não podia correr o risco de perder o Isaac e isso é um pensamento muito egoísta, pessoas sofreram e quem sabe, até, morreram. -Falei as últimas palavras com raiva. 

A atitude do Gael cada vez mais me deixava surpresa. Ele não estava com raiva de mim, nem com olhar de pena. Ele escutava atentamente cada palavra minha, sem nenhum pingo de julgamento. Exatamente como a Luna fez na época. 

-O amor é egoísta, Rafaela. O amor te faz fazer coisas que, sem ele você jamais faria. -Lembrei do que a Luna disse sobre o evento dos pais dela em que várias pessoas morreram. -Você só tem que aceitar isso. 

-É tão difícil. Eu sempre penso nas pessoas que meus pais prejudicaram e me crimino por não ter ajudado. Sempre foi tão fácil ajudar, era só dar um telefonema. Agora que eu não sei onde eles estão, fica tudo mais difícil. 

-Me explica melhor essa história. -Desabafei com o Gael, ele me deu confiança para isso. Falei de como meus pais ganhavam a vida, como sempre tinha drogas e armas dentro de casa e que eles foram embora do nada. Ele escutou tudo com calma e sem me julgar em momento algum.  Aproveitei e falei da Luna também. 

Em alguns momentos foi difícil não chorar, mas ele esperava eu respirar fundo e continuar. 

-Rafa, eu sempre soube que você tinha algum segredo que guardava a sete chave, óbvio que eu nunca ia pensar isso, mas fico feliz que tenha me contado. Eu já te conheço há tempo suficiente para saber que você não é igual a eles. Você é doce, simpática, altruísta e nunca iria querer o mal de ninguém e assim como a Luna, eu percebo isso. Eu entendo porque ela escolheu ficar ao seu lado e é pelo mesmo motivo que eu vou escolher também. Não tem como não amar você, Rafaela. Não digo no sentido de namorado e namorada, eu digo como pessoa. Não tem como olhar para você e não saber que você sempre quer o bem do outro, mesmo que muitas vezes isso te cause mal. Não tem como não estar ao seu lado e não querer continuar ali para sempre. Eu sei que ficar ao seu lado pode ser perigoso e eu não me importo, assim como a Luna sabia e também não se importou. Por você vale a pena o risco. -Ele me beijou mostrando que tudo estava bem, bom, na medida do possível. 

Retribuí o beijo. Eu precisava daquilo, precisava de alguém do meu lado. 

-Você não precisa segurar o mundo sozinha, pode dividir comigo. -Ele falou sorrindo parando de me beijar. 

-Você não precisa segurar um problema que não é seu. -Falei olhando no fundo dos seu olhos. 

-Tem razão. -Ele retribuiu a profundidade do meu olhar. -Eu não preciso... Mas eu quero. 

Suas palavras me fizeram sorrir, eu nunca achei que fosse achar um garoto que se dispusesse a tanto para ficar ao meu lado. Nunca achei que seria possível eu amar e ser amada na mesma intensidade sendo filha de quem sou. Quando mais nova, via os filmes de romance e ficava triste com os que tinham finais felizes, só imaginando que aquela não seria minha realidade. Encontrar o Gael em meio a tanta destruição, tristeza e maldade é a coisa mais cinematográfica que poderia acontecer na minha vida. 

-Eu te amo, Gael. -Deixei as três palavrinhas saírem da minha boca sem nenhum receio. Eu queria que ele soubesse que eu o amava e como tinha contado meu segredo mais obscuro, não vi motivo para guardar para mim. 

Tudo pode mudarOnde histórias criam vida. Descubra agora