29- Muitas vezes a maneira mais fácil de esconder a verdade é dizê-la, o difícil pode ser fazer alguém acreditar nela quando você diz
"...Posso usar o banheiro...? Eu tentei esperar, mas estou apertada... Me desculpe o inconveniente..."
Voltando a mim, percebi o quanto essa banheira era mágica e confortável. A água estava sempre limpa, algumas impurezas pareciam estar saindo dos meus poros, eu me sentia mais leve e até um pouco mais magro. Era como se meu corpo estivesse naturalmente expelindo as 'coisas que deveria expelir'. Era muito mágico.
Saindo da banheira, um jato de ar como um secador me cobriu, secando e jogando a água fora. Foi extremamente estranho, mas era mais prático que uma toalha.
Na minha casa, tínhamos o costume de usar roupão para sair do banho e, felizmente, eu sempre deixava o meu no banheiro, que era exatamente onde ele estava. Realmente eu não ia sair vestido com aquelas roupas sujas e fedorentas. Olhando no espelho da pia antes de sair, reparei que meu cabelo estava todo pra cima por ser secado no vento. Abrindo a porta, me deparei com a garota incrivelmente inquieta, com um rosto meio desesperado e envergonhada, mas ela não tentou mudar de assunto. Deve ter esperado por muito tempo.
"Posso entrar?"
Saí e fiz o gesto com o braço para que entrasse, ela correu e trancou a porta como se eu pudesse mudar de ideia a qualquer momento.
Rindo da cena, fui pro meu quarto trocar de roupa. Peguei uma camiseta, uma bermuda e me vesti de forma confortável. Queria dormir, mas sentia que devia resolver as coisas com minha hóspede, quase inesperada, primeiro.
Depois de um tempo, ela saiu do banheiro suspirando enquanto olhava pra baixo, depois ela levantou a cabeça e me viu. Deu uma leve risada antes de dizer:
"Você tá parecendo um leãozinho." E começar a rir.
Com isso, percebi que não tinha penteado meu cabelo ainda, então o baixei um pouco com a mão, mas não me esforcei muito. Não era ruim parecer um leão e o comentário me lembrava uma velha amiga.
"Então... Meu nome é Siegfried. Qual seu nome?"
"Não sei porque você está usando um nome da mitologia nórdica, mas por que não diz seu nome verdadeiro?"
"EI, quem disse que não é meu nome verdadeiro?"
"Alguém precisa dizer?"Xeque-mate... Depois de eu ficar um tempo em silêncio, provavelmente fazendo cara de bobo, ela disse:
"Você pode me chamar de Alice, como em Alice no País das Maravilhas."
Eu ainda estava em silêncio olhando para a cara dela de deboche.
"Como você pode ter ficado tão ousada em tão pouco tempo?" Estava realmente chocado com as mudanças.
"Se você fosse me fazer mal, provavelmente já teria feito e eu poderia ter fugido várias vezes com o seu banho de horas. Você claramente não me quer prisioneira e, como você salvou minha vida, resolvi dar um voto de confiança."
"Confiança sem nome?"
"Thais, você pode me chamar de Thais. É meu nome verdadeiro. E você, senhor cavaleiro matador de dragões?"
"Sig é um bom diminutivo se você achar meu nome muito grande." Eu sorri triunfante por ter 'conseguido o nome verdadeiro'.
Ela, por outro lado, me olhou um pouco irritada e suspirou de novo.
"Vou aceitar isso por agora, senhor Sig." Nós rimos juntos, era engraçado ter um nome tão icônico dado por mim mesmo."Então... Obrigada... "
"Ah, de nada... Pelo que mesmo?"
"Por salvar minha vida, seu bobo." Ela estava muito mais tranquila agora, mexia no cabelo e variava o olhar entre o chão da casa e eu.
"Ah sim, de nada. Haha!"
"Então quem começa?" Ela perguntou e eu olhei confuso sem entender o que queria dizer.
"Já que você disse que eu podia ficar, acho que deveríamos conhecer mais um do outro. Quem começa a contar sua história? Eu aceito seu nome falso, mas quero sua história real."
"Nesse caso, eu começo. Sou um gamer, otaku, preguiçoso que, por ter poucas chances de sobreviver, ganhou uma entidade de uma dimensão superior que se denomina Sistema e me permite transformar prédios destruídos em construções relativamente próximas às da nossa sociedade e ainda adaptadas para o novo mundo, pelo que eu entendi." Terminando de falar, eu estava um pouco confuso também. Não sei quando decidi que o sistema era de uma dimensão superior ou que ele era uma entidade, eu nem tinha certeza do que entidade quer dizer no dicionário propriamente dito. Devia pesquisar pra usar a palavra com mais propriedade na próxima.
Como esperado, ela estava me encarando com uma cara de deboche.
"E eu sou uma fada mística que veio para a terra para te proteger, mas antes de te encontrar eu fui presa nessa casca e perdi meus poderes."
Incapaz de argumentar, eu só podia tentar provar meu ponto. "Sistema, traga uma tela de boas-vindas para nossa convidada."
Logo que terminei, uma tela holográfica desceu do teto com a palavra 'olá' escrita e uma voz feminina, parecida com a voz do Google, só que mais eloquente, disse:
*Olá, convidada, seja muito bem-vinda. Deseja cadastrá-la como segunda em comando?*
"Posso mudar depois?"
*Sim.*
"Então sim também."
A Thais estava claramente em choque, até a boca dela estava entreaberta. Parecia querer pensar em algo pra contra argumentar, mas não achava palavras. Hologramas? Ok. Auto falantes? Ok. Mas ela não teria como negar mais se tivesse autoridade no sistema.
No bolso dela, o celular com a tela quebrada brilhou e flutuou para frente de seu rosto. Estava ainda mais incrédula, como se tudo que ela tivesse pensado em refutar tivesse sido destruído com o ato voluntário do seu celular.
Depois de um tempo, o celular dela estava diferente e não estava mais quebrado, parecia uma versão futurista do celular antigo.
Eu fiquei com um olhar presunçoso esperando ela digerir tudo enquanto ela segurava o celular, que já não brilhava mais, olhando pra ele, pra mim e pra casa sem conseguir fechar a boca. Eu estava quase rindo da cara dela.
Percebendo que ela parecia muito chocada, comecei a ficar cansado de admirar a cara de incrédula dela. Estava satisfeito o suficiente por hora e saí dizendo:
"Tem comida na geladeira, acredito que você deva conseguir usar seu celular para entender o sistema. Seja bem-vinda 'Imediato Thais', você é tipo o Zoro agora." Eu sorri e pisquei como um emoji ;) .
Forcei um bocejo e, antes que ela conseguisse achar palavras, entrei no quarto para deitar na cama e descansar. Gastar mana cansava muito e eu tinha tido a corrida mais arriscada da minha vida até o mercado, acho que nem um tiroteio teria sido tão perigoso antes, quanto passar pelo posto de saúde foi hoje.
Enquanto isso, a Thais ainda estava na sala com cara de incrédula murmurando algo que deveria ser "impossível".
"Desejo sorte em recuperar seus poderes, Fada Mística, vai ser muito útil para salvar a humanidade."
Foram minhas últimas palavras antes de fechar a porta.
Quando finalmente parei de debochar da situação, me senti realmente cansado, como se até o banho tivesse me tirado mais energia ainda, então eu só deitei, e apaguei antes mesmo de perceber.
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Masmorra Do Abismo
AdventureEm 2012 disseram que o mundo ia acabar, o que ninguém imaginou é que ele se acabaria com abismos se abrindo em todo planeta com monstros saindo de dentro deles e devorando toda a humanidade... ou quase. Um garoto do subúrbio do Rio de Janeiro, encon...