Louis' POV
Era uma manhã ensolarada de domingo.
Minhas irmãs, Lottie e Fizzy, vieram me acordar implorando para que eu as levasse ao pequeno parque que ficava a poucos metros da nossa antiga casa. Lottie, com seus grandes olhos azuis que pareciam diamantes, subiu na cama ao meu lado e passou sua pequena mão em meus cabelos bagunçados.
- Por favor, Louis. - ela sussurrou enquanto eu fingia estar dormindo.
- Por que vocês não vão sozinhas? - respondi tentando conter um riso, permanecendo de olhos fechados. Eu adorava provocar minhas irmãs.
- Eu só tenho 8 anos. - Lottie continuava ali ao meu lado, esperando que de alguma maneira eu mudasse de ideia.
Fizzy estava parada no canto ao lado da porta, esperando que alguma coisa - ou nada - acontecesse. Ao contrário dela, Lottie sempre foi persistente e não aceitava ouvir um não como resposta.
- Está bem. - respondi por fim, recebendo um grande abraço de urso das minhas irmãs assim que levantei da cama.
Ser irmão mais velho nunca foi uma tarefa fácil, mas eu amava as minhas irmãs mais do que qualquer outra coisa no mundo.
Depois que ajudei Lottie a fazer uma trança em seus cabelos e Fizzy finalmente conseguiu calçar suas sapatilhas, descemos até o andar de baixo na pontinha dos pés para não acordar as gêmeas - Daisy e Phoebe - que ainda estavam dormindo no quarto ao lado. Mamãe estava na cozinha preparando o café da manhã, e sorriu assim que eu disse para onde estávamos indo.
- Voltem antes do meio dia. - ela disse assim que abri a porta.
O calor lá fora estava tão forte que eu sentia minha cabeça dar mil voltas. Assim que chegamos na esquina do parque, Lottie e Fizzy sairam correndo até o pequeno balanço antes que eu pudesse impedi-las. Sentei no banco em frente à elas e sorri percebendo como Fizzy tinha dificuldades para colocar os pés no chão.
- Eu te ajudo. - sorri caminhando até ela e comecei a balança-la, enquanto Lottie tentava ir cada vez mais e mais alto.
- Mais rápido Lou, ela está ganhando! - Fizzy parecia furiosa ao notar Lottie se balançando mais alto do que ela, o que sempre acontecia e era algo que de fato eu já havia me acostumado.
- Lottie, vai mais devagar. - falei sério mas ela fingia não me ouvir. - Não quero que você se machuque.
- Você não pode mandar em mim. - ela resmungou enquanto tomava mais impulso com os pés no chão.
- É claro que eu posso, sou seu irmão mais velho.
Percebi que ela estava me ignorando completamente então resolvi usar minha tática secreta.
- Quem quer sorvete? - perguntei sabendo que nenhuma das duas recusaria - e eu estava certo.
Seguimos lado a lado até a pequena sorveteria a poucos passos dali. Haviam outras três pessoas na nossa frente - o que nos dava tempo o suficiente para decidir qual sabor iriamos escolher.
- Baunilha com chocolate. - Lottie foi a primeira - como sempre - e logo Fizzy e eu resolvemos optar pelo mesmo sabor.
O calor permanecia forte e nunca me lidei bem com temperaturas elevadas. A tontura já havia começado a me atingir com força, e por isso não prestei atenção quando Lottie disse que iria esperar por nós no balanço. Murmurei um 'ok' distraidamente, pensando em qualquer outra coisa que estava se passando pela minha mente naquele momento.
Eu deveria saber que algo estava errado quando cerca de cinco minutos depois comecei a ouvir gritos. Olhei para o meu lado e Fizzy me olhava com medo, como se de alguma maneira ela soubesse.
- Onde está a Lottie? - perguntei confuso tentando pensar no que havia acontecido nos últimos minutos.
- No balanço. - ela respondeu aflita.
Peguei minha irmã de seis anos no colo e corremos em direção aos brinquedos. Assim que cheguei vi uma multidão que já se formava em volta do pequeno balanço de madeira.
Isso não poderia estar acontecendo.
Abri caminho sentindo meu coração na garganta. Eu via pessoas pedindo ajuda com seus celulares em mãos tremulas, e outras apenas observavam como se mais nada pudesse ser feito.
Assim que minha visão tomou foco, a cena que eu vi diante de mim fez com que todo o meu corpo desmoronasse.
Primeiro identifiquei suas sapatilhas cor de rosa que mamãe havia lhe dado no natal passado. Depois seu vestido azul claro que combinava perfeitamente com a cor de seus olhos.
Minha irmãzinha estava caída no chão, com uma grande poça de sangue se formando ao redor de sua cabeça.
Tudo o que eu me lembro depois daquele instante foi um borrão de imagens se formando em minha mente. Eu ensinando Lottie a andar de bicicleta, Fizzy ajudando-a a soprar as velinhas do bolo em sua festa de aniversário, mamãe penteando seus cabelos loiros e contando histórias para ela antes de dormir.
Toda a minha vida passou diante dos meus olhos enquanto eu sentia que estava morrendo.
Pouco antes da minha visão escurecer avistei a imagem borrada de um garoto de cabelos cacheados segurando Fizzy em seus braços, que não parava de chorar com o rosto enterrado em seu pescoço.
Seus olhos verdes me fitavam como se ele estivesse preocupado comigo, como se ele me conhecesse ou soubesse exatamente a dor que eu estava sentindo.
De repente todo o meu mundo desapareceu, até que finalmente acordei em uma sala de hospital dois dias depois com um bilhete amassado em minhas mãos.
Com uma caligrafia torta, como se estivesse sido escrito às pressas, eu pude ler em meio às lágrimas: "Eu sinto muito."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Haunted Sundays
FanfictionQuando uma tragédia acontece, a única maneira de conviver com a dor é buscar uma estratégia dentro de si mesmo. Para Louis era assim que acontecia: todos os domingos serviam como uma forma de punição para lembra-lo da culpa que lhe consumia. Até que...