Capítulo 2 - So tell me the way home

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Eu não poderia ir.

Aquilo estava mais do que claro para mim, por mais que eu amasse a minha mãe e quisesse fazer de tudo para deixa-la feliz.

Amassei o papel e o joguei em um canto qualquer da sala antes de subir para o meu quarto e me jogar na cama.

Encarei o teto por cerca de uma hora até conseguir pegar no sono - o que eu não deveria ter feito se soubesse o que aconteceria durante.

Pesadelos não eram tão constantes, por mais que minha mente fosse perturbada. Eu geralmente não sonhava com nada, exceto coisas que não faziam sentido e eu já não me lembrava mais na manhã seguinte.

Só que dessa vez foi diferente. 

Eu estava em um parque que eu jamais havia visto.

Flores cresciam na grama verde e o ar parecia fresco e agradável como em uma tarde de primavera. Meus pés estavam descalços e eu usava uma blusa sem mangas. Um pavor começou a tomar conta de mim e tentei encolher meus braços junto ao corpo, enquanto tentava identificar onde eu estava.

O céu possuía um tom de azul diferente, como se tivesse sido pintado com lápis de cor.

Alguém puxou a parte de trás da minha blusa e me virei imediatamente, sentindo um choque percorrer todo o meu corpo quando eu a vi.

Ela estava usando um vestido azul e suas sapatilhas cor de rosa - exatamente como da última vez.

Lottie sorriu para mim com um olhar triste, como o olhar de reprovação que ela me dava quando eu recusava seu pedido para brincar de boneca.

- Eu estou morto? - perguntei aquilo como se eu não tivesse controle da minha própria voz.

O sorriso de Lottie logo desapareceu, mas ela segurou minha mão com força e eu podia jurar que realmente estava sentindo seu toque.

- Ele vai te ajudar. - seus olhos espertos analizaram os cortes nos meus pulsos que já não pareciam tão profundos.

- Quem? - eu perguntei, como se aquela fosse a última informação que eu receberia na vida.

- Aquele que lamentou pela minha morte. 

Lottie largou a minha mão e pude sentir meu corpo clamando para ter minha irmãzinha por perto uma última vez.

Eu continuei calado sem saber o que dizer e completamente confuso com as suas palavras.

- Faça o que a mamãe pedir. - ela piscou para mim antes de virar as costas e sair correndo, desaparecendo em meio às flores.

Eu tentei segui-la mas meu corpo não se movia.

Tentei gritar mas tudo o que eu via era sua trança loira balançando enquanto ela corria, até que meu campo de visão não fosse mais capaz de enxerga-la. 

Acordei com um salto, praticamente caindo pela beirada da cama. Olhei para o relógio na cabeceira que marcava 4 horas da manhã. Minha cabeça doía e minhas pernas estavam dormentes. 

Decidi andar um pouco tentando fazer silêncio para não acordar ninguém.

Desci até a cozinha e tomei um copo de água, e depois de pensar em silêncio por cinco minutos resolvi ir até a sala para procurar algo que eu havia jogado horas mais cedo. 

Achei o panfleto do grupo de apoio amassado ao lado do sofá e o coloquei no bolso.

Seja o que tenha acontecido nesse sonho havia sido real demais para ser apenas fruto da minha imaginação. 

Eu estava prestes a voltar para o quarto quando vi uma sombra pequenina descendo as escadas com olhos amendontrados, segurando um ursinho de pelúcia nos braços. Fizzy.

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