Capítulo 11 - Memories can destroy us

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Louis' POV

Mamãe havia esquecido de me avisar que eu teria outra consulta com o doutor Dan na terça-feira pela manhã. Então aqui estou eu, completamente atrasado tentando revezar entre tomar meu café da manhã e calçar os sapatos.

- Você tem certeza de que não precisa que eu vá dessa vez? - perguntou ela, com sua típica voz de preocupação.

- Não, mãe. Eu estou bem. 

Dei um abraço de urso nela e me despedi das minhas irmãs, que brincavam com o pequeno Louis que agora já parecia parte da família. O táxi estava parado há meia hora na nossa porta, e o som alto da buzina já estava começando a me perturbar.

- Me ligue se precisar. - ela disse, pouco antes de eu fechar a porta.

O caminho até Holmes Chapel pareceu duas vezes mais demorado agora que eu estava sozinho. Observar aquela paisagem de árvores verdes só me fazia pensar em Harry e na imensidão dos seus olhos.

Por mais que eu tentasse negar, cada célula do meu corpo parecia se conectar a ele. Como se ele fosse meu oxigênio, como se ele me mantivesse vivo.

Durante todo o percurso fiquei rezando silenciosamente para que ele tivesse outra consulta marcada para hoje. Sei que isso parece completamente estranho, desejar que uma pessoa tenha uma consulta marcada no psicólogo só para que você possa ve-la. Mas ve-lo era a única coisa que eu precisava nesse momento, não importava onde e nem como.

Passei pela recepção tropeçando nos meus próprios pés até alcançar a sala de espera no segundo andar. Assim que cheguei meus olhos vasculharam o local, mas ele não estava lá. Tentei disfarçar a onda de tristeza que tomou conta de mim, e sentei no mesmo lugar da última vez em que estive ali.

Logo a lembrança do nosso primeiro beijo invadiu a minha mente, e sem pensar levei os dedos até meus lábios. Era como se eu ainda pudesse sentir seu toque.

Só haviam passado cinco minutos desde que eu entrara ali, mas logo meus sapatos passaram a ser meu único ponto de distração. Acho que eu já estava perdido em pensamentos demais, pois nem percebi a presença de alguém sentando ao meu lado.

Levantei a cabeça como que por impulso e avistei seus olhos verdes me encarando. 

Harry.

Ele estava ali, me olhando como se eu fosse a única pessoa que havia restado na face da Terra. Quase cheguei a me perguntar se aquilo era algo real ou apenas uma miragem, mas não precisei de nenhuma palavra.

Harry segurou meu rosto com as duas mãos e colou nossos lábios em um beijo profundo carregado de sentimentos que eu jamais conseguiria descrever. Dor, saudade, compreensão, desejo e amor. Harry expressava tudo aquilo só com o toque de seus lábios. 

Quando partimos o beijo pude finalmente perceber as lágrimas que escorriam pela sua bochecha. Sequei-as com as mangas do meu casaco enquanto seus olhos marejados me observavam com curiosidade e atenção.

Harry parecia tão vulnerável que a minha vontade era de abraça-lo até que toda a sua dor fosse embora.

- Louis. - ele sussurrou, ainda olhando diretamente em meus olhos.

Antes que eu pudesse sequer pronunciar uma palavra, Harry agarrou meu pulso esquerdo e puxou a manga para cima - o suficiente para que ele pudesse se certificar de que eu não havia me machucado depois que ele me deixara em casa na noite de domingo.

Ele colocou a manga no lugar e depois checou o outro lado. Harry fazia aquilo como se fosse algo importante e indispensável naquele momento. Quando ele percebeu que eu não havia feito nada e seus olhos vieram de encontro aos meus novamente, eu podia jurar que ele havia sorrido. Um sorriso quase despercebido e bem longe do que eu já estava acostumado em todos os domingos, mas ainda assim era alguma coisa. E aquilo trouxe uma certa paz para o meu coração.

- Está tudo bem? - resolvi quebrar o silêncio quando percebi como seu corpo estava tremulo ao meu lado.

- L-Louis.. Nós precisamos conversar sobre algo.

- Tudo bem. Sobre o que?

- Não posso dizer agora. - ele suspirou devagar, como fazemos em situações realmente complicadas. - Não sei se consigo fazer isso.

Olhei para ele e sem dizer nada entrelacei nossas mãos, desejando que esse momento durasse para sempre. Desejando que eu jamas tivesse que soltá-lo.

- Me conte quando estiver pronto. - eu disse baixinho, e quando ele olhou para mim pude ver o quanto minhas palavras significaram em seus olhos. Naquele instante foi como se uma onda de tristeza tivesse invadido o meu peito. E se eu não for capaz de salvá-lo?

Ficamos em silêncio até o doutor Dan abrir a porta e chamar por Harry. Ele se levantou sem olhar para mim e seguiu diretamente até a sala, como se não quisesse que eu visse o medo estampado em seu rosto. Eu ainda sentia nossas mãos entrelaçadas, por mais que seu toque já não fosse mais presente.

Tentei voltar a atenção para os meus sapatos novamente, mas minha mente estava concentrada demais pensando no que estaria acontecendo dentro daquela sala. 

Estava tudo tão silencioso que eu podia ouvir meu batimento cardíaco. Meu coração parecia mais acelerado do que o normal, como se já pudesse prever o que viria em seguida. Agarrei os braços da cadeira com força quando ouvi seu primeiro grito. E não era um pedido de ajuda ou um grito de dor. Ele estava chamando o meu nome.

Não havia mais ninguém na sala de espera, exceto eu. Mas tudo a minha volta parecia estar girando, e pensei que eu fosse cair na metade do caminho que separava a minha cadeira e a porta da sala. Fiquei parado do lado de fora, o suficiente para que eu pudesse ouvir toda a conversa. Mas eu estava impotente para fazer alguma coisa, qualquer coisa.

- Me diga o que aconteceu naquele dia. - Era a voz do doutor Dan. Ele parecia calmo, o que contrastava com os soluços altos de Harry. 

- Eu não posso.. - ele estava apavorado, com medo ou preso em um profundo sofrimento. Não sei qual dessas três opções se encaixariam mais.

- Não há nada que esteja te impedindo de falar. - Dan parecia mais sério dessa vez. - Ninguém aqui vai te machucar.

- Ela.. - Harry soluçava cada vez mais alto. - Ela estava no balanço.

Prendi a respiração, mas meus ouvidos permaneceram em alerta. Como se ja prevessem o que ele diria em seguida.

- Quem? - Dan perguntou, mantendo seu tom de voz.

- A irmã dele. Eu a vi pouco antes dela morrer.

Sempre me perguntei como era possível o corpo de uma pessoa se desligar automaticamente, mas seu coração de alguma maneira continuar batendo. Como quando eu desmaiei ao ver o corpo de Lottie já sem vida. Ou quando recebi a confirmação de que ela havia realmente partido. Essa seria uma maneira de evitar um sofrimento ainda maior? É como se a sua mente soubesse que seria melhor apagar de uma vez do que enfrentar o choque. E agora, parado do lado de fora da sala, com as palavras que acabei de ouvir, me pego pensando nessas perguntas novamente. Sinto que estou caindo, caindo, caindo. E tudo a minha volta não faz mais sentido algum. Não consigo dizer se estou em um hospital, na minha casa ou em um parque. Talvez eu esteja nesses três lugares ao mesmo tempo, ou talvez em nenhum deles. Estou de joelhos no chão agora, e sinto como se as paredes ao meu redor tentassem me engolir. Reparei quando a porta da sala se abriu rapidamente. Talvez o barulho da minha queda tivesse sido mais alto do que eu imaginava. Eu não podia ouvir som algum. Olhei para cima e o avistei parado bem na minha frente. Senti como se eu tivesse voltado no tempo, há três anos atrás. Vi o deslumbre de seus olhos verdes preocupados e compreensivos - como se ele entendesse a minha dor. Pude ler em seu semblante as palavras eu sinto muito, por mais que sua boca não estivesse se mexendo.

E tudo o que vi depois foi meu mundo desaparecendo aos poucos, até que eu me entregasse de vez à escuridão.

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