Harry's POV
flashback on
Eu estava em um parque.
Eu sabia disso porque podia ouvir a risada das crianças, as conversas aleatórias de seus pais e o som que tudo isso fazia quando se misturava.
Sentei em um banco de frente para um pequeno balanço, que por alguma razão estava vazio.
Não sei ao certo por que resolvi passar por esse parque primeiro. Eu havia saído a pé de casa, com o plano que eu já planejava há alguns meses fresco em minha mente.
Mamãe olhou para mim como sempre fazia; como se fosse pela última vez. Dei um beijo em sua bochecha e disse que a amava, pois eu sabia que não teria mais uma chance para isso.
Antes de sair de casa passei pelo quarto de Gemma.
Bati na porta como de costume, embora eu soubesse que ela não estaria lá para dizer alguma coisa. Entrei devagar, na pontinha dos pés, como se não quisesse acordá-la. Mas ela não estava dormindo.
Acendi o abajur que ficava ao lado de sua cama. Uma luz amarela clareou o quarto, e foi o suficiente para que eu pudesse ver. Todas as fotos que haviamos tirado quando eramos pequenos, em cada canto coladas em todas as paredes.
Havia sido um longo processo. Todo domingo eu me trancava em seu quarto, embora mamãe dissesse que aquilo não me ajudaria. Ela estava certa, mas não completamente.
Eu sabia que não havia nada capaz de me ajudar.
Eu começava sempre as dez da manhã, imprimindo e colando foto por foto. Agora não havia mais nenhum espaço.
Eu esperava que aquilo trouxesse algum conforto para mamãe quando eu resolvesse partir também, e observando agora eu havia feito um bom trabalho.
Desviei o olhar no momento em que estava prestes a encontrar a última foto que tiramos. Foi na sua festa de aniversário. Eu tinha 10 anos e Gemma estava fazendo 14. Ela estava linda, usando um vestido azul e um salto da mesma cor. Eu estava bem ao seu lado, sorrindo como se a vida realmente valesse a pena.
Mas três meses depois ela se foi. E eu sabia que a culpa havia sido minha.
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Encarei meus sapatos por um tempo. Minha cabeça estava girando, mas eu não podia voltar atrás agora.
Hoje era um dia feliz. Eu não poderia escolher outro dia da semana para partir.
Talvez, se eu morresse hoje, alguém se lembraria do meu sorriso ao invés das minhas lágrimas.
Meus amigos fariam um discurso em minha homenagem, sem mencionar o garoto depressivo que eu costumava ser seis dias por semana.
Levantei a cabeça e senti meu coração acelerar no peito no instante em que eu a vi. Talvez eu estivesse tão perdido em pensamentos que mal havia percebido sua aproximação.
A garotinha parecia ter uns sete ou oito anos, e estava se balançando sozinha. Seus grandes olhos azuis estavam fixos em mim, mas ela não dizia nada. Eu tentei desviar o olhar, mas parecia impossível. Era como se ela soubesse o que eu estava prestes a fazer.
Ela continuou se balançando, cada vez mais alto, e por mais que eu nem sequer a conhecesse aquilo já estava me deixando preocupado. Mas eu não poderia mudar meus planos agora. Ela continuava me olhando, como se estivesse tentando entrar na minha mente.
Olhei para o relógio e vi que os vinte minutos que eu havia cronometrado haviam se passado. Levantei ainda com os olhos fixos nos dela, puxando as mangas de meu casaco.
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Haunted Sundays
FanficQuando uma tragédia acontece, a única maneira de conviver com a dor é buscar uma estratégia dentro de si mesmo. Para Louis era assim que acontecia: todos os domingos serviam como uma forma de punição para lembra-lo da culpa que lhe consumia. Até que...