Capítulo 10

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Rio de janeiro, agosto de 2014

Karen

Chutei mais um idiota para fora da minha vida e daquela vez jurei para mim mesma que estava acabada essa história ridícula de querer encontrar o amor, bobagem, essa merda não devia existir, tudo invenção de poeta para vender livro e música!

Ano após ano eu tentava fazer dar certo com alguém, vislumbrar um tipo de futuro, crescer e amadurecer junto, mas os caras não ficavam maduros, eles apodreciam e caíam, de verdes para totalmente estragados, e eu pensei que ou eu arrumava um homem de verdade, mais velho, para a próxima tentativa, ou era melhor deixar quieto e focar na carreira que estava mais constante e segura, agora.

Passada toda a dor que foi perder o vô Omero e ver aqueles filhos da puta sem coração levar o Bê ao tribunal para tentar arrancar a migalha que o vô deixou pra ele de herança – sério, o que era aquele apartamento e uns trocos perto da fortuna que a Novaes e Sá tinha em imóveis e ações?

Vi com orgulho meu amigo dar a volta por cima e Dani, que ainda trabalhava no Sacrilégio, conseguir finalmente uma vaga fixa pra gente lá e estávamos ganhando um bom público no lugar.

Até que o sem noção estava dando umas dentro e a principal delas foi aconselhar o Bernardo a arrumar uma roommate, o cara era só elogios para a tal Flor de Liz que vinha do interior de São Paulo e eu ia conhecer a garota naquela noite, eles tinham arranjado para ela uma substituição para servir no bar e eu estava curiosa para ver de perto com quem é que o Bernardo estava dividindo o apartamento.

Tocamos e eu vi a garota de cabelos vermelhos, muito bonita, mas com um jeitinho simples demais pro meu gosto, acompanhar como pode a nossa apresentação e depois, ser apresentada para todos nós.

Claro que o Dani cantou a menina – aquele lá arriscava com qualquer rabo de saia que aparecia na sua frente, deixando-a totalmente constrangida e até o Nick andou se insinuando pra ela e eu sabia, aquela tinha cara de santa, um bissexual seria muito pra ela!

No fim, amei e achei graça do cascudo que o Bê aplicou no Dani, bem feito sem noção! E estava indo embora feliz da vida quando o próprio veio atrás de mim, na rua já quase vazia.

___ O que achou da tal roommate? – pergunta, me alcançando e seguindo meu ritmo, pois eu não parei.

___ Ah, sei lá, meio tímida acho! E você também, tinha que fazer a coitada passar vergonha!

___ O Bernardo está parecendo um galo protegendo a ninhada com ela!

___ Essa é a analogia mais ridícula que eu já ouvi em toda a minha vida! - rio dele que acha ruim, fazendo cara feia – É a galinha quem protege a ninhada, ô sem noção! Como todos os machos inúteis, os galos não fazem mais nada a não ser participar, rapidamente e sem qualquer dedicação ao prazer feminino, da concepção!

___ Ah, mas que amargura de fêmea mal comida que você fez agora, hein louraça! Qual é, nenhum dessa fila de namorados que você andou arrumando ultimamente empatou o placar?

Paro de andar e o encaro, pensando no que eu vou fazer para castiga-lo já que tocou no único assunto proibido entre nós: o fato de que esse filho da puta já me viu pelada!

___ É verdade isso que você disse, Dani! Há anos venho tentando, em vão, encontrar uma vara mais maravilhosa do que a sua para que eu possa sair do zero no meu placar! – cantarolo e tá tão na cara que é mentira que ele fecha o cenho, sem achar graça.

Claro que eu gargalho escandalosamente da sua cara de idiota:

___ Nos seus sonhos, Romanesi! – aperto o queixo dele e saio, sem olhar pra trás.

Ele nunca precisa saber que bem, não que eu tenha realmente ficado no zero, mas que nunca mais tive uma foda épica como a que tive com ele, isso... infelizmente, é verdade!

Rio de janeiro, dezembro de 2014

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Rio de janeiro, dezembro de 2014

Dani

Nosso canal no youtube estava crescendo. Muito, vertiginosamente e eu estava vibrando pra caralho com essa vitória.

Trabalhar no bar do Sacrilégio me ajudou a conhecer muita gente, uns só prometiam e nada faziam para ajudar a B.D.K.N. Blues a sair no anonimato, mas outros, viam nela o potencial que a gente sabia que tinha.

Um cara que manjava de gravações, edições e internet tinha topado filmas nossas apresentações e fazia um trabalho massa, alimentando o canal com nossos covers e até, as originais que sempre tocávamos por ali e que já tinham seus reconhecimentos entre os frequentadores mais assíduos.

O Bernardo tinha composto letras espetaculares nos últimos seis meses, desconfiava que alguma coisa tinha a ver com a Florzinha do interior que era letrada e versada em prosa e poesia, mas ficava na encolha que eu que não sou idiota de cutucar onça com vara curta, mas que tinha alguma coisa ali, isso tinha!

Quando o convite para tocar na festa de confraternização da Novaes e Sá chegou, o Bê já ia dizer um grande "não" logo de cara, odiava aquela gente, mas a louraça fez um excelente trabalho em convencer o cara de que aquela era uma boa oportunidade de ganhar o nosso honestamente e na real, eu estava precisando muito!

O filho da puta do Robero Vitti, vulgo, meu pai, tinha acabado de falir o restaurante e mal estava contribuindo com porra nenhuma no sustento da filha, fazendo aumentar ainda mais a minha carga e da minha mãe.

Eu tinha passado a ganhar mais, tocando fixo no Sacrilégio, mas ainda não era lá grandes coisas e uma despesa a mais pesava pra cacete.

Também estava fazendo sonorização em qualquer lugar que pagasse, sabia que tocaria a tarde toda em Copacabana se fosse preciso, mas não queria tirar a minha irmã da escola boa e bem, ela ia entrar no ensino médio no próximo ano e a mensalidade ia quase dobrar.

Então quando apareceu a oportunidade de fazer esse bico, que pagava muito bem, eu ia implorar pro Bernardo aceitar de qualquer jeito, mas graças a Deus a louraça evitou a minha humilhação.

Não que ela não adorasse me humilhar e jogar na minha cara que estava feliz e satisfeita com os Manés que trazia para a sua vida, em todas as oportunidades que pudesse e principalmente, quando ficávamos sozinhos.

Eu tinha uma regra que era não me meter com mulher dos outros, mas agora que ela estava sozinha há uns bons meses, a tentação estava me rondando.

Porra, fazia anos que a gente não tinha nada, o relacionamento da banda estava nos trilhos, as coisas progredindo, mas sabe o capeta? Sim, aquele mesmo que era parente de primeiro grau da Louraça Belzebu arrasa quarteirão? Sim, ele soprava no meu ombro esquerdo todas as vezes que eu me via sozinho com ela:

"Olha como ela está mais bonita! Porra, está gostosa até dizer chega! Os traços de menina sumiram, se transformou num mulherão da porra e se já era um furacão na cama tão novinha, imagina agora, que tem muito mais experiência!"

É, quando rolou ela tinha dezoito, dezenove no máximo. Agora já estava vinte dois ou três, era mulher feita, causando furor no palco ou fora dele.

Eu sabia que aquela atração sempre tinha que ser contida, tinha me acostumado a isso com o passar do tempo.

Mas o fato dela estar solteira fazia algo gritar em mim, algo bestial e até mesmo masoquista, merda, merda era o que podia sair de um novo envolvimento entre nós!

Mas que eu queria aquela mulher, isso, eu queria! 

Blues e Impetuosidade (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora