Capítulo 18

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São Paulo, novembro de 2015

Karen

Gravar até que é divertido, me interesso muito pela produção de som e conheço gente superinteressante, profissionais da área que manjam pra caramba de música e as semanas em São Paulo vão passando tão agitadas que eu nem percebo.

Mas também, não é como se tivesse deixado alguém importante no Rio – tirando Flor de Liz e algumas colegas, todo mundo da minha convivência está aqui e as coisas fluem com facilidade.

Resolvi que detesto a namorada do Bernardo, mas vou ficar bem quieta a respeito disso, a escolha é dele, afinal! Mas ela se mete no estúdio e parece estar em todo lugar e isso é bem irritante, por crer!

Mas não mais irritante do que o sem noção do Romanesi, que atormentou como um louco a nossa vida para estar aqui e agora, parece meio puto metade do tempo.

Não é como se ele estivesse sofrendo para fazer o seu trabalho – o cara é bom no faz! – mas ele anda afastadão do grupo, indo pro hotel antes de todo mundo, recusando até a balada que o Carlos convidou a gente para ir – o que é raro!

Não quero que pareça que eu estou prestando atenção nele em excesso, então também fico na minha.

Mas poxa, estamos dentro de um estúdio praticamente lado a lado todo dia por semanas, não tem como não sacar que tem algo errado!

Dani nunca foi meu amigo, de se abrir, saca? Mas caramba, convivo com o cara há anos e estou até bolada com esse jeito dele.

Não que esses homens da B.D.K.N. sejam versados em sensibilidades – de todos, só o Nick fala de sentimentos e planos pro futuro e ele está fazendo todos os possíveis ao lado de seu boy de elite.

Sei que a mãe do Carlos é uma perua da pior qualidade e que ele vai cortar um dobrado com essa sogra, mas... Sempre acabo brincando com ele que "só o amor constrói" e bem, acredito nisso, mesmo.

Ainda que o amor romântico esteja totalmente em baixo para mim (não aparece ninguém que me desperte o interesse há séculos!) mas eu acredito sim, que a gente pode ser feliz com alguém.

Não posso levar o casamento dos meus pais como exemplo, ou do meu pai com a mãe do Bê, óbvio, mas tem muita gente que constrói uma vida feliz ao lado de alguém.

É claro que todo mundo comete seus erros e não existe vida perfeita, mas eu lembro do vô Novaes comentando sobre sua Maria Luíza e como foram felizes, mesmo criando cinco moleques infernais! Ele sentia muita falta dela e também se arrependia muito de não ter passado todo o tempo possível ao seu lado – trabalhava muito erguendo a construtora e viajando pelo país e ela sempre ficava em casa com as crianças.

Mas eu acho que tiveram um amor bonito... Com certeza, construíram tudo o que tinham, juntos.

Suspiro e tomo um gole da minha long neck – estou no terraço do hotel onde estamos hospedados, a maior capital da América Latina se estende em milhares de luzes a minha frente e é uma linda visão.

Acho que é por isso que estou tão nostálgica e pensativa, sei lá, gravar esse disco pode ser o ápice da minha vida e eu estou aqui, sozinha, sem ninguém íntimo o suficiente para dividir isso.

Já estou quase me levantando e indo até o bar quase vazio a esse horário para buscar outra cerveja, quando alguém despenca na cadeira ao meu lado, me assustando.

___ Mas o que... Porra Romanesi! Quer me matar do coração? – reclamo, levando uma das mãos ao peito.

___ Não acho que você tenha um para morrer por ele, louraça! – ele fala arrastado, merda, Dani está muito bêbado!

Blues e Impetuosidade (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora