Detenção (Sunset Shimmer X Twilight Sparkle)

XX

POV SUNSET

Eu não sabia como eu havia me metido naquela situação. Digo, eu poderia ter virado a cara quando vi Twilight conversando com um garoto no corredor, mas por alguma razão eu fiquei onde estava para observar. Talvez fosse curiosidade, ou talvez eu só não confiasse nas caras que ele fazia. Também não foi difícil escutar a conversa deles, mesmo com o som alto eu consegui prestar atenção quando ela aumentou a voz e disse que não queria conversar. Assim que ele pegou no pulso dela, senti nojo, e minha primeira reação foi detê-lo. Foi extremamente satisfatório tirar aquele sorrisinho do rosto dele.

Entretanto, depois de toda a cena, eu encontrei os olhos de Twilight. Ela estava perdida, e eu também. A atitude de Timber realmente era repulsiva, e eu já havia lidado com situações assim antes, mas nunca tinha agido de forma tão brusca antes. Aquela troca de olhares me despertou muitas emoções, que eu sequer sabia dizer quais. Culpa, estresse, poderia ser qualquer coisa. O importante é que eu precisava sair dali, eu estava muito eufórica, situações inéditas como aquela me davam dor de cabeça.

Lembro-me de Pinkie me perguntar se eu estava bem e eu brevemente dizer que iria para o terraço. Ela concordou imediatamente e pôs uma mão amiga no meu ombro. Subi às escadas e entrei na pequena portinha com uma escada de mão, que levava até a parte de cima da casa.

O terraço da casa de Pinkie sequer podia ser chamado de terraço. Não era parte de casa de fato, mas era um lugar legal para se ir de vez em quando. Era como uma grande varanda sem qualquer mureta ou proteção. Quando eu passava o ano novo na casa de Pinkie, já que eu não tinha com quem passar, costumávamos arrumar algumas cadeiras e almofadas para vermos os fogos que os outros soltavam.

Certifiquei-me de levar uma garrafa de cerveja comigo. Sentei-me na borda, deixando as minhas pernas suspensas. Observei o céu por algum tempo, mal havia nuvens. A luz da lua estava forte e iluminava muito bem a cidade.

Escutei passos leves atrás de mim, hesitantes. Dei uma breve olhada de canto, vendo que a pessoa que vinha era claramente Twilight. A luz da lua ajudava bastante. Ela sentou do meu lado, em silêncio, apenas observando o céu, assim como eu. Com uma certa insegurança, estiquei a garrafa de cerveja para ela.

– eu não bebo – respondeu com um sorriso – mas obrigada.

Tomei um gole e segurei a garrafa acima das minhas coxas, fitando-a. Não sabia ao certo o que dizer. Um breve flashback passou pela minha mente, da nossa conversa na biblioteca.

– Parece que você não tem uma vida perfeita, como a que eu te acusei de ter aquele dia – dei um sorriso de lado.

– É, eu acho que não – ela deu um sorriso triste – mas não acho que alguém tenha uma vida totalmente perfeita.

Levei a garrafa aos lábios novamente. Se a minha sobriedade de fato iria se extinguir, seria naquela conversa. O silêncio perdurou outra vez.

– Obrigada, pelo o que você fez – ela ainda não olhava para mim – eu poderia ter Fluttershy ali comigo, mas acho que ela estava mais assustada do que eu para fazer alguma coisa, e acho que mais ninguém teria tal atitude.

– Eu costumo agir mais do que pensar – admiti – mas não acho que pensar naquele momento seria tão efetivo.

– Concordamos nisso – Twilight deu um risada fraca – e levando em conta que eu costumo pensar mais do que agir, você claramente me ganhou nessa.

– Ponto para mim – brinquei.

Twilight olhou brevemente para mim e deu um sorriso tímido, em seguida voltando a olhar para o céu. Observei seu sorriso se desfazer.

– Mas... – hesitou um pouco – eu não pensei direito quando gritei com você na biblioteca.

– Tá tudo bem – dei de ombros – você não sabia.

– Ainda assim – senti seu olhar sobre mim – eu deveria ter pensado melhor, aquilo com certeza te magoou.

Fiquei sem resposta. Twilight estava sendo tão gentil que eu não queria admitir que aquele momento havia me rendido umas boas horas de insônia e choro silencioso. Entretanto, meu silêncio parecia ter dito exatamente isso a ela.

– Eu queria ter me desculpado antes, mas eu tinha medo das coisas – escutei-a suspirar – não saírem bem.

Twilight encolheu os dedos, apertando-os contra a palma da mão. Percebi que suas desculpas e sentimentos eram sinceros.

– Obrigada – soltei.

Ela rapidamente virou seu rosto para mim. Encarei-a, com um sorriso tranquilo no rosto.

– Significa muito para mim você vir falar comigo depois de tudo – admiti – eu perdi a conta de quantas vezes as pessoas me magoaram e sequer deram uma desculpa falsa.

– Se me permite dizer – Twilight deu um sorriso – as pessoas são babacas.

Trocamos sorrisos de conforto. Permiti a mim mesma brincar um pouco.

– Eu esperava algum palavrão, ou algo assim – debochei – essa é a palavra mais vulgar que tem no seu vocabulário?

Twilight deu uma risada e um sorriso travesso tomou conta do seu rosto.

– Ei, eu sei xingar, apenas reservo para situações mais... sérias – afirmou.

– Só me resta imaginar que tipo de situações seriam essas – brinquei.

– Exatamente – Twilight deu um sorriso confiante.

Ficamos em silêncio mais uma vez. Não era mais um silêncio que incomodasse, na verdade, a sensação da quietude ao lado de Twilight não era nem um pouco ruim. Escutei as batidas da música alta. A festa provavelmente ficaria na ativa até mais algumas horas.

– Aparentemente o pessoal vai ficar até o sol raiar – escutei Twilight comentar.

– Bom, o pessoal gosta de uma boa festa – dei de ombros – e de uma boa música.

– Você não vai dançar mais? – perguntou – você parecia estar bem animada dançando com a Pinkie.

– Não, eu tô bem aqui em cima, com a melhor companhia do mundo – falei.

Twilight ficou com as bochechas ruborizadas e desviou o olhar. Dei uma risada e levantei a minha garrafa.

– Essa companhia é excepcional – tomei outro gole, deixando a garrafa na metade.

Twilight deu uma risada fraca e revirou os olhos, com um semblante tranquilo no rosto. Recebi um soquinho seu no meu braço.

– Besta – brincou e fingiu se preparar para sair – acho que posso ir embora então, e deixar você com a sua super companhia.

– Ah, para, fica – dei risada – sua companhia é tão boa quanto a da garrafa.

– Jura? – arqueeou uma sombrancelha.

– Juro – deixei a minha garrafa de lado – e então, vai continuar me fazendo companhia?

– Já que você insiste – ela riu e se ajeitou novamente do meu lado – e então, o que quer conversar?