Eu não preciso de uma babá

27 1 0
                                    

   Se você perguntar para um paraquedista ou a um piloto de corrida qual era a sensação quando se salta ou está no carro, a resposta será a mesma seus corações estão a mais de mil, a adrenalina corre em suas veias como o próprio oxigênio, o tempo passa mais devagar e mesmo que por segundos, é como se voar fosse possível.

Se você perguntar ao amor da vida dessas pessoas, as respostas serão quase que iguais. O coração fica a mais de mil, a adrenalina corre em suas veias como oxigênio, o tempo passa mais devagar mas tem uma diferença, eles tem a certeza de que voar não é possível e ter medo pelo que pode acontecer se seu companheiro tentar contradizer está certeza.

Talvez essa fosse a maior maldição existente quando se ama alguém, temer por outra vida de forma tão intensa que dói. Se sentir sufocado mesmo podendo respirar, apenas por não ter notícias da outra pessoa. O amor nos torna vulneráveis pois é possível ferir uma pessoa e a outra tomar para si as dores.

Esse sentimento, a antecipação da perda, estava presente em todos do grupo naquela noite.

Seja por seus companheiros, família ou amigos que poderiam perder se algo desse errado. Mas nada tinha o direito de dar errado aquela noite, por isso Meredith e Amelia conhecendo Addison, mandaram alguém que a vigiasse. A obstetra tinha um costume de ser teimosa quando se tratava daqueles que amavam, mas a Grey e a Shepherd não correriam o risco de a perder também.

E foi dessa forma que a ruiva se encontrou no último lugar que gostaria de ir, o trailer de Derek Shepherd. O único que conhecia as técnicas da Montgomery e seria capaz de impedi-la sem ser dissuadido a deixar que ela fosse ao hospital.

_ Isso é ridículo, eu não preciso de uma babá muito menos ela sendo você, Derek. Admita você adoraria que eu fosse mandada ao inferno, não cansa de me chamar de Satã no hospital.

Se os braços cruzados de Addison não eram uma indicação de sua indignação, o rítmico som de seu salto batendo contra o assoalho do trailer, certamente era. Já não bastava a preocupação com sua namorada, ter que ficar confinada no meio do mato com o mais egocêntrico dos Shepherd, sem poder fazer nada se algo ocorresse a Meredith, era uma tortura.

_ Eu não te odeio, Addison, te acho uma vadia insensível que roubou meu melhor amigo, minha namorada e minha irmã? Sim mas não te odeio o suficiente para querer que você fosse mandada para o submundo. E sejamos sinceros, eu não estou fazendo isso por você. Pode até não parecer mas eu reconheço o quanto elas te amam, sei que Amelia nunca superaria perder alguém da família de novo e Meredith nunca me perdoaria se você morresse. Isso é por elas e não por você.

_ Bom, já temos um progresso, é impressionante o quão fácil é chamar uma mulher de vadia. O quão fácil foi esquecer que um relacionamento exige responsabilidade de ambas as partes, eu posso ter sido a pessoa a colocar a última pá de terra no túmulo do nosso casamento, mas não cavei aquela cova sozinha, Derek.

_ Se você tem algo a dizer, fale de uma vez, Addison, é disso que você gosta não é? Um bom palco para fazer seu show? Pois então estou te dando uma platéia, fale logo o que você tanto quer.

_ Tenho então a permissão de vossa magestade para dizer tudo? Então aqui vai. Você nunca me amou, eu fui cômoda para você, um corpo quente que você pudesse fuder e um rosto bonito que você pudesse se gabar para seus amigos. Quando você estava nos seus melhores momentos, não era meu nome que você dizia, seus Eu te amo nunca foram mais do que palavras. E eu admito que te usei também, eu te usei como forte seguro, como um lugar para guardar meu coração e vou então agora te pedir perdão por ter achado que poderia confiar essa parte de mim a você. Você não me odeia porque eu te trai, você me odeia porque Mark preferiu ir a cama comigo do que com você. Acha mesmo que eu não sei em quem você pensava enquanto se masturbava tarde da noite quando achava que eu estava dormindo. Eu te trai fisicamente, mas muito antes disso, você já havia me traído emocionalmente, Derek. Meu maior arrependimento foi ter te traido antes de nos separamos. Eu não me arrependo de dormir com o Mark, ele me deu muito mais do que você poderia um dia e eu não estou falando apenas de orgasmos, ele foi um amigo, um conselheiro e um ajudador quando você nem mesmo quis tentar. Sinceramente, minha raiva é você ter a cara de pau de me chamar de vadia quando fez muito pior não somente comigo como com você também. Um dia você deveria parar de tentar mentir pra você sobre quem você é. Talvez nesse dia, possamos nos tornar os amigos que uma vez pensamos ser antes de nos casarmos.

Após as palavras de Addie, foram longas e silenciosas horas em que tudo o que os dois fizeram foram se encarar até que o telefone de Addison tocasse, a voz do outro lado da linha era desesperada, confusa e embargada em choro mas a ruiva pode entender, algo deu errado no ritual. Derek não foi rápido o suficiente para impedir a vampira de sair do trailer mas conseguiu chegar ao carro antes que ela fosse embora.

_ Addison, o que aconteceu?

_ Meredith e os bruxos, algo deu errado, eles não acordam.

O neuro entendeu a gravidade da situação e entrou no carro também. As luzes da cidade eram como vultos esbranquiçados e inconstantes enquanto Addison quebrava todas as leis de trânsito existentes para poder chegar ao hospital. As estrelas brilhavam no céu, ainda era cedo demais para o sol nascer, a lua resplandecia, um clima de paz que contrastava com o turbilhão enevoado que era a mente de dos médicos do Seattle Grace. Quando o ex casal chegou ao hospital correram para o terceiro andar, era para lá que haviam levado os bruxos. A cena era como de um pesadelo. Jo abraçando fortemente Alex, como se apenas o contato de seus corpos fosse capaz de lhe trazer certeza de que era real, que ele estava vivo. Arizona fazia um curativo sobre o bíceps do braço direito de Callie, ambas banhadas de sangue da ferida provavelmente. Mark tentava consolar Andrew que compulsivamente passava as páginas de velhos livros que estavam espalhados pelo chão. Amelia chorava copiosamente em um canto, sua respiração era falha como se estivesse se afogando e nem todo o ar do mundo fosse capaz de impedir que seus pulmões se encherem de água, era como ver alguém lutando contra fortes ondas e saber que era questão de tempo para que ele perdesse todas as forças e se deixasse ser puxado para o fundo do mar.

O estado dos bruxos era ainda pior, pálidos, com olheiras, se não fosse pelo monitor cardíaco, ou a intubação para respiração, passariam por mortos com facilidade. Mas alguém estava faltando, Meredith não estava em nenhuma das enfileiradas camas. E ninguém parecia estar em estado de dizer onde diabos a Grey estava. Addison sentia como se a tivessem jogado de um avião sem nenhum paraquedas. Por mais que ela desejasse voar, por mais que tentasse, ela sabia que a queda estava próxima, o vento a chicoteado, como milhares de navalhas, a questão livre cada vez mais próxima de terminar e por mais que ela tente voar, que ela tente impedir o impacto com o solo, não é possível e ela sabe o porquê, afinal demônios não voam.

Seattle Graceful DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora