A verdade das pontes e sonhos

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   Quando se é um Grey, a morte é sempre uma variável existente. Meu pai um bebido, seduzido por suas próprias paixões, se afogou em álcool e faleceu. Bem, é como penso quando me lembro o quão depressivo ele ficou com o falecimento de Lexie e que bebeu até que nada mais pudesse salvá-lo. Minha mãe por outro lado, quis se fazer imortal. Quebrar as regras, manter seus poderes e adquirir a imortalidade. O alto preço que pagou foi a perda de si mesma, em sua mente, sim ela se tornou imortal, embora lá tenha sido aprisionada. Tecnicamente, ela está viva, apenas não está entre nós. Alzheimer precoce foi o diagnóstico que a deram, nunca poderia estar mais errados. Sim, ela não se lembra mais de mim, de quem eu sou ou de quem ela é, pelo menos não dá boca pra fora, mas dentro de si, ela sabe exatamente o que acontece, quem foi e quem virá a ser. Hoje Ellis Grey, dentro de sua consciência, é o passado, o presente e o futuro, a exata imortalidade que tanto desejou, apenas não dá forma que planejava alcançá-la. De certa forma, é como se ela estivesse morta também.

Eu passei de ter dois pais, a ter uma mãe, de ter uma mãe a ter ninguém, de ter ninguém a ter uma irmã e por pouco tempo um pai, até que voltei a ter ninguém. Bem, pelo menos foi o que eu pensei. Mas repensando, em todos os momentos, todas as mortes e perdas, havia outra constante além de mim, Addison. Meu doce anjo da morte. Em todos os momentos lá ela estava. As vezes me pergunto se foi isso que a atraiu a mim, a morte que corre em meu nome e veias. Faz sentido que até a mais bela das criaturas da noite como ela acabasse por ser atraído a minha mórbida vida. Por mais que eu pense em como eu estava sozinha, lá ela estava, respeitosamente aguardando, até que eu a permitisse se aproximar, até que eu me permitisse por ela ser amada.

Quando eu dei a ela essa permissão, quando me abri e a ela me entreguei, acho que foi quando percebi a vida verdadeiramente, foi como sentir o mundo pela primeira vez. A visão é algo engraçado, muitas pessoas pensam que cegos vêem apenas o preto, apenas a escuridão, é um pensamento comum mas irreal. Quando lhe falta a visão, você não vê o escuro, você não vê. Se sua visão não funciona, seu cérebro não sabe o que é escuridão, tanto quanto não sabe o que é luz, tais conceitos não existem, não fazem sentido para ele. Quando não se pode ver, você não deixa de enxergar, você apenas aprende a absorver o mundo de uma nova forma. O calor, a pressão, o som, o cheiro e a textura, são as formas com quem você vivencia o mundo. Muitos quando descrevem o amor, dizem sobre ver melhor as coisas, sobre como tudo ganha mais cor entre essas coisas. Isso não aconteceu comigo e com Addison. Não houve milagre, não houve abrir de olhos, não houve um "haja luz" ou um milagre. Nada disso aconteceu. A pequenos passos, aos poucos, em curtos e contínuos momentos, eu não pude começar a ver o mundo, mas aprendi a apreciar-lo apesar da minha situação. Mesmo sendo um ímã da morte, Addison me ensinou a desfrutar da vida. Eu ainda era cega, por assim dizer, eu ainda tinha minhas limitações, isso não mudou. O que mudou foi que com ela aprendi novas formas de viver o que sempre me privei por conta da minha situação. Eu ainda sentia a morte e a tempestade onde quer que eu fosse, mas aos poucos pude sentir outras coisas também. Pude sentir o frio na barriga quando ela sorria pra mim, pude sentir o aperto no peito quando ela estava triste, pude sentir o aquecer de meu peito quando encontrava seus olhos a olharem para mim. Com Addison eu aprendi que não precisava de ter o que os outros tinham para poder viver, eu poderia viver como eu era e que não havia nada errado com isso, que eu não precisava me isolar. Embora eu não fosse perfeita para muito, eu era perfeita para caber no coração de minha amada.

Por um bom tempo me perguntei, qual será o meu destino? Como estou destinada a terminar? Serei alguém que como meu pai não suportará todas as coisas e se entregará a prazeres até que os mesmo me destruam? Serei como minha mãe que desejava tudo ter, todo o tempo, todas as sensações e acabou por conseguir o que queria e se afundar em suas próprias vivências? Vou terminar sozinha como Lexie? Terei um fim triste? Um fim doloroso? Talvez o meu fim seja uma combinação de todos esses? Qual será a verdadeira sensação de estar nos braços da morte? Sentirei medo? Sentirei alívio? Como eu terminaria durante muito tempo foi algo que me perguntei. Isso até a encontrar, quando a encontrei, quando vi Addison Adrianne Forbes Montgomery verdadeiramente, eu não queria saber mais o meu fim, eu tinha uma nova fonte de divagações. Como eu poderia iniciar uma vida com ela? Seria esta vida regrada de alegrias? Seria ela o suficiente para me preencher? Eu seria o suficiente para fazer o mesmo por Addison? Eu passada madrugada, quando não operando, imaginando como seria estar com ela. Tudo o que eu queria era poder respirar. Se por muito tempo pensei em como morrer, agora eu queria viver. Eu queria saber como respirar para estar viva ao lado dela.

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⏰ Última atualização: Jun 23, 2020 ⏰

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