Capítulo 2

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"Welcome to your life

There's no turning back"

Everybody Wants To Rule The World – Tears For Fears


Observei as árvores distantes conforme o avião subia, as vinícolas e construções rústicas sumiam aos poucos.

Olhei para o lado e Rachel, com seus fones de ouvido, já dormia com a boca parcialmente aberta.

Ri sozinha da forma leve e despreocupada com a qual minha amiga sempre lidava com todas as situações.

Não que estivesse preocupada, mas a partir de agora as coisas seriam diferentes, tínhamos que levar tudo mais a sério.

Estávamos deixando tudo para trás. As bagunças no dormitório e os telefonemas para minha mãe quando precisava de mais dinheiro.

Nos últimos anos havia feito o mesmo trajeto diversas vezes, do aeroporto de Santa Rosa para Nova Iorque e vice-versa, sempre que voltava para casa encontrava dona Margot radiante me esperando em seu Volvo que já não era tão novo.

Mia bambina ela gritava em seu típico tom de voz, bem italiano e bem exagerado, fazendo todos olharem para nós. O trajeto curto de Santa Rosa a Healdsburg regado a fofocas da cidade e gargalhadas escandalosas.

Passávamos todo o tempo que podíamos juntas, rindo, ouvindo músicas antigas e tomando chá na cadeira de balanço que ficava na varanda da nossa casa.

Cada momento com ela era um presente. Sempre fomos tão unidas, inseparáveis eu diria. Até o dia em que a separação foi inevitável.

Não se pode fazer um bolo sem quebrar alguns ovos, nem se realizar sonhos sem fazer escolhas difíceis.

Minha mãe sempre falava tudo nesse tom, uma mistura de metáfora com profecia. E essa fala era o que mais me fazia falta.

Agora voltava mais uma vez para Nova Iorque, só que agora para um apartamento de verdade, com aluguel de verdade para pagar.

O avião pousou. Rachel e eu andamos sem pressa pelo grande terminal, minha amiga porque estava sonolenta e eu porque conferia as mensagens de texto em meu celular.

— Com quem tanto fala nesse celular? — perguntou Rachel bocejando.

— Hum? — respondi distraída — Ah... com Paul, tenho uma turma para amanhã na parte da tarde. Mal vai dar tempo de colocar as coisas em ordem.

— Não reclame, pelo menos você tem um emprego na sua área e poderá usar as salas da companhia para ensaiar e se preparar para audições.

— É verdade, não é o fim do mundo dar aulas de ballet para patricinhas de sete anos.

— Com certeza é bem melhor do que servir café — falou, expirando alto.

— Ah, Rach! O emprego na cafeteria é temporário, quando menos esperar estará atuando e logo depois recebendo um Oscar.

Ela olhou para mim com os olhos arregalados e depois caímos na gargalhada. Enganchou seu braço no meu e saímos em busca de um táxi, a conversa era animada, aquela empolgação de quem está começando algo novo, até o taxista foi envolvido na conversa apesar de não falar bem nosso idioma.

Minutos depois, contemplávamos nossa nova moradia.

Dois quartos, um banheiro, cozinha e sala conjugada. Esse era nosso apartamento.

Apenas Continue Dançando {D E G U S T A Ç Ã O}Onde histórias criam vida. Descubra agora