- Não quero mais isto. - oiço Blue gritar pela centésima vez esta manhã.
Já passou uma semana desde que Jack morreu, Blue continua de luto e chora todos os dias, mas eu compreendo.Saio do meu quarto encaminhando-me para o quarto que agora é da Blue. A única coisa em que reparo quando entro dentro do quarto é no estado lastimoso de Blue, esta encontra-se totalmente lavada em lágrimas, tinha os olhos completamente inchados e vermelhos, duas linhas roxas estão desenhadas por baixo dos mesmo e tem uma lâmina na sua mão. Tenho de a impedir de estragar a sua vida com aquele pedaço de metal, eu sei o quão viciaste aquilo pode ser.
-Blue, para! O que ias fazer com essa lâmina?
Blue tenta esconder a lâmina, mas apercebe-se que já era tarde de mais e começa a chorar ainda mais. Vou até ela é dou-lhe uma espécie de abraço (não sou muito dada a carinho mas...)
Blue funga e começa a falar, interrompendo-se várias vezes para limpar as lágrimas.
-Eu ouvi dizer que isto alivia a dor, e pensei em experimentar -as lágrimas correm-lhe pela cara e Blue limpa-as - o Jack era tudo para mim, nós namorávamos há 5 anos, íamos dia 25 fazer 6 anos de namoro... -as lágrimas continuavam a cair, cada vez com mais intensidade.
E é por isto, por todo este sofrimento, que eu não me quero 'entregar' a algum, não quero amar nem ser amada. É sim, pode parecer muito rude da minha parte eu dizer isto, mas eu já tenho problemas que cheguem, não quero também sofrer por causa de um rapaz.
Abracei a Blue num abraço apertado não ligando para a minha aversão com carinhos. Aos poucos ela foi-se acalmando e eu falei:
-Blue, cortares-te não é solução, não resolve nenhum dos teus problemas, aliás, só te acrescenta problemas. Tu pensas que te esqueces de tudo enquanto fazes isso mas não, tu apenas te concentras na dor mas quando paras de fazer isso, voltas à vida real e voltas a sofrer. Para além do mais, quando começas pode tornar-se difícil parar, acredita no que eu te digo.
Blue olha para mim com cara de quem não está a perceber nada. Ok, não acredito que vou fazer isto, mas Blue pode-se tornar uma boa amiga por isso mais vale dizer-lhe a verdade.
Tirei as pulseiras que cobriam o meu pulso, arregacei as mangas da camisola e deixei-a ver as cicatrizes dos meus cortes. Ao olhar para elas, as lágrimas começaram a cair na minha face sem que eu pudesse fazer nada par as parar.
-Há quanto tempo fazes isso?- pergunta Blue.
-Há muito, muito tempo. Há uns meses apercebi-me que isto não valia de nada e tenho tentado parar, claro que as vezes tenho umas 'recaídas', mas nada de muito grande.
Desta vez é Blue que me abraça. Ugh, demasiados abraços num dia mas, estranhamente, não é tão mau como pensava... Deixo-me estar abraçada a ela enquanto que as duas chorávamos silenciosamente.
-Já percebi que a tua vida não é tão fácil como eu pensava e percebo completamente se não me quiseres contar nada, pelo menos agora, mas eu vou estar aqui para quando quiseres desabafar.
Começo a pensar que Blue poderá ser uma verdadeira amiga, e isso agrada-me mais do que eu pensava que agradaria. Sorrio como forma de agradecimento.
-Azulina, anda para baixo!- gritou Derek da cozinha, suponho.
Blue riu-se com a alcunha que o meu irmão me deu há mais ou menos 1 ano, altura em que decidi pintar o cabelo desta cor.
-Já vou mongolóide!- berro de volta, viro-me para Blue e digo - logo a tarde queres vir comigo ao cabeleireiro? Tenho de retocar este azul que já começa a sair.
-Claro! Assim aproveito e também pinto o meu.
Blue tinha o cabelo comprido, encaracolado e com madeixas vermelhas, super giro.---Na faculdade---
-Bem, já são horas, tenho de ir para a aula. Encontrarmo-nos no bar daqui a três horas?- perguntei a Blue.
Ela assentiu e separamo-nos enquanto que eu me preparava mentalmente para uma aula secante de 3 horas. Ao menos Toby ia ficar à minha beira, ou assim pensava...Entrei na sala e sentei-me nas últimas filas, como de costume mas, contrariamente ao que pensava, Toby não se encontrava lá.
Estava quase a adormecer em plena aula quando sinto algo a bater-me no braço. Um avião de papel, que infantilidade! Reviro os olhos mentalmente.
Abro o avião e vejo a letra do Toby tão conhecida por mim. (Só porque costumo ser à beira dele nas aulas, não se ponham a imaginar coisas!)
"Hey Katy, já estás melhor?"
Rabisquei no papel:
"Sim, já passou. Tal como te tinha dito, era só uma dor muscular."
Mandei de volta o avião, na esperança que o professor não nos apanhasse, caso contrário iríamos para a rua. Pensando bem, não era má ideia, mas eu preciso de passar o curso o mais rápido possível e as frequências estão-se a aproximar.
Nem tive de esperar 2 minutos e já tinha o avião novamente a meu lado.
"Vou fazer de conta que acredito Katherine Wayne!"
Decidi não responder mais e tentar concentrar-me na aula.Suspirava pelo que me parecia ser a milionésima vez só nesta aula. Isto nunca mais acaba! São as três horas mais longas e secantes de todo o sempre! Felizmente falta só meia hora e agora estamos a ver um documentário sobre a economia nos países subdesenvolvidos.
-Podem sair. -a voz do professor fez-se soar por toda a sala.
Estava a chegar ao bar quando ouço Toby a chamar-me, parei e, como ele vinha a correr, rapidamente me alcançou.
-Vais para o bar? -ele perguntou e eu assenti- Posso acompanhá-la minha senhora?
Disse que sim e ri-me com a sua linguagem.
Chegamos ao bar e Blue já lá estava juntamente com um rapaz que é, devo dizer, um autêntico gato! Aproximamo-nos deles.
-Blue, este é o Toby. Toby, está é a Blue.- apresentei-os um ao outro.
-Então tinhas namorado e não me disseste nada? -Blue perguntou com um sorriso fraco.
Eu olhei para Toby, ele olhou para mim e dissemos "Ugh!" ao mesmo tempo. Blue e o seu amigo, até agora por mim desconhecido, riram-se com a nossa reação. Acho que era a primeira vez que Blue se ria desde aquilo...
-Katherine, este é o meu primo, o Peter
-Olá. -eu sorri envergonhada.
Ele sorriu e espetou-me um beijo na cara, sem eu estar à espera.
Corei um pouco. Isto nem parece meu, estar assim por causa de um rapaz. Não sei o que se passa comigo hoje sinceramente...Esperamos que estejam a gostar ❤️
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A culpa é da vida
Teen FictionNós temos sempre de culpar alguém, eu escolhi culpar a vida.